O caminho devia ser o da autonomia científica e financeira, para que estes centros de pensamento científico possam crescer na plenitude e possam desenvolver projectos. Queremos colocar as nossas universidades entre as melhores de África, e a estratégia passa por esvaziar, por retirar força e autonomia aos centros de pensamento científico? Qual é a nossa estratégia em termos de ensino superior e investigação científica?

Os directores dos centros são professores catedráticos, são cidadãos com um curriculum invejável, com uma trajectória académica e profissional inquestionável. São pessoas que nesta fase da sua vida colocam o seu saber, experiência, rede de contactos em prol do desenvolvimento do País e das suas gentes, e, quando se lhes devia dar mais autoridade, mais prestígio, mais autonomia, apoio financeiro e condições de trabalho, o que se faz é o contrário.

Criam-se barreiras, abrem-se guerras surdas e alimentam-se burocracias que só dificultam um trabalho digno e de relevância. Somos um País que se dá ao luxo de "dispensar" quadros, de afastar a massa crítica. Criam-se decretos que vão em contramão ao que é a regra e visão de estruturas que pretendem o desenvolvimento de facto, tudo porque se quer limitar a liberdade de pensamento, pesquisa e gestão.

O indivíduo não conta e nem as estruturas interessam. A negação do outro é praticada ao mais alto nível. O outro não conta na estratégia de decisão. A negação, para eles, é um mecanismo de defesa e de demonstração de autoridade. A coerência entre aquilo que se faz e aquilo que se defende é um valor único. Num País onde discutir factos e opiniões ainda é uma afronta e questionar ainda ofende, perde-se tempo e energias, provoca-se o afastamento de bons académicos, que, fartos de burocracias, de decisões unilaterais e arbitrárias, vão preferir sair de cena e seguir outro caminho. Mas, no nosso País, há quem prefira agir orgulhosa e erradamente só. Quando devíamos seguir o exemplo de nações que se desenvolveram apostando no ensino, na formação, na pesquisa e investigação, estamos a recuar e a procurar "esvaziar" tais estruturas. Mais de uma década de trabalho, de projecção, de prestígio e afirmação nacional e internacional pode ficar "congelada".

Este decreto visa "amarrar" os centros às faculdades, limitar-lhes a liberdade de actuação, gestão e de pensamento. Espero que a Assembleia Nacional e o Presidente da República analisem a carta que lhes foi endereçada pelos directores dos centros.

O desafio do desenvolvimento sustentável é algo que deve constar da agenda de prioridades do Executivo de João Lourenço. No passado dia 24 de Março, o MPLA usou da maioria parlamentar (a oposição votou contra) para aprovar uma lei que abre portas à exploração de petróleo e de outros recursos naturais em zonas protegidas. Precisamos de promover debates para auscultar especialistas, devendo envolver universidades, organizações da sociedade civil e as próprias comunidades. O MPLA votou sozinho, fê-lo orgulhosamente só, olhando mais para uma agenda política e economicamente de interesses, abrindo frentes com activistas e organizações ligadas ao ambiente. Na edição passada, trouxemos três ambientalistas e a sua visão crítica sobre a medida. Nesta edição, o Movimento Tchota, que congrega várias organizações da sociedade civil, também olha com preocupação para a lei aprovada pela Assembleia Nacional. Sem uma agenda ambiental nacional clara e estruturada, e com a aprovação de leis como essas, sem planos de prevenção, fiscalização e educação ambiental, Angola pode estar a seguir um caminho em que vai encontrar oposição e contestação.

O facto de João Lourenço não constar da lista de 40 Chefes de Estado e de Governo (dos quais cinco líderes africanos) convidados pelo Presidente dos EUA, Joe Biden, para discutir o Clima no próximo mês de Abril, soube o NJ que é também pelas decisões em termos de política ambiental que contrariam a estratégia que o anfitrião Biden tem adoptado, a falta de estratégia, uma certa inércia e ausência de fiscalização e controlo para o desmatamento descarado que se vai assistindo. É preciso repensar em estratégias, redireccionar accões, alargar, elevar e aprofundar o debate. É importante não ficar orgulhoso e erradamente só neste debate e nas decisões.