Téte Antonio e Serguei Lavrov encabeçam as delegações dos dois países, que mantêm hoje o primeiro encontro bilateral enquadrado na visita do chefe da diplomacia russo ao país, inserida numa série de contactos com parceiros africanos.
Num discurso que antecedeu o encontro entre as duas delegações Téte António reafirmou o compromisso no fortalecimento e aperfeiçoamento nos laços de amizade e cooperação que unem os dois países, mas falou da ameaça que o conflito russo-ucarniano representa para a paz mundial e insistiu na procura de uma solução através do diálogo
"Teremos ainda oportunidade de continuar a abordar essa questão, tendo em conta a sua experiência estaremos muito atento a escutar a sua análise sobre este diferendo", disse Téte António a Serguei Lavrov, encorajando as autoridades russas a "dar uma chance para o resgate do estatuto e do prestígio do país, estabelecendo, como defendeu o Presidente angolano, um cessar-fogo definitivo que possa restabelecer um clima de paz mundial".
Lavrov, por seu turno, assinalou que "as boas relações entre Rússia e Angola não estão sujeitas a peripécias geopolíticas e baseiam-se no espírito de solidariedade e apoio mútuo".
"O povo angolano sabe bem qual é o preço da independência, qual o preço do livre exercício dos direitos tradicionais dos direitos de cada angolano", disse o chefe da diplomacia russa, que responsabilizou a Ucrânia pelo conflito.
A Rússia foi um dos principais apoiantes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder) na guerra civil angolana.
Enquanto discursava o ministro russo, os jornalistas que acompanhavam o encontro foram informados que teriam de abandonar a sala, uma situação que fez com que Lavrov questionasse a retirada da imprensa.
Segundo funcionários do Mirex, Téte Antonio terá indicado que os jornalistas se poderiam manter na sala, mas o `staff` da embaixada russa contrariou a orientação, pelo que todos os profissionais de comunicação acabaram mesmo por abandonar a sala onde decorre ainda o encontro bilateral, que deverá ser seguido por uma conferência de imprensa.
Lavrov compara conflito actual com guerra em Angola, quando a URSS apoiou o MPLA
O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov fez hoje em Luanda uma comparação entre o conflito na Ucrânia e a guerra em Angola, numa viagem onde procurou apoio às posições de Moscovo em relação a Kiev.
Em causa, explicou o ministro russo num encontro com o seu homólogo angolano, Téte António, está o facto de Kiev estar a prejudicar os russófonos do país, levando Moscovo a ter de intervir para proteger essa parte da população.
"O mesmo conflito baseado na vontade da população de defender os seus direitos deflagrou na Ucrânia depois do golpe inconstitucional, depois do golpe de Estado militar e sangrento chegaram ao poder os nazis, neonazis declarados inclusive que apelavam a matar os russos, os judeus, os polacos", disse Lavrov, numa referência à deposição, em 2014, do Presidente eleito, Viktor Yanukovytch.
Na ocasião, a Rússia ocupou a península da Crimeia e o leste da Ucrânia, um conflito que continuou em fevereiro 2022 com uma invasão russa do resto do país, classificada por Moscovo como uma operação especial.
Lavrov disse que Rússia tentou por vários meios acabar com esse conflito, mas apesar disso o regime de Kiev optou pela deflagração deste conflito, proibindo a língua e cultura russas e convidando os que associam a ela a abandonar o país.
"O Ocidente não reagiu as essas declarações racistas e colonialistas. Mais ainda, os EUA e seus aliados fizeram tudo para cultivar esse ódio e transformar a Ucrânia numa praça de armas tendo objectivo de colocar lá bases militares e criar ameaça a toda a região", disse Lavrov.
O "objectivo declarado" dessa estratégia era "envolver e atrair a Ucrânia para a Nato", afirmou, recordando o apoio da então União Soviética ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder) na sua guerra contra Portugal e depois na guerra civil, contra a União para a Independência Total de Angola (UNITA), apoiada pelos Estados Unidos e pelo regime do "apartheid" da África do Sul.
"O povo angolano sabe bem qual é o preço da independência, qual o preço do livre exercício dos direitos tradicionais dos direitos de cada angolano e, da mesma maneira, Angola participa (agora) activamente no esforço do estabelecimento da paz noutros países para segurança, paz e prosperidade nesses países", vincou, fazendo uma comparação entre os dois conflitos.
As relações entre Moscovo e o partido no poder em Angola têm as relações que "remontam a longos anos atrás, ao período da guerra da libertação", realçando o objectivo de chegar a uma parceria estratégica entre os dois países.
Lavrov elogiou também a posição "equilibrada" de Angola nas Nações Unidas sobre decisões, "que dividem a comunidade internacional, nomeadamente as resoluções relativas ao conflito na Ucrânia".
Angola quer diálogo inclusivo
Já Téte Antonio salientou que, no âmbito regional Angola privilegia o diálogo inclusivo, os compromissos políticos assentes no interesse nacional para o restabelecimento da ordem constitucional e para garantir a estabilidade dos países em conflito, respeitando sempre o princípio da não-ingerência nos assuntos internos de cada estado.
Angola defende também a via negocial e a procura de uma solução mutuamente aceite, prosseguiu, realçando a luta contra todos os flagelos que afectam a estabilidade e o desenvolvimento e primando pelo respeito do direito internacional.
O encontro é também "oportunidade de ouro de ter o privilégio de escutar a vossa análise, opinião, sobre o conflito que hoje afecta o mundo", afirmou Téte Antonio, referindo-se à guerra entre a Rússia e Ucrânia e sublinhando a preocupação com inúmeras baixas humanas e destruição de infra-estruturas.
O governante angolano frisou que a guerra constitui uma séria ameaça à paz e segurança internacionais e que " todas as nações do mundo são vítimas de maneira variável deste conflito", mostrando-se preocupado com a degradação exponencial da situação no térreo.
Perante esta situação que afecta dois países aos quais Angola está ligado na história, o chefe da diplomacia angolana defendeu o princípio da procura da solução através do diálogo, incluindo uma cessação das hostilidades.