O velório de José Eduardo dos Santos, em Luanda, está instalado na Praça da República, onde na tarde desta segunda-feira,11, foi registada uma pequena afluência de cidadãos anónimos, que se dirigiram ao local para render homenagem ao ex-Chefe de Estado.

Após a abertura ao público, no período da tarde, milhares de fiéis da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo (Tocoísta) e de militantes da Organização da Mulher Angolana (OMA) preencheram a Praça da República para homenagear JES. Logo depois, vários cidadãos anónimos provenientes de várias zonas da província de Luanda comparecerem ao velório para renderem também a sua homenagem.

À volta da tenda montada para o velório, vários são os cartazes e imagens de "Zédu" a expressarem gratidão: "adeus Presidente amigo, até sempre", "um bom patriota", "Zédu, um homem do povo", "obrigado pelo contributo", lê-se.

No velório do ex-Presidente da República há um palco montado, onde o som da orquestra ecoa pelo recinto. A guarda de honra está perfilada junto a uma foto gigantesca de José Eduardo dos Santos, rodeada de flores brancas, um cenário de óbito.

Marta Miguel, Francisca António, Felisbela Margarida, cidadãos com quem o Novo Jornal conversou, disseram que não pertencem a nenhuma filiação política, mas gostavam de José Eduardo dos Santos como Chefe de Estado.

Residentes na Chicala, nas proximidades no Memorial Dr. António Agostinho Neto, as mulheres peixeiras contaram que tiraram o dia para renderem homenagem ao antigo Presidente.

"Ele foi um pai para nós. Não conhecemos outro Presidente senão ele", contaram as mulheres, expressando o desejo de ver a urna do ex-Presidente em Luanda.

Fausto Alexandre, Arlindo Dala, Rock Nacimento são dois jovens que aproveitaram o período da tarde para renderem homenagem ao antigo Presidente que consideraram ser "um grande homem e criatura de carácter".

Inúmeras pessoas rubricaram o livro de honra aberto ao público no local, escrevendo que JES era "um grande estadista e arquitecto da paz e reconciliação nacional".

Outros expressaram que o nome José Eduardo dos Santos permanecerá na história de Angola para sempre.

O velório decorreu num clima calmo, sem muita intensidade emocional e com vários cidadãos a lamentarem a ausência de corpo presente.

Cidadãos anónimos apelam que haja entendimento entre a família de JES e o Governo para que Zédu seja enterrado em Angola, "com as honras de Estado a que tem direito".

Fernando Rufino e Moisés Moisés (nomes fictícios), pertencentes à Casa de Segurança do Presidente da República, disseram que foram escoltas da equipa de segurança de JES e querem ver JES enterrado em Angola.

"Trabalhámos com ele durante muitos anos e sabemos que o Presidente amava Angola. Não fica bem um homem daquela dimensão ser sepultado em Espanha. Que os filhos e o Governo cheguem mesmo a um consenso e ultrapassem as diferenças", disseram consternados os ex-seguranças.

Quem também quer ver o corpo de JES no País são os cidadãos Joaquim Santos, funcionário bancário, e Paulo Adão, engenheiro-agrónomo, que pedem à família de JES e ao Governo que coloquem fim de uma vez por todas a esta disputa "para que a alma de JES descanse em Paz".

A anciã da igreja Tocoísta, Marta Afonso, recorda que JES foi um homem que ajudou a apaziguar os conflitos da igreja e fortaleceu o tocoísmo pela união.

O fundador da orquestra sinfónica Kapossoca, Pedro Fancony, afirmou que José Eduardo dos Santos apoiava a orquestra e contribuiu para retirar muitas crianças da delinquência.

Na Praça da República, onde decorre o velório público, é fácil encontrar vários rostos tristes de políticos, governantes, militares, polícias e várias outras pessoas.

José Eduardo dos Santos foi Presidente da República entre 1979 a 2017. Nasceu a 28 de Agosto 1942, em Luanda, ingressou na vida política em 1958.

Foi eleito líder do MPLA e Presidente da República em 1979, após a morte, em Moscovo, Rússia, do primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto. JES retirou-se da vida política activa em Setembro de 2018 e completaria 80 anos no próximo dia 28 de Agosto.

Resultados provisórios da autópsia ao corpo de JES afastam possibilidade de envenenamento

Os resultados provisórios da autópsia ao corpo do antigo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, realizada no sábado pela equipa médica do Instituto de Medicina Legal da Catalunha, Espanha, afastam qualquer possibilidade de envenenamento como causa da sua morte.

A informação foi avançada esta segunda-feira pela Televisão Pública de Angola (TPA), que cita o Procurador-Geral da República, Hélder Pitta Grós. O pedido de autópsia foi feito pela filha, Tchizé dos Santos, após a confirmação da morte pelo corpo clínico.

Em entrevista à estação televisiva portuguesa CNN, Tchizé dos Santos, que recusa a transladação do corpo do pai para Angola, disse não saber ainda se a irmã Isabel dos Santos iria a um eventual funeral na capital angolana, mas afirmou que será um "grande erro" se tal acontecer.

"A menos que cometa o grande erro de chegar a algum tipo de acordo", disse Tchizé .

"Se for ao funeral, será vista como uma grande traidora, como João Lourenço", assegurou Welwitschia dos Santos, também conhecida como "Tchizé".

Tchizé dos Santos voltou a afirmar que não vai, de forma alguma, participar em cerimónias fúnebres em Angola e que também não vai "vender o corpo" do pai, que morreu na passada sexta-feira, 08, em Barcelona, Espanha.