No documento incómodo para as autoridades nacionais, que chegou a ser visto como "fake" mas que agora é confirmada a sua autenticidade, dirigido ao MP suíço, pode ler-se que a PGR informa, em resposta a uma carta rogatória, que não corriam em Angola quaisquer processos ou existiam sequer indícios contra Carlos de São Vicente por peculato, corrupção ou branqueamento de capitais.
Mas, menos de um mês depois, o empresário estava a ser acusado por esses mesmos crimes depois de ter sido denunciado naquele país europeu que tinha mais de 900 milhões USD numa conta retirados ilicitamente de Angola e era decretada a sua prisão preventiva por forte suspeita de actividade criminosa.
Carlos São Vicente, que detém a AAA Activos e antigo presidente da Seguradora AAA, foi constituído arguido a 15 de Setembro, mas sem medidas de coacção privadoras da liberdade de acção, e detido uma semana depois, preventivamente, após a justiça suíça ter congelado uma conta sua com 900 milhões de dólares.
Mas a 13 de Agosto, data da resposta da PGR angolana à congénere helvética, diz-se que, no âmbito do auxílio judiciário internacional, foram cumpridas as "diligências rogadas, analisados os outos e documentos (...) concluiu-se que em Angola não existem indícios de prática de crimes de corrupção, branqueamento de capitais, participação económica em negócio ou qualquer outro crime em conexão" com aquilo que constava da carta rogatória enviada daquele país europeu e com referência a Carlos de São Vicente.
Entretanto, segundo noticiaram vários media com base numa informação da agência Lusa, esta resposta da PGR está na base de um pedido de libertação imediata - Habeas Corpus - do empresário São Vicente por parte dos seus advogados, alegando existir uma contradição entre a ordem de prisão preventiva com data de 15 de Setembro e o conteúdo da resposta angolana à carta rogatória da congénere suíça enviada a 13 de Agosto, onde são dadas garantias de não existiam indícios de crime por parte do empresário, que é agora suspeito de ter desviado dinheiro da petrolífera para a companhia AAA Seguros, quando trabalhava nas duas empresas.
Carlos de São Vicente viu a justiça suíça congelar-lhe uma conta com 900 milhões de dólares norte-americanos por suspeita de se tratar de dinheiro proveniente de operações de branqueamento de capitais.
O Ministério Público da Suíça, em Setemebro, avançou que foram sete as contas congeladas do ex-presidente da seguradora angolana AAA Seguros, Carlos Manuel de São Vicente, mas, destas sete contas congeladas, os fundos de seis delas foram libertados, mantendo-se congelada a conta que tem cerca de 900 milhões de dólares.
As autoridades suíças alegam que entre 2012 e 2019 o empresário transferiu quase 900 milhões de dólares da companhia de seguros para as suas contas, algo que só foi descoberto quando o banco SYZ alertou para uma transferência de 213 milhões de dólares, de acordo com os documentos da acusação divulgados no site do ICIJ.
"É pouco comum para um presidente executivo e do conselho de administração ter em sua posse fundos pertencentes a uma companhia, ainda para mais uma seguradora regulada pelo Estado, apesar de ter, neste caso, poder de representação individual da companhia", lê-se na acusação divulgada pelo consórcio de jornalistas.
Recorde-se que o Serviço Nacional de Recuperação de Activos da Procuradoria-Geral da República (PGR) mandou apreender um conjunto alargado de bens do empresário que inclui os Edifícios AAA, as redes de hotéis IU Hotel e IKA Hotel, em todo o Pais, ainda um edifício na Rua Amilcar Cabral, em Luanda, denominado IRCA e 49% das participações sociais da accionista AAA Activos Lda. no Standard Bank Angola SA, tudo bens sob gestão do empresário Carlos São Vicente.
O Cofre Geral de Justiça foi denominado fiel depositário dos bens agora apreendidos, todos sob gestão do empresário Carlos São Vicente.
Para além dos Edifícios AAA, em todo o país, excepto os que se encontram sob gestão do Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos as redes de hotéis IU Hotel e IKA Hotel,todos em Luanda, e ainda um edifício na Rua Amilcar Cabral, em Luanda, denominado IRCA, foram ainda "recuperados" 49% das participações sociais da accionista AAA Activos Lda. no Standard Bank Angola SA.
A acção judicial tem respaldo legal na Lei sobre o Repatriamento Coercivo e Perda Alargada de Bens e ainda da Lei Reguladora das Revistas, Buscas e Apreensões.
Os proprietários destes bens são o empresário Carlos Manuel de São Vicente e a Sociedade AAA International Limited, com sede no offshore das Bermudas, de acordo com a escritura que consta na III série do Diário da República, publicada em 2012, 06 de Janeiro.