A história da possível proibição já vem de há algum tempo e, segundo fontes do Novo Jornal, era previsível este desfecho.

O filme A Ilha dos Cães, do realizador português radicado em Angola Jorge António, de que faz parte a última actuação em cinema do actor Nicolau Breyner, estreou no dia 20 nos cinemas portugueses.

Exibido este ano em antestreia no Fantasporto, a longa-metragem é uma adaptação do romance Os Senhores do Areal, do escritor angolano Henrique Abranches, uma ficção ancorada em diferentes períodos históricos, abordando a escravatura e a descolonização em Angola e São Tomé.

Há ainda um fio narrativo de fantasia, a partir da presença de uma misteriosa matilha assassina, numa ilha onde vivem sobretudo pescadores, ameaçados pela construção de um empreendimento turístico. Para o realizador Jorge António, o filme parte de um "tema forte e universal - o Homem contra a sua (própria) natureza".

No que se refere à não exibição da obra, o realizador acha que tanto a Zap Cinemas como o Cinemax/Grupo Zahara se precipitaram nas suas conclusões. "Nada posso fazer. São grupos privados e livres de decidirem, não é uma decisão governamental", disse.

Numa reacção que tornou oficial e a que tivemos acesso, o cineasta não deixou de manifestar a sua tristeza, sendo que o filme traz uma história angolana, adaptada de um romance de um escritor maior, o que, para si, é uma "clara falta de respeito". "Acho que ao fim de mais de 20 anos em Angola a viver e a partilhar a sua cultura, merecia um pouco de mais respeito".

Michel Ferreira, responsável do grupo Zahara/Cinemax, contactado na tarde de quarta-feira pela nossa redacção, alegou que, naquele exacto momento, não estava em condições de responder a qualquer questão que lhe fosse colocada porque estava ao volante. Para além de não ter retornado a ligação, no dia seguinte o director contactado já não atendia às chamadas nem as retomava. Semelhante situação sucedeu com o contacto, via telefónica, com a distribuidora da Zap Cinemas, as tentativas tiveram sucesso, uma vez que não atendiam as chamadas.

Para o apresentador do programa Matiné, emitido na Rádio Luanda, trata-se de uma questão meramente comercial. Nelson Cantos vai ainda mais longe e afirma que a classificação de filmes e a adopção de políticas que protejam o cinema nacional têm de ser postas em prática pelo órgão que tutela o sector no país. "É uma pena que o Instituto Angolano de Cinema não seja tido nem achado quanto aos filmes que entram e são exibidos no país", disse. (...)

(Esta notícia pode ser lida na sua versão integral na edição nº 480 do Novo Jornal, nas bancas, ou em digital, cuja assinatura pode pagar no Multicaixa)