Com as novas tecnologias, a manipulação de informação é mais rápida e massificada. "A tentativa de um Estado ou Governo instrumentalizar as notícias a seu favor é antiga. Mas, com as novas tecnologias, as notícias falsas conseguem difundir-se tão rapidamente e de forma tão abrangente que se tornaram uma ameaça à democracia", realça o jornalista Walter Dean. As Fake News tornaram-se armas de arremesso. Não são apenas falsas, mas são inventadas para serem verossímeis, para confundirem e manipularem os mais distraídos ou menos atentos.

As redes sociais são hoje manipuladas por gabinetes de ódio que coordenam campanhas de difamação, manipulação e desinformação que funcionam como censura trabalhada e coordenada pelas chamadas milícias digitais. As entrevistas impostas e preparadas, os comentadores orientados e as confrarias de opinião numa autêntica avalanche de desinformação para criar a impressão de que toda a gente está a falar e a concordar sobre determinados assuntos. As pessoas são "bombardeadas" de todos os lados por uma notícia: sites, grupos de Whatsapp, Facebook , Instagram e essa repetição confere-lhes a sensação de familiaridade, por sua vez, leva os cidadãos a aceitar certos conteúdos como verdadeiros.

As milícias digitais transformam-se em verdadeiras "mangueiras de incêndio" com o objectivo de disseminar falsa informação num fluxo constante, repetitivo e em larga escala. É a utilização das redes sociais para influenciar a opinião pública, atacar adversários políticos e jornalistas. É claro que os alvos dessas campanhas de assassínios de caracter, honra e imagem são meras peças de uma estratégia de comunicação digital previamente estruturada nos gabinetes de ódio. Muitas vezes, esses ataques são lançados para distrair as pessoas, fazer que elas não prestem atenção aos factos que realmente importam, são manobras de distracção.

E quem acredita nestas manobras? Muita gente! A maior parte das pessoas não tem consciência de que é constantemente manipulada por campanhas políticas e elementos das milícias digitais. Existem estruturas organizadas, financiadas e orientadas para desferir ataques ofensivos a pessoas e instituições, com o objectivo de minar a sua reputação. Estes gabinetes não são oficiais, não têm um orçamento específico, mas são sustentados como já disse por dinheiro público. As sementes de ódio, de extremismo e de radicalismo que são espalhadas todos os dias são uma verdadeira ameaça à nossa democracia. Os jornalistas independentes estão na mira desta campanha sistemática de ataques dos agressores digitais.

"Nunca devemos esquecer que o jornalismo só tem poder se nunca se vergar aos poderes políticos, económicos, financeiros e sociais, formais ou informais vigentes, antes deles se mantendo distanciado e perante eles, permanentemente crítico, se quiserem, sendo antipoder neste sentido", disse um dia aos jornalistas Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente de Portugal.

A ascensão destes gabinetes exímios em promover o ódio e manipular a informação por meio das redes sociais é uma ameaça à democracia e à liberdade de expressão, portanto, apoiar o bom jornalismo mais do que um dever cívico é um imperativo categórico.

Para garantir a saúde da própria democracia, não nos podemos conformar com a degradação e a manipulação do jornalismo perante estas poderosas e asfixiantes máquinas de ódio. Temos constatado que os principais partidos e actores políticos estão a produzir e a propagar desinformação por meio de terceiros para influenciar a opinião pública e atacar adversários. Há uma estratégia digital de campanha que opta por difundir mensagens falsas, tóxicas e ofensivas. O jornalismo tem de ser forte, estar atento e preparado para combater todas as formas de manipulação informativa que curiosamente são também, muitas vezes, promovidas por jornalistas ao serviço de uma poderosa e perigosa máquina de ódio.