Para quem viu a sua capacidade de arrecadação de receitas cair bruscamente, nos anos anteriores devido, essencialmente, à queda do preço do crude no mercado internacional, voltar a ver uma subida do preço do barril de petróleo, e ainda que pelas piores razões, aparentemente é uma boa notícia. Sem dúvida que para muitos dos nossos compatriotas o primeiro grande impacto sentido no País tem sido considerado positivo, com a subida vertiginosa do preço do barril do petróleo, nosso principal produto de exportação no mercado internacional.
Apesar da expectativa positiva de muitos dos meus compatriotas, em relação ao que esta guerra pode representar de positivo para os países que são exportadores de petróleo, eu só entendo que não há razões para tanto entusiasmo.
Digo isto porque, para além do impacto no mercado financeiro global, um ponto de alerta para os angolanos e angolanas, em relação a este conflito, é a inflação. Haverá ou não uma subida galopante dos preços dos bens e serviços produzidos por estes países no mercado internacional?
O cenário de preços mais altos e actividade estagnada é prejudicial para a economia de uma forma geral, impactando desde consumidores até integrantes das cadeias produtivas nos vários países. Será que no caso de Angola a situação seria completamente diferente?
Mais do que esfregarmos as mãos de contentamento pelo simples facto de que esta guerra está a causar uma subida do preço do barril de petróleo, devemos estar atentos à sua evolução por duas razões, que, a meu ver, são:
Em primeiro lugar, por razões de carácter moral, uma guerra é sempre condenável. E, a desgraça alheia não pode ser vista como uma oportunidade para mim, nem para ninguém, creio eu.
A segunda reside no facto de que as propaladas vantagens para Angola não são resultado de uma migração de activos, que deixam aqueles países, em direcção a Angola, na busca de um mercado mais seguro, ou porque Angola integra uma lista de países atractivos, por sua capacidade de se tornar num possível fornecedor, substituto para alguns, dos bens e serviços produzidos na Rússia e na Ucrânia.
O actual conflito atinge dois países que são grandes produtores de insumos agrícolas, grãos e minérios, commodities. Mas destes apenas o petróleo e gás podem ser encontrados em Angola. Isto significa dizer que para Angola, enquanto País altamente dependente das importações, uma eventual subida dos preços destes produtos, bens e serviços, haverá igualmente algum impacto sobre nós.
Por isso, sou da opinião de que os impactos indirectos desta guerra em Angola não são apenas positivos. Inclusive, penso que temos de estar preparados porque podem também chegar à economia nacional os efeitos nefastos que o aumento dos preços do petróleo e seus derivados representam para outras economias. Por exemplo, muitos dos bens e produtos que não produzimos nestes países são obtidos, produzidos ou até transportados, com recurso ao petróleo e seus derivados. Neste contexto, a subida dos preços do petróleo vai naturalmente significar aumento dos preços destes e isto terá uma repercussão no custo final ao consumidor.
A crise pode ainda afectar negativamente a capacidade de Angola importar trigo, arroz, fertilizantes e insumos agrícolas, que estão actualmente na lista de produtos importados e podem, também, afectar não apenas o nosso poder de compra como até prejudicar o desenvolvimento do sector agrícola nacional.
Politicamente, Angola poderá sofrer alguma pressão por parte de alguns actores internacionais, em função da posição que tem vindo a tomar nas discussões a nível internacional junto dos espaços onde o País ocupa uma determinada posição. Algumas vezes tais pressões envolvem, também, questões de natureza económica, para além das políticas. Finalmente, é preciso não ignorar o facto de que as dinâmicas políticas e geoestratégicas resultantes desta guerra, aliadas a outros factores internos, ainda podem influenciar o resultado das eleições gerais, marcadas para Agosto deste ano ou, no mínimo, a nossa relação com os diferentes países interessados.