Quem nunca passou horas numa fila, esperando pacientemente a sua vez para apresentar um documento que, no fim, é devolvido com a lacónica frase: "Não há sistema"? Ou então, quem nunca ouviu a clássica: "Volte amanhã, talvez esteja pronto"? Ou ainda: "Não há cédulas"? Assim, dia após dia, a vida do angolano médio se resume a uma peregrinação por repartições públicas, cada uma com suas próprias regras e exigências, num jogo de empurra-empurra que parece não ter fim. É uma terra de "volte amanhã", onde o amanhã é um dia que, curiosamente, nunca chega. Aqui, as filas são mais longas que as esperanças e os sorrisos são tão raros quanto os documentos prontos.

A burocracia é uma verdadeira fábrica de frustração. É a capacidade de transformar um processo simples em uma verdadeira odisseia, capaz de esgotar a paciência de qualquer santo. É a arte de criar obstáculos onde não existem, de transformar um documento num objecto de desejo, a ser perseguido incansavelmente.

As consequências dessa burocracia excessiva são muitas e variadas. Em primeiro lugar, há o enorme desperdício de tempo. Horas, dias, semanas são perdidos em filas, em idas e vindas às repartições públicas. Tempo que poderia ser utilizado para trabalhar, estudar, ou simplesmente descansar. Em segundo lugar, há o impacto na economia. A burocracia gera custos, tanto para o Estado, que precisa manter um grande aparato administrativo, como para os cidadãos, que perdem dias de trabalho e precisam arcar com custos de transporte e, por vezes, não resistem e "agilizam o processo com gasosa".

Mas, além dos aspectos práticos, a burocracia também tem um impacto psicológico nas pessoas. A sensação de impotência, a frustração, a perda de tempo, tudo isso contribui para um sentimento de desânimo e descrença nas instituições. Afinal, se para obter um simples documento é preciso passar por tantas dificuldades, como acreditar que os problemas mais complexos da sociedade serão resolvidos?

É claro que a burocracia não é um problema exclusivo de Angola. É um mal que aflige muitos países em desenvolvimento. No entanto, em Angola, ela parece ter adquirido contornos ainda mais dramáticos, transformando-se numa verdadeira praga social.

Apesar da subida dos valores dos emolumentos, os verbetes continuam a ser carimbados regularmente, a renovação de cartas de condução mais parece ser uma prova de vida com a visita mensal para receber um novo papel, para mais trinta dias. As novas matrículas saem a conta-gotas e uma segunda matrícula é um processo pesaroso. A validade da inspecção periódica é encurtada por razões não esclarecidas. Os processos do SIMPLIFICA são bonitos no papel, mas, na prática, a burocracia rende.