A famosa ideia segundo a qual "na hora de convencer o eleitorado os dados, argumentos e evidencias têm menos valor e influencia do que os apelos às emoções e às crenças que cada um tem em relação aos candidatos e ao que deles se fala", que ao longo dos anos se vem consolidando como cultura política em Angola, reduziu quase todas as oportunidades de debate entre as várias visões de País, em sucessivos apelos ao voto de maneira acrítica, desconectando-se da necessidade de se questionar, em relação a maior parte das propostas eleitorais apresentadas, o que se pretende fazer, como se vai fazer, quanto custa e em quanto tempo teremos de esperar para que os resultados prometidos se concretizem.
E diante de toda esta situação, como se diz por aí, "para dar mais raiva" àqueles que, como eu, esperavam ouvir mais ideias dos vários candidatos sobre as propostas de governação que fazem ao eleitorado, os órgãos de comunicação públicos e tutelados pelo Executivo actuaram de maneira imparcial em favor de um dos concorrentes, afundando ainda mais o processo no lamaçal da bajulação repudiada por parte significativa da sociedade...
Sem pretender ser demasiadamente pessimista, eu não consigo vislumbrar o País brilhar em termos de desenvolvimento económico e social inclusivo depois deste pleito eleitoral, se o declarado vencedor não for ousado e nem se atrever a alterar a relação deformada, muitas vezes promíscua, estabelecida entre algumas elites políticas e certos interesses privados capitaneados por alguns empresários, líderes religiosos, jornalistas, fazedores de cultura, académicos, actores da sociedade civil e tantos outros. Tudo se arregimentou em nome dessa maldita ideia segundo a qual "apoio determinado candidato em função do que me pode proporcionar ao nível individual e não necessariamente porque possui excelentes ideias e perfeitas condições para colocar o País na rota do progresso económico e social"...
Atrevo-me mesmo a pensar que, para ser melhor sucedido e conseguir implantar seus planos de governo em matéria de desenvolvimento económico e social como está a ser prometido aos cidadãos, o candidato declarado vencedor, nas vestes de presidente da República, precisa de convencer a si e a todos os os militantes, simpatizantes, familiares e amigos do seu Partido, de forma particular e de forma mais geral toda a sua base de apoio, de que é preciso erradicar o patrocínio político e para tal o interesse colectivo deverá estar acima dos interesses particulares. E mesmo que digam que no mundo inteiro nem sempre ocorre assim, o problema é que, em Angola, exercer um cargo público, estar em frente das instituições ou estar próximo de quem detém o poder se transformou, para muitas pessoas, em negócio. Daí nasceu a bajulação e a corrupção sistémica e, mesmo reconhecido tais factos, os desafios ainda prevalecem e acredito que, mais do que ideias em relação ao que se vai fazer em prol do desenvolvimento económico, as questões da corrupção e bajulação devem merecer um tratamento privilegiado.
Vem de longe esse terrível defeito do nosso sistema político. Muitas vezes, a estratégia política para vitória eleitoral não se preocupa com os meios para atingir os fins e acaba por atrair apoios de pessoas e instituições que, uma vez conquistada a vitória, vão exigir ao candidato vencedor regalias e benesses imerecidas em detrimento de bens e serviços públicos adequados para a maioria da população.
Haverá programa de governação que resistirá a tudo isso? Uma vez alguém me disse: "mesmo que um programa de governo tenha falhas ou imprecisões, as correcções e emendas podem sempre ocorrer, se as instituições e pessoas que dele fazem parte não estiverem sumidas no lamaçal que configura a corrupção e a bajulação". Nesse sentido, os concorrentes ao pleito eleitoral disseram-nos o que passariam a fazer diferente para evitar o patrocínio político que tanto mal pode causar à nossa economia?
Coordenador do OPSA*