No outro extremo do mundo, no ano passado, a União Europeia juntou universidades de seis países diferentes, França, Reino Unido, Alemanha, Países Baixos, Espanha e Bélgica, para a discussão e análise do projecto denominado "A caminho de uma diplomacia desportiva da União Europeia", que pode ser resumido na constatação que nele é feita, segundo a qual "o desporto pode amplificar mensagens diplomáticas essenciais para a União Europeia e ajudar a forjar melhores relações diplomáticas e comerciais com outros países".
O desporto ao serviço da diplomacia não é um fenómeno recente que nasce como os exemplos que citei ou com o mundial de futebol do Qatar, com os jogos de inverno de Sochi, com a Chan da Argélia, só para citar estes exemplos.
O período da guerra fria, por exemplo, foi fértil em situações e casos de utilização do fenómeno desportivo como instrumento de influência diplomática e não só entre os dois blocos antagónicos que se revitalizam intensamente há décadas nos mais diversos eventos desportivos.
Cá, entre nós, historicamente, ainda decorriam os primeiros meses da Independência Nacional e, em jeito de agradecimento pelo inestimável apoio prestado por alguns países aliados no duríssimo processo de adesão e reconhecimento do País pela Organização da Unidade Africana ( OUA) e também para denunciar a invasão de que estava a ser alvo por parte do exército do antigo regime do Apartheid da África do Sul, em Fevereiro de 1976 decorreram as denominadas "Jornadas de Solidariedade Anti-Imperialista", um conjunto de eventos desportivos em que tomaram parte países como a Nigéria, de Mortala Mohamed, Moçambique, de Samora Machel, Congo Brazaville, pátria de Marien Ngouabi, e a Argélia, de Haouri Boumediene.
A realização dos segundos jogos da África Central nas cidades de Luanda e Huambo, em 1981, e antes disto, a presença do País nos jogos africanos de Argel de 1978, nos jogos universitários de Nairobi de 1979, onde, pela via do basquetebol e da modalidade triplo salto do atletismo com o atleta Alfredo Melão, conquistámos as nossas primeiras medalhas enquanto País independente; nos jogos olímpicos de Moscovo, em 1980, e a realização neste mesmo ano do campeonato africano de basquetebol em juniores, segundo o livro " Momentos sublimes do desporto angolano", publicado pelos jornalistas Silva Candembo, António Ferreira e Arlindo Macedo, tiveram sempre como objectivo demonstrar um País forte, organizado, socialmente estável, apesar do conflito armado, e decidido a impor-se como uma referência do desporto no continente africano.
O que se constata nos dias de hoje é que o desporto adquiriu uma dimensão global nos últimos anos e, claramente, é um fenómeno social que se desenvolveu com grande intensidade durante o século XX e que, no século actual, se consolidou como um dos elementos de maior interesse e repercussão internacional.
De um ponto de vista económico, o fenómeno desportivo tem uma inegável importância, representando, por exemplo, cerca de 3,5% do PIB da União Europeia e ocupando cerca de 5% da população activa daquele território, o que é ilustrativo da sua relevância em termos de geração de riqueza. Algo que o Cristiano Ronaldo, Kiliam Mbappé ou o Lebron James, com os seus contratos ultra milionários, podem, igualmente, confirmar.
No plano interno, não se pode, de modo algum, ignorar o papel aglutinador que o desporto pode desempenhar nas sociedades, ajudando a mitigar as diferenças políticas, étnicas, geográficas, culturais, etc., fomentando um sentimento de pertença colectiva e de identidade com o país. O slogan da selecção angolana de basquetebol, "um só povo, uma só selecção", diz absolutamente tudo.
Sobretudo pelas vibrantes conquistas do andebol feminino e do basquetebol nas competições africanas, por algumas participações muito bem sucedidas em campeonatos do mundo e jogos olímpicos nestas modalidades ou em outras como o hóquei em patins ou ainda por sermos compatriotas de atletas excepcionais como o Jean Jaques e o Akwá, somos, enquanto angolanos, por diversas vezes muito bem referenciados, sendo este facto um exemplo da força influenciadora positiva que o desporto pode disseminar à escala planetária ao nosso País e aos seus cidadãos.
Por ser Angola um País com uma população extraordinariamente jovem, cerca de 65% tem menos de 25 anos de idade, porque são financeiramente menos exigentes e porque o investimento de base já está feito, penso que, de um ponto de vista estratégico em termos de organização de eventos desportivos de carácter regional ou mesmo mundial, deveríamos privilegiar a realização ou o acolhimento de provas nos escalões de formação, sobretudo nas modalidades em que o País já vem demonstrando algumas vantagens comparativas, como, por exemplo, campeonatos africanos de xadrez em juniores, afrobaskets em juvenis e juniores, torneios internacionais de Judo , Karaté, etc., para além do acolhimento de provas como os jogos da Juventude da Região 5 ( SADC) ou da CPLP. E porque não um campeonato mundial em juvenis ou juniores de andebol feminino?

Pensemos nisto, pode ser uma boa estratégia de diplomacia desportiva de um País que tem uma grande necessidade de prestar uma especial atenção à sua juventude por aquilo que ela hoje representa, a larga maioria da população.

*Jurista, Presidente do Clube Escola Desportiva Formigas do Cazenga