Matshidiso Moeti, director regional da OMS-África lançou um derradeiro alerta sobre o "real risco" de a 3ª vaga da pandemia chegar e apanhar o continente impreparado porque o fluxo de vacinas, nomeadamente no âmbito do mecanismo Covax, está perigosamente a abrandar.

Com um esforço considerado por muitos, incluindo o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, egoísta, aproveitando o seu músculo financeiro, os países ricos estão a açambarcar milhões de doses de que não carecem quando milhões de pessoas em países pobres, como em África, ou em partes da Ásia e da América Latina, simplesmente não têm a possibilidade de ser vacinadas.

Esta situação ocorre mesmo sabendo-se que deixar partes do mundo expostas à infecção, sem a "muralha" das vacinas, e estar a escavar um "túnel" por onde a pandemia poderá regressar aos países onde, devido às massivas campanhas de vacinação, está quase extinta ou em vias de assim suceder, através de eventuais mutações que permitam ao Sars CoV-2 contornar essa protecção.

A OMS-África está a alertar para um recrudescimento sério da pandemia em África, com 14 países a observar um crescimento importante no número de casos e em oito destes esse crescimento já atinge os 30 por cento em número de novas infecções, sendo as Seicheles um dos que observa maior crescimento, apesar de ter uma das mais largas percentagens de vacinação, o que pode indiciar que a vacina chinesa da Sinopharm, a mais usada no arquipélago, é pouco eficaz ou assim é para as novas variantes.

Isto, quando a entrega de vacinas no continente praticamente parou, e, ao mesmo tempo, nos países mais abonados, não só os grupos mais vulneráveis, idosos, pessoal hospitalar, forças de segurança, etc, estão todos imunizados, começam já a ser programadas vacinações em massa de jovens adolescentes e crianças quando esses grupos em África ainda aguardam, em muitos locais a 1ª dose em na generalidade ainda falta a 2ª dose.

Em Angola, mas não só, um dos problemas mais sérios é a resistência das populações à vacinação, como está, neste momento, a acontecer com os taxistas em Luanda, cuja adesão à campanha de imunização está a ser nula ou muito abaixo das expectativas.

De acordo com os cálculos da OMS-África, até ao momento, nos 54 países, foram recebidas apenas 50 milhões de doses através do mecanismo de partilha de vacinas Covax, apoiado pela ONU, quando o continente tem uma população acima dos 1,2 mil milhões.

Nalguns casos, os países com mais músculo financeiro estão a adquirir de forma autónoma doses adicionais, como é o caso de Angola, que tem em linha a compra de milhões de doses da russa Sputnik V, além de vacinas oferecidas no âmbito da cooperação bilateral, como é o caso do imunizante chinês da Sinopharm.

Os especialistas advertem para a possibilidade de uma 3ª vaga violenta em África, à semelhança do que sucedeu na Índia, onde, até à erupção de uma vaga altamente virulenta e letal há pouco mais de dois meses, também se pensava que o problema estava sob controlo devido ao baixo número de infecções e mortes a ela associadas.

No entanto, até ao momento, o continente africano vive uma situação invejável com pouco mais de 2,5 por cento da totalidade de casos no planeta e menos de 4% do número de mortos, tendo atingido os 5 milhões de infecções e menos de 140 mil mortos.

Enquanto isso, o mundo registou até hoje, 08 de Junho de 2021, 173,7 milhões de casos, quase 3,8 milhões de mortes, ao mesmo tempo que foram administradas 2,15 mil milhões de doses de vacinas.

Mas a Covid-19 não é apenas um problema de saúde grave para a qual as vacinas são a elhor resposta; esta pandemia é igualmente um dos mais sérios problemas económicos que o mudo já enfrentou ao ter gerado a pior crise em largas décadas, conduzindo centenas de milhões de pessoas para a pobreza extrema.

Em todo o mundo, segundo estudos recentes, mais de 130 milhões de pessoas entraram no universo da pobreza extrema, sendo África dos continentes mais afectados e a sub-região da África subsaariana uma das mais fustigadas pelos efeitos desta crise global.

O Centro de Pesquisas Pew, norte-americano, com sede em Washington, um dos mais importantes centros de produção de informação estatística do mundo, estima que, só na África subsaariana, mais 40 milhões de pessoas se tenham, em tempo de pandemia da Covid-19, juntado aos quase 500 milhões de pessoas que viviam em pobreza extrema.

A pandemia, para a qual a vacinação é a principal arma para a combater, está por detrás de um retrocesso gigantesco nas condições de vida das comunidades subsaarianas, sendo já evidente que uma recuperação mais célere poderá acontecer se estes países tiverem acesso às vacinas semelhante ao que sucede nos países mais desenvolvidos, onde a crise económica começa a ficar para trás.

Como o Novo Jornal noticiou aqui, antes do aparecimento das primeiras vacinas, a Covid-19 ainda pode revelar-se, apesar dessa possibilidade ser hoje mais pequena, como mais uma doença exclusivamente africana ou apenas encontrada em países pobres, como a malária ou a dengue, entre outras.

Em Angola

No último balanço feito pela comissão de combate à pandemia em Angola, na tarde de segunda-feira, 07, o País contava com 800 mortes para um total de casos de 35,8 mil.

E as medidas em vigor no âmbito da situação de calamidade pública vão manter-se durante os próximos 30 dias, até 09 de Julho.

As novas regras entram em vigor na quarta-feira, e as restrições e multas para quem prevaricar são praticamente as mesmas. A cerca sanitária sobre Luanda também continua por mais um mês.

A multa para quem não respeite a obrigatoriedade do uso de máscara facial na via pública, nos espaços fechados, nos mercados, nos transportes colectivos varia entre 15 a 20 mil kwanzas.

A "recomendação" de recolhimento domiciliar entre as 22h e as 05:00 da manhã também se mantém.

O último mês foi ainda marcado por "números relevantes e preocupantes", referiu o ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, acrescentando que apesar das restrições adoptadas terem permitido "um estancamento", não há ainda elementos suficientes para concluir que a tendência foi invertida, por isso, as fronteiras do País continuam sob cerca sanitária, para evitar a importação de vírus, mantendo-se obrigatória a realização de um teste pré-embarque RT-PCR e um pós desembarque (antigénio).

Uma das novidades trazidas por Adão de Almeida diz respeito à comparticipação, pelos cidadãos, dos testes de covid-19 quando se trata de uma decisão individual, como por exemplo, em caso de viagens internacionais ou a partir de e para Luanda. A regularidade dos voos mantém-se, quer no que respeita aos voos internacionais, que no que respeita aos voos internos. Continua também a proibição de entrada no País de cidadãos provenientes do Brasil e da Índia.

À chegada ao País, é obrigatório o regime de quarentena, "em princípio domiciliar, por um período que pode ir até 10 dias".

Os cidadãos com teste positivo ao novo coronavírus ficam, em princípio, submetidos a isolamento domiciliar, sendo sujeita a multa a violação destas disposições.

Na administração pública, a força de trabalho presencial continua reduzida a 50%, enquanto nas instituições privadas se mantém reduzida a 75%.

A prática desportiva individual e de lazer em espaços abertos é permitida todos os dias, mas entre as 05:00 e as 07:00 e as 17:00 e as 19:00. A violação desta medida está também sujeita a uma coima.

Os praticantes ficam desobrigados do uso de máscara facial durante a realização de actividades individuais. É, no entanto, proibida a prática desportiva individual que agrupe mais do que cinco pessoas. Os ginásiuos que funcionarem em espaço fechado deverão manter-se encerrados.

A interdição do acesso às praias mantém-se.

O comércio passa a encerrar às 18:00, reduzindo para 50% a força de trabalho, em Luanda, onde se mantém a cerca sanitária. Já os restaurantes e similares vão funcionar de segunda a sexta, até às 18:00, apenas o serviço de "take away" poderá prolongar-se até às 22:00, durante a semana, e até às 20 horas, no fim-de-semana, isto em Luanda, pois nas outras províncias podem funcionar com atendimento presencial também ao fim de semana e o horário prolonga-se até às 20:00.

É "expressamente proibida a instalação de pistas de dança", lembrou ainda Adão de Almeida.

Qualquer violação destas medidas implica uma multa que pode ir de 350 a 450 mil kwanzas e levar ao encerramento temporário dos espaços por um período de 30 a 90 dias.

Angola atingiu esta segunda-feira as 800 mortes associadas à covid-19, e foram registados mais 82 novos casos positivos. Foram ainda recuperados 449 pacientes, comunicou a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, que anunciou também o registo de três óbitos nas últimas horas.