No mesmo momento, o líder do partido do "Galo Negro" ainda teve tempo para dizer aos jornalistas que viu como um "passo importante" para a consolidação da democracia angolana a decisão do Presidente João Lourenço em devolver ao Parlamento a Lei das Eleições Gerais para lhe introduzir melhorias que garantam a lisura e a verdade eleitoral que não estavam garantidas, lembrando que vai ser necessário o MPLA perceber isso mesmo para que seja encontrado um consenso.

Já na sua intervenção para os milhares de pessoas que estavam no 1º de Maio, o líder da UNITA disse que o seu partido tem tudo para ser vencedor em 2022, "apesar das manobras" que estão em curso.

Costa Júnior disse ser essencial que seja conseguida a "unidade em torno do interesse nacional", aproveitando para voltar a criticar a postura dos órgãos de comunicação social públicos sujeitos às "ordens superiores" que impedem, por exemplo, que as televisões sob controlo do Estado "passem as imagens do que se passou hoje" em Luanda.

E criticou igualmente alguma "intolerância" para com os jornalistas da TPA e da TV Zimbo presentes no local por parte dos presentes, pedindo que não fossem maltratados porque "não são eles os responsáveis" pelo mau trabalho dessas empresas mas sim as "ordens superiores".

Defendeu que Angola "não pode ficar na cauda" da democracia africana, sem alternância democrática, dando como exemplo o que sucedeu recentemente na Zâmbia, em São Tomé e Príncipe e no Malawi, aproveitando para sublinhar que o MPLA não aceitou realizar eleições autárquicas "porque tem medo de perder".

"A Lei deve ser para todos e não para apenas defender os interesses da maioria", atacou, recolocando as baterias no MPLA, dizendo que o partido no poder "vai ser confrontado consigo próprio" por causa das contradições no âmbito da aprovação da Lei das Eleições Gerais.

Isto, porque a Lei polémica das Eleições Gerais foi votada pelos dirigentes do MPLA e foi o líder do MPLA, enfatizando o facto de o PR também ser líder do MPLA, que, ouvindo as vozes da oposição, decidiu por devolver a Lei ao Parlamento.

E notou que "agora vem a hora da verdade, o jogo da verdade", exemplificando com a questão da CNE e a forma como este organismo central no processo eleitoral funciona, dizendo, em tom humorado, que o novo edifício deste órgão está localizado próximo do Palácio Presidencial e que "existe" um "túnel" entre os dois edifícios.

Já mais a sério, Adalberto Costa Júnior disse esperar que não exista tal ligação porque a democracia assim o exige, "nem ligação física nem "em imagem".

O início da marcha

Os largos milhares de manifestantes que se deslocaram para o Largo do Cemitério da Santa Ana para participar na marcha da UNITA, a que aderiram outros partidos, como o PRS e o Bloco Democrático, deslocaram-se para o Largo 1º de Maio onde, perto das 14:00 já estava repleto de pessoas, na sua maioria jovens oriundos da periferia de Luanda.

Pouco depois das 11:00, o Largo do Cemitério da Santa Ana começou a encher de jovens empunhando cartazes e bandeiras da UNITA. Menos de mil pessoas - o número de participantes foi crescendo à medida que o tempo passava - estavam, a essa hora no local, embora ruidosas e empunhando alguns cartazes com slogans alusivos a esta iniciativa de protesto do partido do "Galo Negro" a que se juntaram o PRS, de Benedito Daniel, e o Bloco Democrático.

Nesses cartazes podia ler-se a exigência de "votar no local de residência", ou ainda de "tratamento igual para todos os concorrentes" e ainda "voto livre, igual e transparente", sem esquecer a exigência de "bilhete de identidade para todos os angolanos".

Esta marcha foi marcada depois de ter sido aprovada no Parlamento a Lei de Alteração à Lei Orgânica Sobre as Eleições Gerais, profusamente contestada pela oposição, e apenas com os votos do MPLA, e antes de ser conhecida a decisão do Presidente da República em devolvê-la aos deputados para reapreciação de algumas matérias de forma a garantir a lisura da votação, a verdade eleitoral e a igualdade entre concorrentes.

Apesar de os partidos da oposição terem elogiado a decisão do Chefe de Estado, tal como, depois, o fez igualmente o MPLA, a marcha não foi desmarcada porque, alegaram, o facto de a lei poder ser melhorada, isso não significa que as ilegalidades estejam garantidamente afastadas porque a lei já foi ignorada no passado.

Já no Largo 1º de Maio ficou claro que esta marcha contou com dezenas de milhares de pessoas.