A direcção do Centro de Saúde do Kalawenda reconhece as dificuldades e diz nada poder fazer para alterar o quadro, uma vez que centro não dispõe de orçamento próprio para satisfazer algumas necessidades.
O Centro de Saúde do Kalawenda está localizado na centralidade com o mesmo nome e foi inaugurado em Janeiro de 2020. Tem uma capacidade de internamento de 36 pacientes, possui uma sala de oftalmologia, dois consultórios, salas para pequenas cirurgias, obstetrícia, pediatria, laboratório de análises clínicas, mas funciona com apenas três médicos que assistem em média mais de 280 utentes por dia, porém no exterior do edifício, à excepção das grávidas.
A unidade, projectada para ser de referência no município do Cazenga, conta ainda com salas para entomologia, raio X, vacinação, psicologia, fisioterapia e reabilitação, que também não funcionam, como apurou no local o Novo Jornal esta segunda-feira.
Vários pacientes que aí se deslocam contaram que apenas recebem as receitas, após serem consultados e vão embora, alegadamente pelo facto de o centro não ter fármacos.
Outros asseguram que o centro não atende os casos de pacientes em estado grave e não conhecem as razões, e alguns queixaram-se da morosidade no atendimento.
Martinha António deslocou-se com o seu filho de cinco anos ao centro, contou que apenas a perguntaram o que a criança tinha e passaram uma receita médica.
Desconfiada, a mulher, de 29 anos, diz que prefere ir para outro centro e tentar ser mais bem atendida, uma vez que não fizeram análises e a criança foi atendida debaixo de sol.
"Aqui só passam receita e nada mais. Não sei porque foi inaugurado, é bonito, mas nada tem a ver, nunca tem médico, não há medicamentos nem viaturas", contou ao Novo Jornal Manuel Diogo, morador do bairro dos seis embondeiros.
Helena Gaspar deslocou-se ao centro na companhia do seu filho e lamentou o facto de ficar largas hora à espera de ser atendida.
"Ficamos muito tempo na fila de espera, debaixo do sol, e no final pediram-me para fazer análises fora do centro e depois regressar com os resultados. Mas nem sequer o analisaram, apenas foi perguntado o que sentia", disse a mulher entristecida.
"Quando não há condições, não inauguram centros de saúde, acho que o Governo está a fazer-nos de parvos. Nunca têm medicamentos, os pacientes não entram no interior do centro, são atendidos no quintal e debaixo de tendas sem condições. Isso é desumano", disse ao Novo Jornal uma técnica de saúde do Centro de Saúde do Kalawenda que preferiu anonimato.
Em reação às reclamações, a directora do centro, Emília Cativa, reconheceu haver muitos problemas na unidade sanitária, mas assegurou que transcendem as suas competências.
Segundo Emília Cativa, uma das três médicas que assistem em média mais de 280 utentes por dia, os pacientes que recorrem ao Centro do Kalawenda, apesar de ficarem no exterior, são todos atendidos.
A directora lamentou o facto de os pacientes serem atendidos fora das instalações, e salientou que não há uma estrutura apropriada para atender os utentes no interior.
"Apesar dos constrangimentos ainda assim nós os atendemos, com paciência e vontade, não deixamos ninguém de fora", afirmou.
Emília Cativa disse que nesta altura a unidade sanitária não tem doentes internados por falta de técnicos de saúde e justificou que por conta da pandemia da covid-19, é que os pacientes são atendidos fora do centro, ao ar livre.
Tomás Bica, o administrador municipal do Cazenga, disse que o Centro de Saúde do Kalawenda não tem orçamento próprio e que as manutenções feitas na unidade sanitária são provenientes do orçamento da administração.
"Nós, enquanto administração do município, temos prestado a assistência necessária para garantir o normal funcionamento desta unidade hospitalar. É verdade que o centro tem falta de equipamentos e recursos humanos e pela sua dimensão o centro deve mesmo ser orçamentado para podemos resolver os problemas que o mesmo apresenta", salientou.
O administrador municipal do Cazenga espera que o centro seja transformado numa unidade sanitária de referência, com serviços de qualidade que possa, num futuro breve, desafogar as principais unidades de saúde de Luanda.