Essas declarações enfatizam o apoio a uma economia global, assente no multilateralismo, tendo por objectivo a recuperação mais justa, sustentável e inclusiva que responda aos desafios com que a humanidade está confrontada.
Foi isso mesmo que foi sublinhado na reunião com os países do G7.
Assim, não admira que, consciente das opções, tivesse avançado com a outorga de uma "nova Carta do Atlântico", com base na declaração conjunta a que Winston Churchill e Roosevelt se vincularam após o termo da 2.ª Guerra Mundial, para salvaguardar uma relação duradoura entre os dois países.
Sem ambiguidades, reafirmou posteriormente uma melhor aliança euro-atlântica na reunião, com responsáveis da UE que tão maltratada havia sido com Trump, apresentando-a para fazer registar a necessidade de mobilização das democracias de todo o mundo, em contraponto às "autocracias lideradas pela China".
Neste domínio, face à política de investimentos estruturais avançada pela China no desenho por esta formulado, na chamada "Nova Rota da Seda", Biden apelou às democracias para conjugarem esforços, com vista à canalização de investimentos públicos e privados, que se opunham à referida "Nova Rota da Seda".
A propósito do alcance político da formulação apresentada aos responsáveis da UE, por Joe Biden, tendo presente a China, o primeiro-ministro dos Países Baixos, Mark Rutte, não pode deixar de referir, a propósito, que "há que manter o diálogo, mas não podemos ser ingénuos".
A clareza com que o Presidente dos EUA se dirigiu nas reuniões ocorridas, inclusive na que teve na 31.ª Cimeira da NATO para que "se saiba que os EUA estão aqui", ou seja, para que se saiba que não deixarão de ser solidários com os seus aliados, resulta dos compromissos históricos assumidos na Carta que criou, em 1949, a NATO.
Também, neste domínio, essa declaração vai em sentido contrário ao das referidas políticas erráticas de Trump.
Por fim, a reunião em Genebra com o Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, foi, como é sabido, marcada na decorrência de um sério esfriamento das relações entre os dois países.
Não estava apenas em causa, do lado americano, a forma como o líder da oposição russa, Alexei Navalny, foi preso e, com ele, vários militantes e simpatizantes do partido que dirigia e, mais recentemente, ainda os resultados da eleição na Bielorrússia, a posição da Federação Russa e o que nela se passou com a prisão de um jornalista após o desvio de um avião em que seguia.
A anexação da Crimeia, o apoio a forças rebeldes na Ucrânia e os alegados ciberataques com origem na Rússia, às eleições americanas e ao sistema de distribuição de combustível não deixaram também de ser tidas em consideração.
Em concreto, para Joe Biden, o objectivo foi, desde a primeira hora, criar condições para que as relações com a Rússia passem a ser previsíveis, razão para que não deixasse de sublinhar a necessidade da procura de consensos, sempre e onde eles fossem desejáveis, de par com advertências para os limites que reciprocamente deveriam ser considerados e nunca ultrapassados.
Neste quadro, África só foi, no essencial, considerada no reforço ao apoio que os países mais desenvolvidos deveriam conceder à vacinação dos países menos desenvolvidas no combate contra a Covid-19.
Isto não significa que África e Angola, em particular, não devam avaliar os efeitos políticos do novo posicionamento dos EUA face à China e o que ele pode representar no futuro. Daí que também, neste particular, seja adequado invocar, neste artigo, o título que lhe dei, utilizado por muitos analistas na avaliação do périplo de Joe Biden pela Europa - "Os EUA estão de volta".

*Secretário-geral da UCCLA