O velho imbondeiro fora derrubado sem o menor escrúpulo. Porque sim. Ou porque se pretende ocupar mais uns metros quadrados de terreno para satisfazer alguma necessidade espúria. O mundo não está para os imbondeiros. Nem para os elefantes, imbondeiros que caminham. O mundo está para esse poderoso destruidor, cego, que acreditando ter sido feito à imagem do criador- sua criação -, subjuga, mata, destrói, mas não cria. Fruto de uma evolução que o foi transformando de um macaco medroso, no senhor da tecnologia, tornou-se o dominador. Que transforma o mundo num deserto unipolar. À sua imagem e semelhança. Ecossistema significa sistema que inclui os seres vivos e o ambiente, com suas características físico-químicas e as inter-relações entre ambos. Aquele em que vivemos e vimos transformando, substitui árvores por betão, elimina os animais que não se submetem, desertifica os campos ravinando-os enquanto não os secam, coloca na mente de cada humano essa ideia perigosa de que tudo está aqui para nos servir. Deixámos de sentir-nos parte do ecossistema. Passámos a agir como o seu senhor.

A imagem do velho imbondeiro caído, como general esquecido no campo de batalha, porque já não serve, não pode deixar de trazer um sentimento de angústia. Porque é mais uma perda desnecessária. Porque era o único elemento de qualidade naquele espaço. Mas tal não foi o suficiente para o preservar, pois a cegueira restringe os sentidos, potencializa os que privilegiam e priorizam os objectivos imediatos, esquecendo o futuro. E o passado.

A falta de respeito pela natureza, é mais um dos sintomas da doença que hoje afecta perigosamente o futuro da humanidade. Ao desrespeitar os ténues equilíbrios que os milhões de anos de evolução foram estabelecendo, a nossa espécie vai-se aproximando do abismo, encouraçada na sua pretensa auto-suficiência, sentimento que é alimentado por uma crença na sua capacidade de encontrar uma solução imediata para todos os problemas - rápida, indolor, eficaz - fazendo-a esquecer que as coisas realmente importantes só podem ser construídas com pequenos e perseverantes passos, que cuidem dos outros, cuidando de nós.

A humildade não deveria ser facultativa. Encarar cada gesto nosso como um acto de responsabilidade para com o ecossistema de que fazemos parte deveria ser obrigatório. E isso deveria levar-nos a respeitar todos os que dele fazem parte. Dando-lhes o seu espaço. Preservando-os, com a consciência que eles contribuem de forma positiva para o todo. Que têm direito à existência. Respeitando o passado. As florestas de imbondeiros que povoavam Talatona, em particular junto ao rio Cambamba, as que inundavam as planícies de Catete, vão sendo dizimadas, para dar lugar a urbanizações. Os que sobram são derrubados, sem piedade.

Que este requiem, pelo velho imbondeiro derrubado, nos lembre os tempos em que o reverenciámos. Sob o qual nos protegemos da inclemência do sol, com o olhar num futuro que julgávamos estar a construir, seguros, para lá do horizonte que os reflexos dourados do mar nos levavam a almejar.