Este momento que está a assumir os contornos de irreversibilidade. Parece que não há ninguém no comando. Estão à deriva, sem plano, a reagir ao que acontece. O improviso virou regra e o caos está instalado. O comportamento das instituições pilares da república é trágico. As Tpa"s 1,3 e 4 são um desastre de comunicação em que reina a manipulação da informação de forma vergonhosa. O País está refém de humores pessoais e das conveniências eleitorais. A resistência em viver no pluralismo de opiniões e na defesa dos direitos humanos é evidente. Os adversários são denegridos. A imagem que impera é de uma "esquerda caviar", que também não consegue disfarçar a gula pelo luxo e pelo poder que jurou combater, conservando a foice e o martelo, tentando simular a postura de bom militante. Em que altura se perderam?

Onde está o MPLA dos ideais dos anos 50 e 60? Onde estão as pessoas que podem fazer a diferença? Salvem o vosso MPLA. Defendam a justiça. Defendam o sonho pelo qual muitos dos vossos companheiros, pais e filhos perderam a vida. Defendam-se de ser um futuro envergonhado por terem desviado o olhar num tempo crucial, por terem sido coniventes com o vosso silêncio. Homens chefes de família, éticos e invioláveis, que na certeza de uma ideia nada vos fazia recuarem, que pela causa perdestes a juventude. Não me digas que já estais velhos de mais para continuar. Não desistam de ser verdade! O nosso País precisa de exemplos vivos, exemplos de virtude e de abnegado nacionalismo. Onde estão?

Onde estão os vivos que se fizeram políticos, numa infância de calções e de fisga, pela humilhação de verem como eram tratados o pai ou o tio. Onde estão vocês que, quando falam fora do palco e sem holofotes, mostram quão grande é o desalento de serem, hoje, testemunhas deste presente de desencontro, de ausência de uma causa e da falta de nobreza.

Onde estão as mulheres que criaram filhos no exílio, que, dentro da clandestinidade, suportaram todas as agruras da ausência de conforto para as suas famílias? Onde estão os poetas militantes que escreveram sobre uma Angola Livre e Democrática e que foram alvo de todas as torturas? Onde estão os filhos genuínos daquele MPLA que tantos angolanos fez orgulhar a ponto de deixarem a sua família para serem presos de consciência de um tempo de ditadura? Onde estão?

Onde estão as avós, senhoras de princípios, que educaram tantas gerações e que ainda são a reserva moral da Nação? Onde estão os pioneiros, vossos filhos e netos, que acreditaram em todas as palavras de ordem de todos os deveres revolucionários? Que exemplo lhes estais a deixar?

Hoje, o que resta é um partido remendado, como aqueles remendos que as avós cosiam nos joelhos das calças que deixavam de poder ser vistas em público. Um partido cuja postura é cada vez mais difícil de ser entendida e de ser defendida. Um partido onde muitos bons militantes foram "encaixotados" e postos na prateleira por terem assumido uma opinião ou uma posição. Um partido que aceita ser representado por uns miúdos atrevidos, ingratos que estão a envelhecer na arrogância, que carregam "qualquer pasta", que incentivam a mentira, pois é neste curvar de espinha que conquistam os relógios de ouro, os carros de luxo, a soberba e uma vida que é prova do estrabismo da sua ambição e têm protecção institucional não obstante o ridículo da sua postura e a deselegância da sua falta de humildade durante o seu instante de glória.

No tempo em que o País ainda não era nosso, altura de forte perseguição aos sonhos nacionalistas, gente digna conseguiu congregar todas as cores e credos, todas as opiniões e idades, gente do Norte e do Sul, pessoas de todas as classes sociais. Havia um projecto. Havia um caminho. Mas tinham, sobretudo, um desejo de transformar Angola num sítio melhor para um povo que vivia amordaçado dentro da sua própria casa.

A salvação são vocês. Militantes preteridos, não obstante a vida que dedicaram à causa. Militantes convictos, que amam o vosso partido, que sentem saudades do tempo em que o partido tinha dignidade. Militantes que estiveram em todos os momentos de decisão da história de Angola, que não hesitaram em enfrentar o medo e a estada em todos os Tarrafais e que sobreviveram ao 27 de Maio, tal como os imbondeiros não se vergaram não permitam que vos tirem a voz.