Na sua intervenção, igualmente no âmbito da Presidência em Exercício da União Africana, João Lourenço lamentou, num contexto em que a Saúde global é o pilar dos trabalhos, e depois de lembrar os desafios dos últimos 25 anos, dando o exemplo da Covid, que os problemas estão longe de estarem ultrapassados.

"Preocupa-nos constatar que a perspectiva de se materializar a Agenda Global da Saúde e a Agenda 2063 da União Africana, vai-se afastando ao ritmo da fragilização contínua dos nossos respectivos sistemas de saúde", advertiu.

E chamou a atenção para a condição de, sobrecarga dos sistemas de saúde africanos que estão e são "afectados por crises económicas persistentes, sob a pressão recorrente de conflitos armados e severamente impactados pelas epidemias, pandemias e as alterações climáticas".

Mas, num tom de desafio e esperança, o Presidente da UA, apontou como sua convicção que "é nas situações de crise que surgem as oportunidades e o dever de redefinir paradigmas, para construir um futuro de maior equidade e resiliência".

Resiliência que, alertou, se "forja na adversidade e se reforça com a solidariedade, não apenas para o continente africano, mas para todo o mundo".

"Tal como acontece em matéria ambiental, os países africanos raramente representam o ponto de partida das crises, embora estejam quase sempre na linha da frente do grupo de vítimas destas crises que transcendem fronteiras", lamentou.

"Em matéria de saúde, observamos a mesma dinâmica, em que cada retrocesso do apoio global tem um impacto decididamente negativo nos nossos sistemas de saúde, com consequências directas na vida dos nossos cidadãos e particularmente das nossas crianças, o que põe claramente em perigo a sustentabilidade do desenvolvimento socioeconómico do continente africano", avisou.

Defendeu a necessidade global de defesa da OMS, enquanto "parceiro essencial para a maioria dos países africanos, muito especialmente em momentos de necessidade, de aflição, pela grande utilidade e oportunidade dos seus programas técnicos, dos seus sistemas de alerta precoce e das suas operações no terreno, que não podem ser postas em causa por indefinições de natureza financeira e muito menos política".

"Não tenhamos dúvidas de que o mundo precisa de uma Organização Mundial da Saúde mais forte, com financiamento sustentável e previsível, para garantir a sua plena operacionalidade", notou.

Defendeu "passos concretos rumo à cobertura universal de saúde", um ideal que considerou que deve ser perseguido "sem tréguas até que se torne uma realidade", aproveitando para falar do exemplo angolano, sobre o qual disse ter orgulho, dando como um dos exemplos a queda dos números da mortalidade infantil, de menores de cinco anos e ainda a mortalidade materna.

E como Presidente em exercício da UA apontou como essencial que África "deve ser parte activa da solução global de saúde como parceira plena, com capacidade de produção, centros de inovação e redes de investigação próprias".

Chamou a atenção para a importância do reforço da colaboração entre a UA e a OMS, fez menção aos riscos concomitantes às alterações climáticas que estão "a alterar o perfil sanitário da saúde em África" devido às doenças oportunistas e à insegurança alimentar que vem no seu rasto devido a secas e cheias mais prolongados e violentas.

"Em África, enfrentamos uma reversão alarmante de mais de duas décadas de progresso nos resultados de saúde. A ameaça tripla de redução do financiamento externo, aumento dos encargos da dívida e um aumento acentuado nos surtos de doenças está a levar os nossos sistemas de saúde ao limite", avisou.

Para ultrapassar alguns destes problemas, João Lourenço preconiza "aumentar o financiamento doméstico e alinhar os fundos externos com os planos nacionais, desenvolver e implantar mecanismos de financiamento inovadores, incluindo fundos de solidariedade, títulos de saúde e esquemas de seguro regionais, alavancar o financiamento misto para investir em infra-estrutura, cadeias de suprimentos e fabricação local".

"Tudo isso deve ser sustentado por boa governança, estando Angola totalmente comprometida com este caminho", salientou.