O que faz falta é animar a malta. E assim tem sido a narrativa política dos últimos tempos em Angola. Agora parece que o MPLA e a UNITA andam numa espécie de disputa do tipo "o meu comício tem mais pessoas do que o teu"! O importante é criar os tais actos de massas e assim fazer-se uma demonstração de forças. Os seus militantes e respectivas máquinas de propaganda disputam espaços nas redes sociais para partilhar imagens da moldura humana dos discursos.
O importante é provar que se lotaram os estádios da Cidadela e dos Coqueiros, em Luanda, ou um importante largo em Benguela. É muita parra e pouca uva. Das imagens e populismos não passam. Não há uma ideia, não há uma estratégia, um plano que fique na nossa retina. Nada! É uma espécie de vale tudo para demostrar grandeza e caçar votos. O nome de Deus e de "falsos profetas" são chamados futilidades na animação artística com coreografias bastante banais e "sexualizadas".
Numa versão "mwangolé" do sexo, drogas e Rock"n Roll, os nossos comícios políticos apostam, muitas vezes, na coreografia sexualizada, evangelizadora (a mistura explosiva da política com a religião), na cerveja barata e no kuduro. Agora, além do tradicional pincho, são servidas sopas, tudo para garantir a presença das massas. E no final, o que fica em termos de conteúdo, de ideias e de estratégias? Nada! Tirando populismos, ataques ao adversário (que mais parece um inimigo), assassínio de carácter, discurso de ódio e marcação de uma posição de poder.
O que se vai acompanhando pelas redes sociais é um sinal de que estamos a nivelar muito por baixo. Os políticos angolanos deviam respeitar mais os seus eleitores e valorizar mais o seu voto. Também penso que grande parte da população não tem noção da força e do poder de uma arma que usa de cinco em cinco anos e que mostra quem realmente manda.
Há muito ruído, há muito barulho nesta fase de pré-campanha. Mobilizam-se cidadãos, militantes e simpatizantes para os animar, para os empolgar e não há uma ideia que fica. Fotos, selfies e vídeos são feitos para mostrar que o comício estava cheio e o debate virtual gira em torno disso. Militantes, simpatizantes e apoiantes do MPLA e da UNITA discutem e destilam o seu fel no universo digital em torno de quem arregimentou mais gente para os tais actos de massas. Até ao termo, é muito elucidativo: Actos de massas! É assim que os cidadãos são vistos pelas máquinas partidárias e da propaganda. Precisam dos cidadãos para encher estádios e largos, para fazer número, para ser uma espécie de verbo encher. São os " agita, agita" que existem para fazer barulho. Estes comícios e actos de massas são verdadeiros "barulhos de tambor" na sua génese e essência, fazem muito barulho, mas são vazios por dentro. Animam debates nas redes sociais, têm espaço de antena e em horário nobre na comunicação social, têm vários animadores e " espalhadores " virtuais, mas não trazem nada de novo. É só barulho para distrair, iludir e animar a malta. Não há uma ideia, um plano, uma estratégia de futuro. Em termos de governação, já se vai percebendo de que a grande prioridade é garantir a próxima eleição e nada de se pensar na próxima geração por enquanto. É o instinto de sobrevivência.
O importante é garantir as próximas eleições por todos os meios necessários. Não falo ainda de perda, mas só a sensação de partilha de poder ou de governar com maioria simples é algo que causa algumas azias e provoca insónias. A procissão ainda vai no adro e vamos assistindo ao barulho que se vai fazendo de ambos os lados.
Em tempos de pandemia, recomenda-se alguma sanidade mental, e os nossos políticos em nada ajudam com estes barulhos de tambor. Será que se pode exigir deles outro tipo de postura e atitude? Não se pode exigir das pessoas qualidades que elas não possuem. Ninguém dá o que não tem. É pena que o Jornalismo também acaba, muitas vezes, metido nestes barulhos. É pena!