O jornalismo também é feito de iniciativas que visam fazer chegar aos leitores conteúdos factuais, reais e objectivos sobre as diferentes realidades da vida politica, económica, social e cultural de um país. Faz-se estando junto das fontes, dos factos, das pessoas e das comunidades. É comunicação directa que vai ao encontro dos cidadãos. É o jornalismo de proximidade que adoptamos, criando aquilo a que chamamos "redacções itinerantes".

Uma equipa de oito profissionais do nosso jornal está, desde o passado dia 08 do corrente mês, em Benguela, onde permanecerá até ao próximo dia 22. Hoje, os orçamentos disponíveis limitam as saídas das equipas de jornalistas para diferentes pautas. O jornalismo sedentarizou-se e vive-se muito colado às redacções. Apesar das dificuldades, é preciso adoptarem-se estratégias e novas práticas editoriais. Temos a maior parte dos órgãos e jornalistas em Luanda, bem como a maior parte dos conteúdos sobre assuntos ligados à capital. Daí que entendemos haver a necessidade de se "desluandizar" o jornalismo.

O jornalismo está muito reduzido e limitado a Luanda. É preciso trazer ao nosso quotidiano temas mais "nacionais", mais próximos e representativos daquilo que é a nossa realidade e diversidade cultural, social e geográfica. É preciso que haja um maior acolhimento da diversidade de conteúdos que as demais províncias podem oferecer. Normalmente, elas ganham destaque quando são dignas de uma visita do Presidente da República, de ministros ou embaixadores, quando são escolhidas para acolher o acto central de uma data de celebração nacional.

Existem bons exemplos desta "desluandização" em termos jornalísticos, um dos que mais gosto de citar é o programa "Bom Dia Angola", da TPA. Com o pivot central em Luanda, mas juntando a si jornalistas e repórteres de vários pontos do País com uma excelente diversidade de conteúdos. É preciso informar e dar a conhecer novas realidades, de ligar o público ao resto do País.

Benguela foi o "baptismo de fogo" desta nossa iniciativa, dentro das prioridades e possibilidades da nossa agenda, da componente técnica, humana e logística. Pretendemos alargar a iniciativa para as outras partes de Angola. Nestes primeiros dias, já começámos a sentir os efeitos do contacto directo e permanente com os factos, pessoas e instituições. A presença in loco tem-nos ajudado a perceber certas dinâmicas comportamentais e comunicacionais, tudo isso a corrigir erros de abordagem, interpretação e de análise que o "conforto" da redacção habitual não nos permite alcançar.

Nesta edição, apresentamos o primeiro de dois suplementos dedicados à província de Benguela, com trabalho presencial nos municípios de Benguela (município-sede), Lobito, Catumbela, Cubal e Baía-Farta. Destaque particular para as celebrações dos 404 anos da fundação da cidade de Benguela (fundada a 17 de Maio de 1617), que, por causa da crise pandémica, será marcada por certo simbolismo e recato. Tem sido um trabalho exigente e também estimulante para a equipa do NJ, que procura levar aos leitores conteúdos com qualidade, rigor e actualidade, mas que também procura sempre corresponder às expectativas criadas por algumas franjas da sociedade benguelense em torno do nosso trabalho.

Este processo de "desluandização" permite que deixemos de viver colados às redacções e acolhamos outras realidades. Noto o empenho e entusiamo da equipa, a dinâmica incutida e a disciplina exigida. A cultura do compromisso com o seu trabalho, com os colegas e com os leitores tem feito desta "redacção itinerante", um orgulho e certeza de que é possível continuar. Não posso deixar de destacar o apoio e o empenho de João Marcos, o exímio e dedicado colaborador do NJ em Benguela. Ele tem sido uma peça fundamental na concepção e cumprimento da nossa agenda de trabalho.