Olhando para alguns exemplos africanos, percebemos que não há qualquer mérito na longevidade governativa. É sempre uma governação egoísta. Narcisista. Sem competência para fazer acontecer desenvolvimento. Nestes países, o fosso entre os ricos e os pobres é pornográfico. Diabólico. Imoral. Aqui os pobres deixam de ser pessoas. São um problema ignorado. Uma pedra nos sapatos de pele de crocodilo.

Os líderes que constroem de si próprios uma visão distorcida de grandeza e ampliada pelo efeito da bajulação nociva, são uma ameaça para a democracia. Ameaçam o patriotismo constitucional. São populistas no mais hediondo sentido da palavra. Contaminam a ética por via da manipulação a todos os níveis. Os seus seguidores são isentos de verticalidade. Carregam qualquer pasta. Mesmo aquela que um dia se vira contra eles.

Um nacionalista está obrigado a priorizar os interesses da nação. Quando as falhas sobre direitos básicos se normalizam e são aceites com naturalidade pela governação, a governação deixa de ser decente. Os governados perdem a esperança no futuro.

A multiplicação de mandatos que tem sido reiterada em vários países africanos não têm encontrado uma resposta contundente pela União Africana. O cidadão quando se candidata de forma livre sabe que cada mandato tem um tempo e que não pode ultrapassar os mandatos sob nenhum pretexto. A intenção de permanecer para além do tempo estipulado pela lei não pode ser aceite pelos eleitores, nem o modelo pode ser considerado democrático.

As nações desenvolvem-se na renovação. Na crescente construção de ideias novas. Priorizando os alicerces. Soluções definitivas capazes de resolver os problemas. Na capacidade de em cada projecto ver garantido um país para todos. Em cada programa estar garantido o bem-estar e o sorriso de milhões de pessoas. Uma governação assente no lucro não logrará nenhum progresso social. É, por isso, uma governação estéril, pois o fim da governação é servir o povo.

O discurso populista, irrealista, que não tem intenção solidária e que não defende um país para todos não pode ser aceite nem aplaudido pelo perigo que representa. O discurso político deve ser responsável. Deve traduzir potencialidade. Deve ser plausível, consequente e sobretudo honesto. Não se pode prometer fazer eleições autárquicas em campanha eleitoral e não cumprir esta intenção, encontrando novos e desconcertantes argumentos. Não se pode pretender ter uma nação próspera se as crianças não têm todas os mesmos direitos à nascença. Não se pode garantir equidade se todos os anos mais de 3 milhões de crianças não entram na escola primária.

O ruído da máquina de propaganda não tem competência para diminuir a dimensão da calamidade social que se instalou entre nós. Não tem poder para diminuir o abismo económico. Uma governação que permite o aumento da hostilidade contra crianças admite que o abandono se tornou um programa.

O apego ao PODER é sempre perverso. Não importa quais sejam as motivações ou ângulo pelo qual é observado. O apego ao PODER tem o mérito reverso de ser duplamente destruidor. Destrói o político e destrói os alicerces de um povo.