Quer a campanha eleitoral, quer os resultados alcançados revelaram uma grande radicalização política, com contornos que permitem perspectivar o futuro, é útil e proveitoso que analisemos o que ocorreu na campanha.

É que, ao antecipar-se à eventual iniciativa do PSOE, a presidente da Comunidade de Madrid fez uma correcta avaliação sobre as consequências políticas favoráveis que adviriam para o Partido Popular (PP), de que é militante, e também para si própria.

Na verdade, era admissível, como sucedeu, que o partido Ciudadanos, com quem o PP estava coligado na governação da Comunidade de Madrid, decrescesse significativamente de votos, reforçando, assim, o seu próprio partido, o PP, de tal forma que deixou de ter representação parlamentar

Convém ter presente que os Ciudadanos resultaram de uma cisão com o próprio PP e iniciaram uma queda eleitoral após as últimas eleições na região da Catalunha.

Como previsto, Isabel Ayuso reforçou a sua credibilidade política nas eleições para a Comunidade de Madrid, sendo o PP o partido mais votado ficando à beira da maioria absoluta, podendo vir a pôr em causa o próprio presidente do PP, Pablo Casales.

Durante a campanha, Isabel Ayuso não rejeitou, caso não tivesse maioria absoluta, fazer uma coligação com o partido VOX, herdeiro do movimento falangista de Franco, conotado com a extrema-direita e que também nas últimas eleições para a região da Catalunha passou a ter representação parlamentar, que antes não tinha, mas tal poderá não vir a ser necessário por o PP ter alcançado mais deputados que toda a esquerda junta.

O facto de o partido Mais Madrid, uma cisão do Podemos, que fez candidatar à Comunidade de Madrid uma médica prestigiada, Angel Gabilondo, ter tido resultados muito encorajadores, superiores ao PSOE, com este a decrescer muito e com o PODEMOS de Pablo Iglesias a não cair eleitoralmente tanto como seria previsível, caso o próprio líder do partido não se tivesse candidatado, colocou a esquerda no seu conjunto numa situação mais frágil do que era espectável e muito pressionada pela radicalização da direita.

Apesar de o Podemos ter alcançado uma percentagem eleitoral superior à que era espectável caso o seu líder, Pablo Iglésias, não se tivesse candidatado, este entendeu demitir-se de todos os cargos que ocupava, incluindo o de líder do partido.

Esta forte radicalização, com o PP e o VOX, partido da extrema-direita, no mesmo comprimento de onda, é um dado novo na política espanhola e de alguma maneira semelhante ao que ocorre em França com o reforço da candidatura de Marie Le Pen às próximas eleições presidenciais, a ocorrerem já em Abril do próximo ano.

Não admira, por isso, que algumas personalidades de esquerda em Espanha tivessem recebido durante a campanha eleitoral ameaças de morte.

É, por tudo isto, muito útil e proveitoso avaliar-se a evolução futura dos novos ventos de Espanha, que não deixarão de ter efeitos nas eleições legislativas, face ao forte crescimento do PP e ao decréscimo significativo do PSOE, que teve menos votos que o partido MAIS MADRID, repete-se.

*(Secretário-geral da UCCLA)