O povo heróico, generoso e farto do sofrimento exorta o Governo a declarar Estado de Emergência tendo em conta a pobreza cuja incidência é de 90% em 65 dos 164 municípios, o que significa que nove em cada 10 pessoas são pobres em múltiplas dimensões, de acordo com o Índice de Pobreza Multidimensional nos Municípios (INE 2019). Exorta, igualmente, que olhe para os números da FOME que mostram o drama da sua dor quando o IDREA - Inquérito sobre as Despesas, Receitas e Emprego em Angola 2018/19 - (INE 2020) nos informa que "o número médio de meses sem comida suficiente é equivalente a quatro meses por ano, com 55% dos agregados familiares a apresentar insuficiência alimentar nos últimos 12 meses". A situação alimentar de Angola já foi considerada grave pelo Chatham House, em 2020, mas foi ignorada, de forma incompreensível, pelo Governo que disse que ela "não existia e que era relativa" e hoje piorou para o patamar da falta de vergonha política. Exorta-vos, por esta e outras razões, a cumprir a promessa das eleições autárquicas.
O povo sem voz, sem Estado de Direito e sem garantias, as tais que lhe foram prometidas nas eleições de 2017 "ninguém é suficientemente pobre para não ser protegido" exorta o Governo a perceber que, enquanto não materializar as prioridades estruturantes, não vai conseguir impedir a queda do Índice de Desenvolvimento Humano que avalia a esperança de vida, o acesso à educação e o rendimento. Não há vida, nem progresso sem esgotos, sem água potável para todos, sem acesso universal à saúde e sem uma alimentação que garanta, como mínimo, 2,100 kcal por dia por pessoa. Essa indiferença institucional é a responsável pelo fosso social que se traduz na confrangedora desigualdade entre os que têm tudo e aqueles que não têm nada e que são a maioria.
As crianças que surgem sempre na cauda de todas as prioridades, salvo no seu dia em que dão a algumas, em Petit Comité, um balão, um lanchinho e uma camisola a dizer que "são importantes, a prioridade e o futuro", exortam o Governo a resolver o facto de a cada ano dois milhões de alunos com 6 anos ficarem fora do sistema, sem acesso a um dos mais importantes Direitos Humanos, que é o acesso universal e com qualidade à Educação. A escola primária é obrigatória. Mas não vemos nenhum mecanismo de coerção para meter todas as crianças na escola. As crianças não votam, são periféricas e, por isso, a preocupação é apenas com a regulação dos preços da universidade. Mas porque as crianças são o futuro, exortam o Governo a usar o método da AGT e a sua prontidão combativa e eficácia para todos os excluídos dos impostos e verão que num ápice terão todas as crianças dentro do sistema.
As mulheres angolanas exortam o Governo a olhar para a sua saúde reprodutiva e a olhar para a dor de verem tantos filhos morrerem nos seus braços por falta de acesso aos cuidados primários de saúde. As causas da mortalidade infantil são conhecidas e não precisam de mais relatório. Apenas precisam de se constituir como uma emergência de "prioridade prioritária", para que se resolva este drama que a todos devia envergonhar um País onde os juízes venerandos andam de jaguar e onde, afinal, ainda é preciso ir ao estrangeiro para consultas médicas e o exemplo de desconfiança do próprio sistema continua a vir de cima.
De acordo com os objectivos da diversificação económica, que foi um nado-morto até hoje, a agricultura continua a ser a grande mentira da governação. Por essa razão, os produtores nacionais que não têm parentes na cozinha do poder nem acesso a financiamentos ocultos e milagrosos e investem o seu dinheiro na produção, exortam o Governo a deixar de importar, sem que primeiro tenha esgotado a compra da oferta nacional, conforme os gritos de vários fazendeiros que ficaram com a produção no colo porque o Governo, para satisfazer os objectivos das eleições e baixar a cesta básica (temporária e artificialmente), ignorou a produção nacional e o que importou colocou abaixo do preço.
Os eleitores e contribuintes exortam o Governo a respeitar e a cumprir a lei e a Constituição, a informar com isenção quando utiliza os meios públicos de comunicação social, deixando de fazer destes órgãos caixas de propaganda, a desmilitarizar as intuições republicanas, a não olhar para quem pensa diferente como um inimigo. Em muitos casos, fica a certeza de que é na intervenção descoordenada e sem eficácia do Governo Central e provinciais que a porca torce o rabo. Exortam-vos a olhar para o funcionamento do mercado informal e para as iniciativas consequentes do povo, para ultrapassar os seus constrangimentos diários por falta de país nas suas vidas e verão que vão encontrar soluções muito mais eficazes do que a montanha de teorias que são produzidas por pessoas que não têm nem nunca terão inteligência emocional, apesar dos vários mestrados e doutoramentos, e por isso nunca conseguirão construir uma ponte para a outra margem onde vivem os angolanos que choram todos os dias.
Exorto o Governo a perceber que a paz social é uma consequência da paz no prato e do respeito pela dignidade humana. Que a estabilidade social depende da diminuição do fosso que impede que os que menos têm sejam, sequer, cidadãos pois nem conseguem ter acesso a um nome e a uma nacionalidade por não terem Registo Civil. Que o consenso é um poderoso mecanismo para encontrar as melhores soluções estruturantes e que ao mesmo tempo é o garante do nascimento do sentimento de pertença sem o qual a Pátria não se fortalece, nem progride. Exorto-vos a respeitar o direito de cidadania, protegendo os direitos humanos cuja eficácia se reverterá numa sociedade justa, pois sem justiça social a própria soberania adoece e torna-se moribunda. Exorto-vos, igualmente, para que olhem para o povo com amor, com respeito, com bondade e sem vaidade. Uma governação de ameaças permanentes retira a razão de quem governa, tal como um pai que passa a vida a bater no filho, um dia perde o seu respeito e o filho devolve a amargura. Nós não somos Lúmpenes nem bandidos. Somos cidadãos preocupados e empenhados na construção de um PAÍS PARA TODOS, onde ninguém fique para trás e sejamos parte das soluções que confiram garantias para que todos os filhos tenham os mesmos direitos à nascença, pois só assim se constrói o Estado Democrático robusto, ético, digno e eficaz.