É nesta dicotomia da obrigação do cumprimento da lei versus a ligeireza do desenrasque ocasional (que vira modo de vida) que é preciso procurar soluções. Este caso pode não ser único do nosso País, mas a nossa capacidade de amplificar o significado de expressões na língua que tomamos emprestada, com ou sem acordo ortográfico, é impressionante. Este recurso permite aplicar umas curvas à lei, contornando-a sem ser necessário ser o supra-sumo do direito. E não, nem todo o cidadão é igual perante a lei.

É que num país onde a proibição parece deixar de ter habitual o sentido de impedimento, interdição ou inibição. Deste modo, dizer que determinada acção é proibida não é suficiente. É necessário criar um superlativo absoluto: extremamente proibido. E há muitos exemplos.

Realizar festas de passagem de ano em tempo de pandemia deveria passar a ser extremamente proibido, pois proibir só não serviu, uma vez que milhares de pessoas entraram em 2022 extremamente alegres e ajuntados em festas transgressoras. Talvez tenham sido festas organizadas por pessoas especiais para as quais o proibido é só mais uma palavra no seu léxico.

Conduzir com elevada taxa de alcoolemia (que com o actual limite bastará uma rodela de ananás com açúcar) deveria também ser extremamente proibido pois há um elevado grau de incumprimento. Todavia, há formas de resolver o imbróglio que ignoram a alta sinistralidade rodoviária e Angola. Em alguns casos, os prevaricadores são soltos pois "se não podem beber ao fim-de-semana, quando é que vão beber?".

Solicitar uma propina de agilização para facilitar o acesso a um emprego ou obter um favorecimento ilícito, mesmo quando o acto é feito sub-repticiamente com recurso a uma linguagem gestual, também poderia passar para a categoria do extremamente proibido.

É proibido depauperar o erário para alimentar egos e extremamente proibido roubar sacos de arroz em camiões em movimento. É proibido simplificar o processo de contratação para a realização de obras públicas e extremamente proibido zungar nas vias públicas para alimentar as crianças.

A lista do "extremamente proibido" pode ser engrossada por outras práticas feridas de legalidade que estão previstas no Código Penal, pois o "proibido" é relativo.