Declaramos o luto, "o luto que não é apenas o luto da morte dos nossos semelhantes; é o luto das nossas ilusões, o luto de certa ideia de progresso, de vida no mundo", como diz o Cardeal D. José Tolentino de Mendonça. E aqui começa o desafio da aceitação: em perceber que precisamos de estabelecer novas formas de convivência, novas formas de relação e de estar no mundo. É um processo que começa connosco e só depois é aceite pelos outros. Se não nos aceitarmos como somos, os outros jamais irão aceitar-nos. O desafio da aceitação parte de nós para os outros.
Ana Cristina Cangombe, Miguel Hurst, Monalisa Dias e Wilmar Nakeni são as histórias que o NJ traz nesta edição em Dossier organizado pela jornalista Teresa Fukiady. A história de como eles vivem e aceitam viver com vitiligo. São quatro pessoas que representam várias pessoas em Angola, que diariamente lidam com o estigma e o preconceito. Lidam com o desconhecimento e a ignorância das pessoas, com a ausência de discussão política, pedagógica e mediática sobre o assunto. Sofrem com a indiferença na busca de apoio institucional em assistência médica e medicamentosa. Indignam-se com a discriminação familiar, social e laboral.
Eles superaram o desafio da aceitação e hoje representam aquilo a que chamo a vitória da aceitação. Primeiro, tiveram de aceitar a nossa condição, de vencer estigmas e preconceitos. Depois, eles decidiram-se a seguir em frente e passaram a olhar-se pelo espelho. Sim! O espelho que tinha passado a ser um elemento descartável, algo a ser evitado voltou a fazer parte do seu convívio, passou a ser parte integrante deste desafio da aceitação.
Mas, este desafio torna-se uma vitória. É a vitória da aceitação. Quando decidem continuar a lutar, decidem não baixar a guarda, não atirar a toalha ao tapete. É vitória da aceitação quando decidem responder ao desafio do NJ e contar-nos as suas histórias, os seus dramas e tribulações. De como o sofrimento é revelador, do combate interior e dos julgamentos do exterior.
Desde os contactos, as entrevistas e sessões fotográficas com o amigo José Silva Pinto foram um verdadeiro aprendizado sobre o vitiligo. É também interessante perceber como hoje eles encaram com certo humor uma situação que antes era evitada e silenciada pela dor. Mas há em todos eles um sentimento altruísta, uma vontade de ajudar outras pessoas que por esta Angola adentro estejam a viver com vitiligo. Falam da criação de uma associação para ajudar a combater o estigma e a discriminação, para prestar apoio médico e psicológico, de promover debates, de fazer pedagogia de valores e de colocar a questão do vitiligo nas prioridades das agendas governamentais.
Infelizmente, ainda não existem condições para o tratamento no nosso País, sendo Cuba o destino preferencial para o seu tratamento e aquisição de melanina, o produto que usam para o tratamento. Existe ainda um longo caminho a percorrer, mas há um que já começou a ser feito: o da aceitação. Esse também é o desafio que propomos aos nossos leitores, o da aceitação do outro, da sua condição e dilemas. Somos todos chamados a fazer parte do desafio da aceitação.