A Plataforma 27 de Maio manteve-se sempre firme nas suas exigências, reclamando uma CIVICOP com cariz de comissão de Verdade, o que implicaria um trabalho feito por especialistas forenses de reconhecida craveira internacional. Tal não aconteceu. Veio depois o célebre pedido de perdão feito pelo Sr. Presidente da República de Angola, em nome do Estado, relativamente aos crimes cometidos no passado, o que trouxe uma nova esperança de que, a CIVICOP, acertaria o passo mudando de rumo. Seguiram-se buscas fictícias de valas comuns, destruição de provas em possíveis locais, e quando supostamente foram encontradas ossadas, houve exposição televisiva abusiva das mesmas, logo seguida de entregas de supostas ossadas em cerimónias de caixão fechado. Foi temporariamente aceite o concurso de um grupo de especialistas forenses portugueses. Estes estiveram em Angola a fazer perícias e concluíram que as ossadas que lhes tinham sido entregues, como sendo de altos dirigentes desaparecidos na época, não correspondiam ao afirmado. Ficou então claro que, sem previamente se fazerem os testes de ADN em ossos, o que foi feito, naquele caso, em Lisboa, pelo Instituto de Medicina Legal, não era possível tirar quaisquer conclusões confiáveis. Angola não tem como fazer os testes de ADN em ossos, já que, não tem essa tecnologia e esse know-how, como se veio a comprovar. Uma trapalhada desprestigiante para o país face aos organismos internacionais. A CIVICOP nunca se pronunciou sobre essas conclusões. Surge, entretanto, o "facilitador da Fundação" com declarações grosseiras e ofensivas ao internacionalmente reconhecido e prestigiado Professor Dr. Duarte Nuno Vieira, que chefiou esse grupo de trabalho resultante de um acordo entre o Sr. Presidente de Angola e o Sr. Primeiro-Ministro de Portugal, mas essas suas declarações nunca foram contrariadas pela CIVICOP e esta manteve o concurso desse seu facilitador.
Para nós, continuam desaparecidos.
É muito difícil, aos sobreviventes da repressão resultante do 27 de Maio de 1977, chegar a Maio de 2024 sem saberem onde estão os restos mortais dos seus camaradas desaparecidos entre 1977 e 1980. O tempo passou e para muitos se esgotou! Como não será este dia muito mais difícil para os órfãos e restantes familiares das vítimas?! E ainda há quem, sem pudor, diga que, nos continuamos a fazer de vítimas?
Compromissos assumidos pelo Estado Angolano
quando em 2018 o Ministério da Justiça e Direitos Humanos (MJDH) da República de Angola reconheceu, na página 3 de um documento seu, intitulado «Estratégia do Executivo de médio prazo para os Direitos Humanos (2018-2022)» que, o processo 27 de Maio de 1977 foi um dos acontecimentos mais relevantes da época, seguindo-se um cortejo de atentados aos direitos humanos e explicitando, no mesmo documento, a vontade em criar as bases para a promoção e defesa sistemática dos direitos humanos, não podia ser mais explícito. O MJDH estava a enquadrar as consequências desse processo na esfera da reposição dos direitos humanos à luz das convenções internacionais assinadas pela República de Angola. Sendo assim, não devia, e não podia, quando confrontado pelos Relatores Especiais do Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU, o que aconteceu a 15 de Janeiro passado, após uma queixa fundamentada apresentada àquele organismo, furtar-se a dar respostas sérias e cabais, tendo pelo contrário, optado por dar respostas pífias.
É confrangedor ver que o MJDH fez de conta que não percebeu o teor da carta recebida e que não vê qualquer gravidade em fornecer respostas enganosas aos relatores especiais da ONU. Será que não foi entendido o teor da carta e particularmente, as recomendações constantes do anexo da mesma? Este comportamento não encaixa com a estratégia definida por Angola para os direitos humanos no médio prazo. Os relatores especiais da ONU não são "meninos de coro". Não se pode dizer que se está a trabalhar com base na justiça transicional e a cumprir os princípios das comissões de Verdade, quando a CIVICOP não passa de uma comissão de homenagem, de cariz governamental, sem um verdadeiro envolvimento dos familiares das vítimas em todo o processo e não segue minimamente as regras internacionais aplicáveis a desaparecimentos forçados e execuções extrajudiciais, insistindo na retórica estafada dos "conflitos políticos".