A par disso, havia outro elemento que ajudava a cimentar o favoritismo "rubro-negro". É que, na fase de grupos do Campeonato, bateu sem grandes dificuldades a turma "tricolor" por 21-15, seis golos de diferença, que em andebol dizem sempre alguma coisa. Em termos teóricos, estava claro que o D"Agosto tinha tudo para revalidar o título e perpetuar a hegemonia iniciada em 2013 e que resultou em cinco títulos seguidos do "Nacional", ciclo interrompido em 2018 pelo Petro Atlético, mas retomado no ano seguinte.
O triunfo final do Petro Atlético na competição pode não significar apenas uma simples vitória. Pode significar um grito de revolta por tudo quanto lhe aconteceu na última década. Ou seja, depois de formar várias jogadoras, viu-se, ao longo dos anos, completamente "desossado" das suas principais unidades pelo concorrente, por não ter capacidade financeira para o "jogo dos cifrões". São as leis do mercado e nada há a fazer, senão conformar-se e continuar a trabalhar. Ao que parece, foi exactamente isso o que o "tricolor" fez. Continuou a semear no viveiro do "Catetão" e colheu fruto saborosíssimo. Com umas poucas "miúdas" saídas da formação e alguma experiência que já lá estava, a equipa de Vivaldo Eduardo trocou às voltas ao rival de sempre.
Num outro cenário, a vitória do Petro-Atlético nada teria de extraordinário. Seria só mais uma a somar as muitas já conquistadas lá atrás. Mas agora é diferente, uma equipa com quatro jogadoras juniores e 13 seniores - o seu "banco" não dá tantas garantias de manutenção de qualidade de jogo como o do adversário - levou de vencida a poderosíssima formação do 1.º de Agosto. E a vitória "tricolor" ganha em dimensão porque o "rubro-negro" é "só" o campeão africano e Mundial - atentem, campeão Mundial - de clubes! Por isso, o triunfo das meninas do "Catetão" tem outro significado.
A tudo isso junta-se a um dado que não pode ser ignorado: o 1.º de Agosto é o maior investidor do andebol nacional e quiçá do continental em femininos. Com infra-estruturas que em África provavelmente só encontrarão par na África do Sul ou em países do Norte do continente, o clube do "Rio Seco" tem também os ordenados mais competitivos do andebol nacional - com excepção dos que militam em dois ou três emblemas abastados, nenhum jogador do "Girabola" sequer sonha com o que é pago às jogadoras "agostinas". E pode até não ser exagero nenhum, visto que elas são campeãs continentais e do Mundo. Por isso, ponto final.
Além das infra-estruturas, o 1.º de Agosto tem feito igualmente investimentos muito sérios em recursos humanos, sobretudo no que diz respeito à componente técnica. Nesse particular a Academia é um primor com quase tudo de "Primeiro Mundo". A aposta do Clube Central das Forças Armadas é tão forte que em 2017 trouxe ao País o técnico Morten Soubak, o dinamarquês que em 2013 levou o até então inexpressivo Brasil ao título mundial, repetindo a dose com o 1.º de Agosto há sensivelmente dois anos, na China.
Embora em dimensão menor que a classe feminina, a masculina também tem beneficiado de fortes investimentos em todos os níveis. A diferença de investimentos pode ter que ver com o facto de à escala internacional os masculinos não se terem imposto ainda. Mesmo assim, para a fase final terminada no princípio da semana em Luanda, o "rubro-negro" beneficiou de "reforços" de grande valia chegados do estrangeiro, de modo a tornar a equipa mais robusta. A verdade, porém, é que também na classe masculina o 1.º de Agosto perdeu o campeonato. É óbvio que, numa final verdadeiramente épica, só sucumbiu no terceiro prolongamento. A frieza dos números, porém, diz que o campeão nacional é novamente o Interclube de Angola. O registo é este e não há volta a dar. Desse modo, a formação da Polícia Nacional soma o seu segundo título consecutivo, o quarto no total.
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