Neste encontro, Francisco Queiroz apontou ainda como negativo o facto de ter existido "interferência política" que resultou na dificuldade de se ter optado pelo diálogo, especificamente sobre a manifestação de 11 de Novembro, organizada por movimentos da sociedade civil contra o desemprego, o custo de vida e para exigir a realização de eleições autárquicas em Angola, na qual um jovem morreu em circunstâncias envoltas em polémica e dúvida.
A reunião de Francisco Queiroz e de Jeannette Seppen, que teve lugar na tarde de terça-feira, permitiu ainda que a União Europeia, que historicamente apoia financeiramente organismos nacionais que pugnam pelo cumprimento dos Direitos Humanos em Angola e tem nesta questão uma das suas maiores e empenhadas exigências de natureza política, colocasse em evidência as suas preocupações, expressando mesmo a necessidade de os direitos de expressão e de reunião não serem obliterados.
Jeannette Seppen disse aos jornalistas ter exprimido a Francisco Queiroz, neste encontro, que tem carácter periódico, e agora agendado para analisar o impacto da pandemia da Covid-19 no País em matéria de Direitos Humanos, e outros, as "preocupações com os acontecimentos de 24 de Outubro e de 11 de Novembro"
A diplomata europeia sublinhou ter obtido do seu interlocutor angolano "uma resposta muito positiva" nomeadamente quando às garantias de que "as liberdades não desapareceram" e que estas devem "continuar a ser respeitadas apesar dos desafios que colocam".
Queiroz sublinhou aos jornalistas que a pandemia da Covid-19 teve um profundo impacto no País, tanto em matéria económica como social, que se revelou também no resto do mundo, incluindo na União Europeia, pela forma como de uma forma abrangente se reflectiu negativamente na vida das comunidades, nomeadamente na volumosa perda de empregos.
E aproveitou para reafirmar o contexto pandémico em que as duas manifestações ocorreram e as dificuldades acrescidas que esta está a causar devido ao aumento do desemprego e ao aumento do custo de vida que está na génese de uma maior "tensão e mais nervosismo".
O governante deixou ainda a ideia de que as pessoas queriam dialogar com o Governo legitimamente mas a "interferência política", sem explicitar, levou a um bloqueio dessa comunicação", apontando como prova disso a introdução inesperada do tema das eleições autárquicas no âmbito das reivindicações dos maifestantes.
O ministro da Justiça e dos Direitos Humanos disse lamentar essa "interferência política" num momento em que o diálogo poderia e deveria ter tido o protagonismo principal, como tem sido usual entre o Executivo e a sociedade civil, sendo que Queiroz em nenhuma ocasião se referiu à UNITA como tendo protagonizado essa interferência política mas sendo notório que é a este partido que se referia.
A morte de Inocêncio de Matos, o jovem de 26 anos, estudante na UAN de engenharia informática, em circunstâncias por apurar mas com a polícia a negar ter sido causada por um tiro de fogo real e os seus companheiros de luta a garantir que foi efectivamente um disparo de arma de fogo - sendo que a versão clínica é de que se tratou de um embate na cabeça com objecto contundente -, não deixou de ser referida pelo governante, lamentando-a.
"Lamentamos profundamente quando uma vida se perde, mas não podemos especular", disse Francisco Queiroz, referindo-se às versões existentes sobre a causa de morte de Inocêncio de Matos na manifestação do dia 11 de Novembro, o dia dos 45 anos da Independência Nacional.
Sobre o encontro de hoje, no qual a embaixadora da União Europeia (UE) afirmou ter expressado preocupações quanto ao respeito pelas liberdades em tempos de covid-19, Francisco Queiroz adiantou que os direitos humanos são "uma caminhada que se vai fazendo e que tem de ser avaliada de tempos a tempos", o que se enquadra no diálogo que Angola mantêm com a UE.
"Foi essa avaliação que fizemos face ao último encontro que tivemos e que aconteceu no ano passado. De lá para cá aconteceram muitas coisas que atestam o comprometimento do executivo", frisou, indicando como exemplo a estratégia de direitos humanos e diplomas relativo ao combate ao tráfico de seres humanos que tiveram avaliação positiva por parte da delegação europeia.
A diplomata europeia, Jeannette Seppen, por seu lado, optou por insistir que as liberdades como a de expressão e de reunião devem ser respeitadas, embora as circunstâncias que o país vive económica e socialmente sejam ainda mais exigentes que o normal.
Disse ainda que na conversa com o governante angolano deixou enfatizada a questão da necessidade do "respeito dos direitos humanos apesar da fase muito difícil que Angola, mas também na Europa, está a passar", o que conduz a uma situação ainda mais exigente que a anterior à pandemia.