O MPLA, através do seu secretário provincial, Bento Bento, procurou apontar o dedo à UNITA logo após aquilo que considerou um "ataque" à sede do seu partido no Benfica, pelo fogo e pela destruição à força de braços de equipamentos pelas centenas de jovens que o protagonizaram.

Este dirigente do MPLA, uma das caras mais reconhecidas do partido entre os seus quadros superiores, disse mesmo que o partido do "Galo Negro" teria de dar explicações sobre este ataque porque foram vistos elementos com vestuário com as cores da UNITA entre os indivíduos que incendiaram a sede distrital do Benfica.

Nesta sucessão de acontecimentos, despoletados pela greve dos taxistas, que, além da destruição da sede do MPLA no Benfica, teve ainda como foco da atenção dos milhares de manifestantes, as bandeiras do MPLA espalhadas por algumas zonas da cidade, muitas delas queimadas e rasgadas, Bento Bento perguntava aos microfones da TPA e da TV Zimbo qual a relação entre o protesto laboral e as chamas que devoraram o edifício.

Bento Bento disse mesmo ter-se tratado de um ataque enquadrado por um plano "inteligentemente elaborado", apontando claramente o dedo ao antigo oponente militar, que o MPLA tem vindo a chamar a atenção para que este tipo de ataques estavam a ser preparados, exigindo, directamente, explicações ao maior partido da oposição: "A UNITA tem de explicar, tem de dizer alguma coisa".

Com o MPLA, através do seu secretário-provincial, a colocar esta vandalização da sede do partido no Benfica como um acto que teve a UNITA por detrás, o que resulta daí é que, pela primeira vez em 20 anos de paz - que se comemoram este ano, a 04 de Abril -, este tipo de violência, e com esta dimensão, lança luz sobre antigos fantasmas que, como têm reafirmado ambos os lados das antigas trincheiras, não querem ver de novo a assombrar o País.

Isso mesmo veio dizer o secretário-provincial da UNITA, Nelito Ekuikui, que, em declarações ao Novo Jornal, disse que o dirigente do MPLA, Bento Bento, deveria preocupar-se mais com a resolução do desemprego e da pobreza que afectam a província, como, de resto, todo o País, em vez de apontar o dedo à UNITA para esconder estes problemas, que são o "combustível" por detrás da insatisfação popular.

Recorde-se que, apesar de não haver uma comprovada situação análoga do lado da UNITA, este partido tem , ao longo dos anos, alertado para múltiplas situações de intolerância política contra os seus militantes no interior do País, tendo um ataque a uma caravana, em 2016, no Kubal, onde seguia Adalberto Costa Júnior, feito três mortos, tendo acusado elementos ligados ao MPLA de terem estado por detrás deste episódio, como lembrou Ernesto Mulato ao Novo Jornal.

A polícia está a investigar o fio dos acontecimentos da passada segunda-feira, que começaram bem cedo, com as dificuldades sentidas por largos milhares de cidadãos que não encontraram táxis (candongueiros) nas paragens e foram forçados a percorrer grandes distâncias à pé.

Pouco depois surgiram os primeiros relatos de pneus a arder nas estradas de Viana, do Benfica e de Cacuaco, para os foram deslocados centenas de elementos das Forças de Segurança, incluindo da Polícia de Intervenção Rápida.

E, já perto do meio da manhã, surgem nas redes sociais as imagens mais contundentes do dia, com um autocarro ligado ao sector da saúde a ser apedrejado e incendiado e o ataque à sede do MPLA no Benfica, com uma fogueira onde foram queimados documentos e, depois, com o arrombamento dos portões e a destruição de geradores e aparelhos de ar-condicionado, ou dos placards que identificavam o edifício como sendo uma sede do MPLA...

Ao final da manhã, a situação estava controlada com as ruas limpas de manifestantes por centenas de elementos das forças de segurança. E foi então que a política se chegou à frente, primeiro com as declarações incendiárias de Bento Bento, e depois com as reacções dos partidos da oposição, desde logo da UNITA, que fora visada directamente, e ainda do Bureau Político do MPLA que, ao contrário do secretário provincial de Luanda, não enveredou pelas acusações por provar de que o partido do "Galo Negro" estivera por detrás dos acontecimentos, como pode reler aqui.