A profundidade da incapacidade de "corrigir o que está mal" decorre da dificuldade que os governantes têm em perceber que o essencial que só se vê com o coração e não está escrito em nenhum programa partidário. Esta dificuldade tem sido engrandecida na proporção directa em que os governantes se distanciam do povo, em todos os sentidos, deixando de o ver, sentir e ouvir. Quando não ouvimos a voz do povo, não sentimos a sua dor, não nos importamos com a morte dos seus filhos, nem com a fome no prato de milhões de angolanos e somos incapazes de desenvolver empatia para as soluções que permitirão a construção de um país para todos.

Em Angola, há muita coisa que está mal e seria exaustivo enumerar todas estas coisas sobejamente conhecidas e, por isso, decidi ater-me àquelas que considero serem estruturantes, e merece a nossa prioritária atenção. E quando olhamos para o ranking mundial dos países (independentemente da vertente em que são avaliados), percebemos que todos os que estão nos primeiros lugares de competência estratégica, de desenvolvimento e de bem-estar social foram apenas aqueles que concretizaram as duas premissas que abaixo distinguimos.

A primeira coisa que está mal é que nunca vimos o Governo preocupado com a universalidade dos DIREITOS dos angolanos. Nenhum país se constrói quando a maioria dos cidadãos não tem Direitos. Ultrapassada a universalidade de Direitos, tem que ser construída a capacidade para que todos os cidadãos usufruam dos mesmos Direitos à nascença. Esta é, de facto, a condição sine qua non para a construção de um país sem distorções e, sem que isto seja uma realidade, teremos dois países que andam a velocidades distintas e que jamais se encontrarão.

A segunda tem a ver com a necessidade de entender que a EDUCAÇÃO não é uma Despesa, mas, sim, um Investimento. Sem esta perspectiva, a Educação continuará a ser tratada no quadro da assistência caritativa, sem nenhum rigor, sem cientificidade e sem ter como meta o País que queremos ter no futuro. A Educação foi enfiada no saco moribundo do sector social, misturada com toda a sorte de insuficiências sociais sobejamente conhecidas e sem soluções à vista. Um país que não desenha o seu desenvolvimento aliado a um modelo competente de Educação, que preveja necessidades futuras e desenhe soluções para as resolver, não logra sucesso por mais dinheiro que gaste, pois jamais será possível construir Desenvolvimento se a Educação não estiver na base desta intenção. Sem que isto seja olhado com seriedade e competência, o País não sairá do círculo vicioso em que se encontra, por maior que seja o seu crescimento.

Para além destas, cujo lugar cimeiro já foi destacado, podemos ajudar a compreender algumas outras que se perdem pelo caminho e nem chegam a ser identificadas como um problema, mas estão na base da asfixia do sistema, tornando-o ineficaz, pouco inovador, improdutivo, inoperante, infrutífero, inadequado e incompetente.

A falta de rigor na Despesa é um dos maiores pecados e a maior fragilidade dos governos do MPLA. Agem sem critério de prioridade e sem atender às soluções mais económicas e mais eficazes. O esbanjamento do dinheiro público tem sido promíscuo e é o principal responsável pela incapacidade de garantir a melhoria da qualidade de vida dos angolanos e do desenvolvimento do País.

A ausência de saneamento básico que é responsável pela perda de milhares de vidas e é inaceitável. Como falar de melhoria da Saúde Pública sem saneamento? Um país sem Saúde Pública torna-se moribundo e medieval. O que se passa em Angola neste domínio deve ser classificado como um Crime contra a Humanidade. De recordar que, só até Agosto deste ano, 9 mil angolanos perderam a vida com malária, fora as outras doenças.

De igual modo, faz mal ao País a falta de honra daqueles governantes que são incapazes de levantar a voz contra as questões que não fazem sentido, muitas vezes atropelando a Lei, lutando até à exaustão para defender o indefensável. Refiro-me aos atentados que sofremos todos os dias sem que a consciência governativa se sinta pesada, do aumento das propinas à fome no Sul, entre outros maus exemplos. De igual forma, assistimos ao sequestro dos órgãos de comunicação públicos de forma grotesca e sem nível nenhum, que colocou a nossa cidadania abaixo dos mínimos olímpicos da decência, deixando de ser o farol para indicar o bom caminho. No mesmo patamar temos ainda o doentio culto soviético de personalidade ao líder. Lembro que o próprio tinha dito que não queria, mas hoje parece confortável com o circo que é criado à volta da sua imagem. Não podemos esquecer que são as mesmas pessoas que endeusaram o anterior Presidente que hoje são os seus maiores críticos, como se não tivessem telhados de vidro. É importante não esquecer que o efeito boomerang é uma lei implacável.

Destaco ainda a incapacidade manifesta de o Governo garantir uma Administração Pública isenta de ruído. A actual Administração Pública parece uma feira onde cada serviço cria as suas próprias regras e cada funcionário age de forma discricionária em relação ao que está legislado, comprovando a existência de uma ditadura do funcionário. Um país que não seja capaz de tornar a sua Administração tão afinada como um violino de uma orquestra sinfónica será incapaz de garantir a excelência da governação e estará, por isso, condenado a fracassar.

Não podia terminar sem fazer referência a um dos grandes inconvenientes da governação e que está claramente mal. Tal como os vaidosos deste mundo, que são pessoas cáusticas, a governação angolana só vive de elogios. Sempre que alguém faz uma crítica, por mais construtiva e científica que seja é acusado como oposicionista renegado e sem direito a defender o que considera ser o melhor para a maioria. Se o governo não aprender a OUVIR e se mantiver refém daqueles cujo olhar não vai para além do conforto da cadeira do seu gabinete e do seu bolso, jamais logrará nem sucesso, nem empatia. Ninguém é dono da verdade, mas quando o pensamento do governo é homogéneo, não tem avaliação crítica e não olha para fora do círculo em que navega torna-se incapaz de trabalhar em prol felicidade do seu povo. E sem um Povo Feliz a Nação não se constrói e os governos tornam-se fracos e efémeros.