O autor revela que, em Junho de 2002, numa sessão ocorrida à porta fechada com os directores da NSA, da CIA e do FBI, tanto o presidente como o vice-presidente da Comissão dos Serviços de Informação do Senado ouviram uma história extraordinária que envolvia falhas e erros relacionados com essas agências nos meses que antecederam o ataque da Al-Qaeda contra as Torres Gémeas. Nas descobertas feitas aquando do inquérito, concluiu-se não ter havido qualquer tipo de indício de que a Al-Qaeda estava a planear o uso de aviões civis como bombas, lançando-os depois contra edifícios simbólicos dos EUA no tal dia 11 de Setembro de 2001.

Ainda segundo John Hughes - Wilson, o relatório do congresso expressou em letra pequena que os dados fundamentais que podiam ter frustrado o esquema da Al-Qaeda "tinham estado deveras acessíveis. Infelizmente, tudo fora ignorado, desprezado ou, pura e simplesmente, não tinha sido distribuído pelas agências americanas responsáveis pelos serviços de informação". Ou seja, as agências tinham grande quantidade de informações sobre as capacidades, movimentações e intenções da Al-Qaeda, muito antes dos acontecimentos, mas disseminaram a informação.

Este foi o erro monumental dos serviços americanos: Não cooperaram entre si. Agiram como se fossem "corpos estranhos" ou trabalhassem em países distintos. Para além da falta de cooperação e de comunicação, houve mesmo uma competição entre as agências americanas, que fez com que não existisse uma acção coordenada.

No caso de Angola, a exoneração, em finais de 2006, e a prisão, em Setembro de 2007, do então director-geral dos Serviços de Inteligência Externa (SIE), Fernando Garcia Miala (FGM), e de mais três elementos da sua direcção, nomeadamente Miguel André, Ferraz António e Maria da Conceição Domingos, acusados de insubordinação por não terem comparecido perante as chefias militares na cerimónia da sua despromoção, foram um dos maiores ataques dos poderes castrenses ao Sistema de Inteligência e Segurança Nacional. Fragilizou-se, vulgarizou, banalizou-se e expôs-se todo um sistema de Inteligência Externa e Interna em nome da protecção não de interesses do Estado, mas, sim, de interesses corporativos e de grupos. Durante uma década, os referidos serviços perderam capacidade técnica, operativa, humana, poder e influência.

O SINSE de Eduardo Octávio e o SIE de André Oliveira Sango foram praticamente "sequestrados" e reduzidos a uma espécie de "gabinetes" da Casa de Segurança do PR, chefiada, na altura, pelo general Hélder Vieira Dias Júnior "Kopelipa". Por cumprir aquilo que na visão de John Hughes - Wilson é a definição dos serviços de informação, que é a de falar a verdade ao poder, Fernando Miala acabou exonerado, julgado e condenado. Sem esquecer que foi também um processo com muitas teorias de conspiração e traições à mistura, em que o acrónimo inglês MICE: Money (Dinheiro), Ideology (Ideologia), Compromise/Coercion (Compromisso/ Coacção) e o Ego se encaixaram muito bem, revelando sempre ressentimentos e ódios instalados.

Para além da questão das gritantes e inexplicáveis disparidades orçamentais, a estrutura de Inteligência e Segurança Nacional em Angola sofre hoje alguns dos problemas dos seus homólogos americanos antes do 11 de Setembro de 2001. Há uma tentação muito grande dos Serviços Nacionais de Inteligência e Segurança competirem entre si quando deviam cooperar. Não partilham entre si suficiente informação e em tempo útil situação que cria "choques" e deficiências de coordenação estratégica. Não há em muitas situações uma clara definição de competências, há registo de sucessivas interferências em zonas de actuação/influência, principalmente entre SINSE e SIE.

Vive-se hoje, em Angola, uma situação muito complexa, que é a da politização dos serviços de Inteligência. Isso reduz a sua capacidade, a qualidade da sua informação, limita a sua intervenção e afecta a sua credibilidade. Eles devem agir sempre em nome dos interesses do Estado e dos cidadãos e nunca de agendas partidárias ou eleitoralistas. Não é vocação e nem é muito "inteligente" fazer-se do Serviço de Inteligência um instrumento de propaganda ou espécie de relações públicas do Governo, bem como meio de instrumentalização da imprensa ou a sua utilização para fins alheios ao Jornalismo.

Querem-se, efectivamente, serviços de inteligência e segurança fortes, coesos, coordenados e comprometidos com o Estado e os cidadãos. Urge a criação e apresentação de uma estratégia nacional de segurança para fazer face aos perigos e ameaças que estão aos olhos de todos. A imigração ilegal, o crescimento e o estabelecimento não controlado do Islão em Angola e o poder económico a ele associado deveriam merecer outra abordagem, tratamento e preocupação das autoridades de segurança. Curioso é que, além de usarem o mesmo objecto de trabalho - a informação -, os Serviços de Informação e o Jornalismo também têm uma responsabilidade partilhada: a de falar a verdade ao poder!