O TUL, ou Teleférico Urbano de Luanda, surge como uma resposta inovadora para os desafios da mobilidade no centro e arredores da capital. O seu estudo preliminar foi apresentado em Junho deste ano, pelo Governo Provincial de Luanda, e visa a implementação de um sistema de transporte aéreo que irá interligar áreas densamente povoadas, aliviando o congestionamento das vias terrestres (Linha 1, Bungo - São Paulo - Cidadela - Largo das Escolas; e a Linha 2, Largo das Escolas - Catambor). Além de facilitar o acesso a diferentes regiões, o teleférico promete uma vista panorâmica da cidade, transformando o acto de viajar numa experiência não apenas prática, mas também agradável.
Por outro lado, o MSL, ou Metro de Superfície de Luanda, é parte integrante do Programa de Melhoria da Mobilidade Urbana de Luanda (PRO-MMUL), aprovado pelo Decreto Presidencial n.º 180/24, neste mês de Setembro. O sistema de metro visa criar uma rede eficiente que conectará pontos estratégicos da cidade, diminuindo os tempos de espera e de viagem (interligando o troço Zona Económica Especial - Aeroporto Internacional Dr. António Agostinho Neto - Zona Verde - Sequele). A implementação do MSL representa um passo importante para a modernização do transporte público em Luanda, tornando-o mais acessível e sustentável para todos os cidadãos.
A concretizar-se, a chegada do TUL e do MSL, Luanda caminhará para um futuro promissor, onde a mobilidade urbana será sinónimo de eficiência e qualidade. Estas duas iniciativas não só vão transformar a maneira como os luandenses se deslocam, mas também contribuirão para a redução do tráfego, a melhoria da qualidade do ar e, consequentemente, para uma cidade mais sustentável. À medida que essas inovações se concretizarem, a expectativa é que Luanda se torne um exemplo de boas práticas de mobilidade urbana.
Faltando pouco tempo para celebrarmos, mais uma vez, o Dia Mundial das Cidades, a assinalar-se no dia 31 de Outubro, (iniciativa com origem na resolução 68/239, da Assembleia Geral da ONU), urge discutir-se os recentes processos de transformação da cidade de Luanda, à cabeça dos quais a implementação do Teleférico e do Metro de Superfície de Luanda. Mas, sobretudo, a preservação do património urbanístico, respondendo, ademais, qual o futuro dos seus habitantes. Por extensão, uma abordagem sincera voltada para o problema dos sem-abrigo que pululam na cidade, na indigência, na exclusão e no anonimato.
Longe ficaram os tempos que Luanda valia preço de ouro por metro quadrado, que a grande expectativa de uma cidade futurista pairava no ar. Colocando em causa, inclusive, a memórias do seu passado colonial, com a eliminação parcial desta memória. Os casos mais emblemáticos, o Mercado do Kinaxixi, demolido em 2008, constituía uma referência do movimento moderno em Luanda correspondendo à primeira obra desenhada por Vasco Vieira da Costa (1911-1982) depois do estágio realizado em Paris no atelier de Le Corbusier; e a Casa de Alfredo Troni, adjacente à Universidade Lusíadas. Troni, convém recordar, escritor e jornalista angolano nascido em 1845, foi figura de proa do jornalismo colonial do fim do Século XIX. Dirigiu, em Luanda, alguns jornais de extrema importância, a saber: Jornal de Loanda (1878), Mukuarimi (1888) e Concelhos do Leste (1891).
A preservação do património arquitectónico colonial deverá ser uma das principais preocupações de quem busca proteger a identidade da cidade. Destaque para os sobrados da Baixa de Luanda, a Rua dos Mercadores, o Largo do Pelourinho e arredores, que contam histórias de uma Luanda de outros tempos. Estes edifícios, a maioria com influência portuguesa, mantêm uma beleza singular e são testemunhas vivas de uma era que, embora controversa, faz parte do tecido cultural da cidade. O edifício das Alfândegas, com a sua arquitectura imponente, e os templos católicos centenários, como a Sé Catedral de Luanda, também conhecida como Igreja da Nossa Senhora dos Remédios (construída entre 1655 e 1679). Um "monumento de interesse público", como está lá escrito, numa placa, fixada quando Sua Eminência, o Cardeal Dom Alexandre de Nascimento, reinaugurou o templo restaurado, em Março de 1995.
Luanda, como já referido aqui, foi o símbolo de uma cidade cara e em transformação, agora tem a oportunidade de se reinventar, sem perder de vista aquilo que a torna única. O futuro pode ser moderno e eficiente, mas o passado deve sempre estar presente, recordando as raízes profundas que moldaram esta cidade.
O projecto do Teleférico e do Metro de Superfície, embora essencial para melhorar a mobilidade urbana e a infra-estrutura da cidade, levanta a questão: como será a Luanda do futuro? A resposta a esta pergunta depende de como a cidade será capaz de gerir a sua transformação. n
*Mestre em Linguística pela Universidade Agostinho Neto