Neste sentido, a procura de uma chave-mestra que abra as portas para uma aposta séria no trabalho constitui agora a única saída para que Angola se possa erguer como a nossa verdadeira casa comum.
Sustentada em novas visões, soluções e programas, temos, porém, que ter a capacidade criativa suficiente para que a alteração urgente da actual paisagem económica e social do país nos conduza ao bem-estar de todos e à gradual melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.


Não tendo muitos exemplos para apresentar, aos poucos vamos tendo, no entanto, chaves-mestras como aquelas que estão a abrir caminho à montagem, por exemplo, de uma assinalável oferta de serviço público de diálise por todo o país, que não pode, porém, estrangular a contribuição das unidades privadas há muito implantadas no país.


Garantido o desbravamento deste caminho com outras iniciativas, que incluem a próxima inauguração do reconstruído, ampliado e modernizado Hospital do Sanatório, a sua complementaridade passa pela municipalização da profusão de hospitais de proximidade na periferia das cidades para retirar pressão sobre os grandes hospitais e pela inversão da pirâmide através da priorização da saúde preventiva e não da saúde curativa.


Assente em políticas públicas sustentáveis, os investimentos nestas e noutras áreas da saúde tornam, no entanto, imperativa a abertura urgente de uma (inexistente) plataforma de diálogo crítico e debate científico entre o Ministério da Saúde e a comunidade dos médicos.


Na mesma linha, através de uma decisão de grande folego político, o Ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, concedeu às empresas angolanas "com unhas para tocar guitarra", o exclusivo do fornecimento de uma vasta gama de bens e serviços às operadoras estrangeiras instaladas em Angola.
Assegurada, no domínio mineiro, a entrada no nosso mercado de multinacionais como a Anglo-American e a Rio Tinto, e reestabelecida, Diamantino Azevedo conseguiu em três dias por fim a 14 anos de impasse e retomar a gestão da Zona Comum de Exploração petrolífera com o Congo Democrático.
Com cultura de trabalho, a combinação de competências e de sinergias entre a Sonangol e os Caminhos de Ferro de Luanda, trinta anos depois, permitiu reestabelecer por via ferroviária o transporte de combustível para Malanje.


A retoma deste serviço, ao transformar esta província numa plataforma de distribuição de combustível também para as Lundas, Cuanza-Norte, Uíje e Zaire, teve como efeito imediato uma brutal redução na estrutura de custos do cidadão.


Com uma nova visão, o Porto de Luanda implementou um moderno modelo de gestão que, sob a liderança da multinacional DP World, permitiu ao Estado arrecadar, pela primeira vez, neste domínio, um bónus de 100 milhões de dólares.


E, com o lançamento de concursos públicos para a construção, numa primeira fase, das plataformas logísticas do Soyo e do Luvo, poder-se-á assegurar a criação de pontos intermédios de armazenagem e aliviar o bolso dos cidadãos com uma diminuição substancial do custo das mercadorias para o produtor e para o consumidor final.


Sob a liderança de José Massano, novos sinais de credibilidade foram lançados ao mercado financeiro depois do BNA, investido de autonomia funcional, administrativa e patrimonial, ter obtido uma conquista de relevância histórica ao libertar-se da tutela do poder político.


Com este passo, o BNA apostou num novo modelo de governança adequado às boas práticas dos bancos centrais, que lhe permitir apertar o cumprimento das regras de "compliance" para reforçar o combate ao branqueamento de capitais, o apetrecha agora com outra margem de confiança junto da banca internacional.


Se precisamos de tudo isto e de muito mais para vencer os próximos desafios, "de todos" não faremos, no entanto, um país se os nossos políticos e governantes, como alerta Marcelo Rebelo de Sousa, continuarem a exigir dos cidadãos o que eles próprios não fazem nem demonstram vontade de fazer para ajudar a reduzir o sofrimento das comunidades.


Se, abençoados na capela sistina do pensamento único, os novos assimilados da regedoria, pendurados na carroçaria do poder, no papel de Ministros ou governadores provinciais continuarem a desdenhar o trabalho como uma heresia e a confundir a elaboração de um projecto com a apresentação de uma lista de compras.


Se continuarmos a enganar o Presidente com falsos investidores como os zimbabwianos do grupo Boabab Cotton fundado em 2019 com capital de 2 mil dólares, que assumiu a gestão da África Têxtil em Benguela sem um tostão no bolso.


Se não tivermos a coragem para fazer um debate sério sobre os limites da justiça e da política para que alguns juízes e magistrados, capturados por interesses alheios ao seu juramento, não se transformem em capatazes dos partidos e, na ânsia de condenarem tudo e todos, não atentem contra o Estado democrático e de direito.

Se tomando os serviços de inteligência como peça fundamental para a preservação do Estado, as nossas elites dirigentes continuarem a aceitar a imposição de respostas securitárias a problemas da governação de natureza política, económica e social.


Se à imagem do antigo aparelho estalinista, continuarem a ignorar que a exacerbação da securização da vida pública tenderá a erguer-se cada vez mais como um factor de declínio da qualidade da democracia.
Se não tiverem em conta que essa exacerbação acabará por acelerar o silenciamento de espaços de pluralidade política, como pode ter acontecido com o fim do programa radiofónico da autoria do jornalista João de Almeida na Rádio MFM.


Se, subestimando o essencial - a boa governação - não perceberem que a ascensão do poder securitário poderá avançar ao ponto de se converter num autêntico e perigoso eucalipto.
Ora, se o eucalipto não for travado, prosseguirá a sua marcha para tentar - ingloriamente - degolar o direito dos cidadãos a serem informados, transformando-os em peças de arte de um museu de múmias com venda nos olhos, cotonetes nos ouvidos ou adesivo na boca.

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