No dia 24 de Agosto, o meu irmão mais velho, Joaquim Augusto Laureano, faria 66 anos se não tivesse partido em Dezembro do ano passado, após uma luta contra um cancro no estômago. Após ter recebido a informação que lhe restavam alguns meses de vida, o mano Joaquinito soube preparar a sua saída deste mundo com dignidade. Na verdade, o importante não é a forma como viemos para o mundo, mas, sim, como o deixámos e o que deixámos.

Fiquei impressionado quando ouvi da viúva e minha cunhada, a mana Alice, a forma como o esposo, o mano Joaquinito, se preparou para partir. Agora e por altura da comemoração dos seus 66 anos, o meu irmão Armando Laureano "Nando" também me contou pormenores desta sua partida. A forma como me passou a evitar parece que não o visse numa situação fragilizada e já bastante debilitado pela doença. A forma e a coragem como organizou a sua "saída" deste mundo é que foram impressionantes. Ele vivia na Baixa da Banheira (Moita - Portugal) e foi à Segurança Social (sempre acompanhado da mana Alice) para tratar de tudo. Esteve nas Finanças para tratar de contas, esteve na agência funerária para tratar e pagar o serviço fúnebre, escolheu-me para fazer o elogio fúnebre (soube da mana Alice e após a sua morte), despediu-se dos irmãos e depois se recolheu junto da esposa e filhas para partir em paz. O mano Joaquinito soube estar na vida e soube sair na hora da partida.

Não é bem como começa, mas, sim, como acaba. Esta semana, estive em Lisboa com um amigo que me contou que se decidiu a sair de um casamento de quase 25 anos. E decidiu-se sair porque percebeu que tanto ele como a mulher já viviam um casamento de fachada, que se sabiam ou desconfiavam que se andavam a enganar um ao outro há quase uma década e que nenhum tinha coragem de sair.

Ambos tinham consciência de que já não havia mais "lenha por onde arder", mas ninguém tinha coragem de sair. Esta semana deixa o NJ o jovem Jorge Batalha, um estudante universitário que, no dia 08 de Agosto de 2021, entrava no nosso jornal como um caloiro, como um aprendiz do ofício. Há um mês veio até à minha sala e anunciou-me que se iria embora. Era a sua altura de partir, como um filho que sai de casa dos seus progenitores, que entende que tem de crescer e de conhecer o mundo lá fora. Disse-lhe que não existiam contratos vitalícios e que esta (a hora da saída) é uma hora que chega a todos. Temos de saber quando e como sair. Temos de arriscar sair e ainda que o que encontrarmos depois não for agradável. Nas duas últimas empresas onde estive antes de estar no NJ, saí por não concordar com a visão e estratégia adoptadas, em ambas saí sempre pela porta onde entrei: a porta da frente! E o tempo veio mostrar que estava certo na decisão.

Na vida profissional, não nos devemos apegar aos cargos e lugares. Da mesma forma que exigimos liberdade na nossa actividade, temos de deixar livre quem quer partir e termos também a liberdade de exigir a nós mesmos e aos outros que temos de saber sair.

O mano Joaquinito soube estar até ao último dia da sua vida e soube partir deste mundo. O jovem Jorge Batalha trabalhou com empenho e dedicação até ao seu último "Pato Bravo" (nome do fecho do NJ) e soube sair. Na realidade, eles nunca saíram, estão sempre aí onde deixaram a sua semente e criaram uma forte irmandade. O segredo é sempre saber sair.