As pessoas tinham a sensação de total liberdade, de poder voar de acordo com as suas vontades. Cruzavam o mundo rapidamente, e, de repente, as asas foram cortadas, e o tempo para crescer era indeterminado. Todos se viram presos no seu próprio mundo.

Infinitas informações, sem muita veracidade, sem nenhuma comprovação científica, ocasionando o medo para alguns, o pânico para outros e para muitos nenhuma preocupação.

Questionamentos e mais questionamentos, buscava-se a compreensão do que estava a acontecer. Onde está o vírus? O que podemos ou não fazer? Cadê aquele abraço? O convívio com os amigos? Como exercer as funções laborais com esta nova modelagem? Cadê alguns velhos amigos?

O mundo chorou sem respostas. Muita coisa deixou de fazer sentido. Como num filme, as cenas foram cortadas, houve um intervalo de tempo entre o que se pensava ser real e a realidade que foi instalada. Um novo tempo abriu-se rapidamente, sem avisos prévios, era urgente adaptar-se às mudanças.

O mar da vida estava revolto. Ondas gigantes de medo e incertezas pareciam consumir a Terra e os seus habitantes. Foi preciso submergir deste grande naufrágio. Conflitos internos e externos desestabilizaram-nos. Gradativamente, criámos novas estratégias para garantir a nossa sobrevivência, bem como das pessoas que estavam próximo de nós.

Entretanto, foi um momento de aprendizagem e desenvolvimento humano. Aprendemos que não temos o pleno domínio de nada. As nossas vontades nem sempre podem ser contempladas. Nada, simplesmente nada, é estável e estático.

Rompeu-se com conceitos padronizados e fomos inseridos num novo modelo de vida, no qual somos aprendizes. O mais importante de tudo isso é pensar que, embora com dores e perdas, estamos a evoluir como seres humanos. Uma reflexão constante do quanto precisamos de nos desgarrar do eu e estar mais prontos para sermos colaborativos, para estarmos mais próximo do outro e considerar quais são as suas necessidades.

Um velho pensamento precisou de ser posto em prática para atender a este novo modelo de vida, o que vale não é o que temos, mas sim o que somos. Esperamos que tenhamos aprendido, que mesmo distante, continuemos a amar as pessoas que fazem parte da nossa vida, que possamos ser mais sensíveis às necessidades humanas, que possamos perceber que as coisas simples da vida nos completam, que o luxo da vida está naquilo que tem significado para nós e para aqueles que temos o prazer de conviver.

Enfim, os momentos vividos podem ter favorecido um grande reencontro interno, uma nova organização das nossas emoções e sentimentos, para que possamos melhor viver em harmonia connosco e com o mundo.

Continuemos, 2021.........