A prática desportiva é uma ferramenta muito valiosa de emancipação e de aprendizagem. Não é um sector que se deva colocar num qualquer canto esquecido. O desporto faz sonhar a juventude e faz com que alguém possa encontrar o seu lugar na vida, podendo ter um impacto relevante a nível social e económico do País, com fortes sinergias para as áreas da saúde e do turismo, por exemplo.
Os clubes desportivos e as escolinhas que florescem dia-a-dia por este País, por iniciativa de carolas, verdadeiros heróis do nosso tempo, pelo extraordinário impacto social do trabalho que realizam, deveriam ser potenciados para que pudessem irrigar mais desporto pelos nossos bairros, aldeias, vilas e cidades, de modo que este instrumento de intervenção assuma um lugar essencial no nosso projecto global de sociedade que se vai forjando dia-a-dia.

O grande desafio hoje é o de criar condições para se oferecer uma prática desportiva para todos e por todo lado, numa espécie de reedição do programa lançado nos primeiros anos da nossa independência nacional "desporto para todos". Só nestas condições é que teremos o desporto enquanto fenómeno social integrado no modo de vida das pessoas, constituindo-se ,progressivamente, num verdadeiro facto cultural.

Constata-se, no entanto, que a situação actual está muito afastada desta visão que acabei de expor. Temos que reconhecer que, objectivamente, a prática desportiva é muitas vezes percebida como secundária ou mesmo dispensável e não como um elemento central da nossa cultura e das nossas políticas públicas.

A minha principal expectativa nesta altura em que parece emergir uma lufada de ar fresco é que sejam, pelo menos, lançadas as bases para a mudança de paradigma que se impõe em relação a visão que se tem deste sector, mediante o anúncio da adopção de uma estratégia ou de um programa concreto de desenvolvimento do desporto de médio e longo prazo, fazendo com que este direito social, constitucionalmente consagrado aos angolanos, possa vir a ser desfrutado pelo maior número de cidadãos possível.

A ambição de fazer de Angola uma "nação desportiva" em alinhamento com a relevância que o sector tem assumido no espaço internacional, detalhadamente, ao nível dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pelas Nações Unidas, pressupõe, nesta altura, entre outras medidas, a elaboração de uma Estratégia de Desenvolvimento do Desporto, a definição de um modelo de financiamento adequado e a adopção de um plano de formação de quadros para o desporto. Naturalmente, um outro facto que importa mesmo destacar nesta "equação" é que não poderá haver uma estratégia ambiciosa em matéria de desenvolvimento de actividades físicas e desportivas se não se dispuser de instalações suficientes, adaptadas, abertas e repartidas, de tal modo que sejam acessíveis a toda população e em todo o território nacional.

*Jurista e Presidente do Clube Escola Desportiva Formigas do Cazenga