O culto da hierarquia e das premiações não é um produto cultural inconsciente. Não! Ele é propositado e cria estas situações que nos fazem sentir vergonha alheia. Em Angola, manter as distâncias entre os diferentes níveis e classes é muito importante. Títulos, premiações, formalidades, hierarquias, subserviências e "bajulâncias" andam interligados. Quanto mais desigualdades sociais, quanto mais diferenças de grupos, mais subserviência, mais "bajus" existem. Mas não vão os leitores pensar que isso é uma situação nova entre nós e que a actual gestão do BDA é pioneira. Desenganem-se! Isso dos prémios da vaidade tem história e trajectória, são os chamados "Vanity Awards", um verdadeiro marketing. É um verdadeiro negócio para os promotores e também para os tais premiados. É uma operação de cosmética, um serviço de marketing para dar a falsa aparência de uma honra legítima.

Temos a memória de prémios atribuídos a governantes nossos por publicações internacionais e com grande barulho mediático interno, a ideia é mesmo esta: os prémios têm de vir de fora para que seja garantido o almejado "status".

Estas publicações abordam aqui instituições governamentais, instituições bancárias, governantes, empresários e algumas figuras públicas. Soube da história de uma ministra que orientou membros do seu staff para pagarem prémios para si, porque outras colegas suas haviam feito o mesmo. Andam todos atrás dos prémios para impressionar quem manda e para manter o ego, o pseudo status e marcar distâncias. Acho que esta coisa de prémios da vaidade é uma coisa de "chicos - espertos", é querer iludir o pessoal com certa falsa qualidade. Alguém terá escrito que existem dois tipos de " chicos-espertos": o esperto e o burro. O esperto é aquele com quem perdemos algum tempo até nos apercebermos da proposta descabida que nos foi feita. Com o tipo burro, antes de acabar, já o topámos. Esse último é por norma mais arrogante, porque pensa que os outros são menos inteligentes do que ele.

A verdadeira honra não está em receber prémios, mas, sim, em ser justo merecedor dos mesmos. É que se gasta dinheiro público para receber prémios que servem apenas para alimentar egos, para criar uma imagem de competências, para se enganarem colaboradores e os cidadãos. No País da ignorância, onde a nulidade é uma realidade, na realidade acabam sendo pessoas sem noção do real e do ridículo, que não percebem que os cidadãos já não valorizam isto e já vão sabendo dos meandros das coisas. No meio delas, existem até pessoas com valor real, mas que infelizmente se perdem numa vaidade desmedida, numa busca por protagonismo e status. Passámos a ter o culto dos prémios, é pagar aqui dentro para receber prémios lá fora e, assim, abafar certas incompetências e fracassos.

Os promotores destes prémios já toparam a apetência da nossa malta pelos prémios e títulos, descobrindo aqui um bom mercado para os seus negócios. Gostamos de fazer "banga", a tal vaidade. Pagar para parecer e aparecer. "Foge cão que te fazem barão, mas para onde se me fazem visconde?", escreveu Almeida Garrett. É que aqui já muitos sabem destes esquemas e ficamos calados. Discutir factos e opiniões aqui no nosso País passou a ser uma afronta, escrutinar e condenar estas atitudes constitui uma ofensa. Somos um País assim, um País em que gestores públicos e privados retiram dinheiro das instituições para se auto-promoverem com compras de prémios e títulos, em que passa a ser uma maneira para camuflar incompetências e falta de capacidade de gestão. Tudo serve para impressionar, para ludibriar e para alimentar a nossa vaidade. Essas acções envergonham o País, as instituições e os seus colaboradores. Há anos que se vive destes esquemas de vaidades e egos. É mau e deve ser reprovado.

Gostamos tantos de títulos e honrarias, que somos um País que tem no seu histórico um Arquitecto da Paz, um Muata da Paz e agora o Campeão da Paz, já só nos falta o Prémio Nobel da Paz, para aumentar a nossa vaidade, a nossa banga. Somos assim, não devia ser assim, mas continuamos a ser assim. Quem é que nos vai tirar a vaidade? Quem?