Os profissionais da imprensa foram intimidados e ameaçados por manifestantes durante a cobertura da marcha que juntou no sábado, em Luanda, milhares de apoiantes e simpatizantes da UNITA e outros partidos da oposição angolana, bem como membros da sociedade civil, exigindo eleições justas, livres e transparentes.

"O SJA condena veementemente esta atitude e qualifica-a como sendo uma obstrução ao exercício de liberdade de imprensa que é um direito fundamental que todas as entidades públicas e privadas devem respeitar", disse à Lusa o presidente do sindicato, Teixeira Cândido.

Sublinhou ainda que os jornalistas devem ter acesso às fontes sempre que há actividades públicas e que estes profissionais não são responsáveis pelo comportamento, tido como parcial, dos órgãos a que estão vinculados.

"O comportamento dos media, que a sociedade repudia, não é a responsabilidade dos jornalistas", reforçou, afirmando que se estes pudessem invocar objecção de consciência poderia nem haver informação.

"Estes jornalistas estão a fazer o seu melhor e não é agredindo, ou ameaçando, ou impedindo-os de fazer o seu trabalho que essa questão se resolve, porque é política e não jornalista. A tutela dos órgãos de comunicação social [públicos] é política e não jornalística", enfatizou.

Instado a comentar um comunicado difundido pelo Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social (MINTTICS), que lamentou a agressão e intimidação a que foram sujeitas as equipas de reportagem, solidarizando-se com os jornalistas e apelando às entidades de defesa dos jornalistas a não se calarem "diante da flagrante e condenável situação de intolerância política", Teixeira Cândido considerou que foi "despropositado".

"Foi despropositado, em primeiro lugar, quanto à referência às entidades que defendem a classe, como se precisassem de um impulso. O SJA sempre defendeu os jornalistas, filiados ou não, e sempre manifestou a sua solidariedade" afirmou.

Teixeira Cândido estranhou, por outro lado, que o MINTTICS "faça sair um comunicado só agora" e nunca se tenha pronunciado noutras ocasiões.

"Temos tido várias situações em que os jornalistas foram agredidos, detidos ou impedidos de fazer o seu trabalho e o ministério não se pronunciou. Por isso, foi uma surpresa", disse o responsável do SJA.

O sindicalista manifestou-se preocupado face aos riscos a que os jornalistas estão expostos e disse que a UNITA deve também zelar pela protecção dos jornalistas: "dado o clima que se vive devia solicitar à polícia que fizesse um cordão de segurança", sugeriu.

O presidente da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), Adalberto da Costa Júnior, dirigiu-se no sábado aos seus apoiantes, criticando os atos de intolerância contra a imprensa pública, afirmando que "os jornalistas não são culpados da censura na televisão pública".

"Os jornalistas que estão aqui a cobrir este acto levam as imagens, depois se as imagens não passam (isso) vem das ordens superiores, portanto os actos de intolerância não devem continuar", apelou.

Os dois canais estatais lamentaram a intimidação e tentativas de agressão de que foram vítimas os jornalistas.

A TPA queixou-se de intolerância, afirmando que o jornalista que fazia a cobertura teve de ir disfarçado para não ser identificado.

Numa nota da direcção, o canal público salientou que a UNITA solicitou cobertura jornalista da iniciativa, mas que, já no local, os integrantes da equipa de reportagem "depararam-se com um conjunto de insultos e ataques verbais e físicos, atentatórios" à sua integridade física e moral.

"Mais do que repudiar tamanha agressão, a TPA regista, com preocupação, que um partido político veja nos jornalistas adversários e transfira para estes frustrações pelo fracasso nas contendas com os seus reais contendores", lê-se no documento, em que o canal alerta ainda para o perigo que este tipo de comportamentos representa para a consolidação dos valores da democracia.

A TPA sublinha, por outro lado, que "enquanto a direcção da UNITA não se retratar publicamente, a TPA reserva-se no direito de proteger os seus jornalistas, não enviando equipas para cobrir actividades de iniciativa deste partido".

Quanto ao repórter da TV Zimbo (canal que pertencia ao grupo privado Medianova e foi nacionalizado no âmbito do programa de recuperação de activos construídos com fundos púbicos para o Estado angolano) foi alvo de intimidação quando se preparava para fazer um direto.

"Este sábado, simpatizantes, militantes e amigos da UNITA, não deixaram os jornalistas da TV Zimbo fazerem o seu trabalho, colocando em perigo a integridade física dos repórteres, que se viram forçados a interromper a cobertura e transmissão em directo no jornal às 13 horas e que até mereceu a abertura do respectivo noticiário", disse a direcção de informação num comunicado.

O canal pediu ainda à UNITA "que tenha uma cultura de paz e de cidadania, e que oriente os seus militantes, simpatizantes para que respeitem os valores consagrados na Constituição".

Presidente da UNITA condena ameaças a jornalistas e lamenta "censura permanente" em Angola

O presidente da UNITA criticou a "censura permanente" existente em Angola, que considerou estar na origem da intimidação de jornalistas dos canais públicos, sublinhando que as ameaças não partiram da direcção do partido.

Adalberto da Costa Júnior, que falava à Lusa sobre as ameaças de que foram alvo jornalistas dos canais públicos angolanos TPA e TV Zimbo que cobriam uma manifestação convocada pela UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), condenou as ameaças, "que não partiram da direcção da UNITA", mas lamentou também a exclusão de que o partido é alvo na cobertura mediática dos órgãos estatais.

Os profissionais da imprensa foram intimidados e ameaçados por manifestantes durante a cobertura da marcha que juntou no sábado, em Luanda, milhares de apoiantes e simpatizantes da UNITA e outros partidos da oposição angolana, bem como membros da sociedade civil, exigindo eleições justas, livres e transparentes.

O líder da UNITA sublinhou que não estava presente na altura em que os jornalistas foram alvo de ameaças, e que condenou o acto de intolerância logo na altura, mas criticou também a "censura permanente" e a "exclusão da UNITA", que aponta como causas para que "alguns jovens tenham tido um posicionamento mais exaltado".

"As causas estão nas práticas dos órgãos públicos que há muito enterraram a democracia e as referências do Estado de Direito", salientou o dirigente.

Adalberto da Costa Júnior sublinhou que se tratou de "uma grande manifestação de cidadania", que contou com a participação e intervenção de outros partidos e forças políticas, como o Bloco Democrático, o Partido da Renovação Social e o PRA-JÁ, assim como organizações da sociedade civil, iniciativas que, sistematicamente, são ignoradas pelos órgãos públicos, controlados pelo Estado angolano

O presidente da UNITA sublinhou que o partido tem uma postura de pluralidade, convidando sempre todos os meios a cobrir as suas actividades, embora estas não sejam posteriormente transmitidas na televisão.

Considerou ainda "vergonhoso" o posicionamento do governo (do MPLA, partido no poder há 45 anos) que controla os órgãos estatais "partidarizados", e que violam a lei de imprensa ao não assegurar uma cobertura imparcial e equilibrada das actividades da oposição

"João Lourenço tomou o poder e tornou-se pior do que o seu antecessor", disse Adalberto da Costa Júnior, lamentando também o posicionamento "vergonhoso" das direcções de informação dos canais públicos que emitiram comunicados condenando os actos contra jornalistas e responsabilizando a direcção da UNITA pelo sucedido.

"Uma palhaçada, a TPA e a Zimbo perderam completamente a vergonha", afirmou o político, demarcando-se, e à direcção da UNITA, do comportamento de "alguns manifestantes".

Defendeu ainda que, além do governo, também o Sindicato dos Jornalistas Angolanos deve "fazer mais do que está a fazer", em prol da pluralidade da informação.

"O problema não é só os jovens que se excedem, é o silêncio conivente" em torno da censura de que diz ser alvo a UNITA, assinalando que tudo o que foi mostrado nos canais públicos foram as imagens das alegadas tentativas de intimidação do jornalista para "esconder a fabulosa marcha" de sábado.

"Foi um ato de cidadania, uma marcha de abertura e de sã convivência, foi um acto de pluralidade e as televisões [públicas] não mostraram nada disso", contestou.

Realçou ainda que Angola vive já um período de campanha pré-eleitoral (estão previstas eleições gerais para 2022), "num jogo em que o árbitro não conhece as regras democráticas", mas avisou que o cidadão "já não é manipulável" e acompanha o que se passa pelas redes sociais.

Quanto à protecção dos jornalistas, reiterou que o partido vai continuar a convidar todos os jornalistas a acompanhar as suas iniciativas, e que essa responsabilidade pertence à polícia, que esteve presente" em grande número, na marcha de sábado, e cujo trabalho elogiou.

"Não podemos andar ao colo com cada pessoa, isso [protecção] terá de ser com a polícia nacional, que aliás esteve muito bem", concluiu.