Com uma progressão muito mais rápida e letal que a pandemia de Síndrome Respiratório Agudo Grave (SARS, em inglês), igualmente com início na China, que em 2002/2003 fez cerca de 750 mortos e pouco mais de seis mil casos de contaminação confirmada em dezenas de países em mais de 18 meses, este vírus está a mostrar ser muito mais robusto e com uma capacidade de disseminação geográfica incomparável.
Uma das razões pela qual a OMS mostra maior inquietude é que este vírus, descoberto na cidade chinesa de Wuhan em Dezembro, rapidamente revelou a sua capacidade de contágio humano-a-humano e consegue passar de indivíduo em indivíduo ainda na sua fase inicial de incubação, onde não se mostra através dos sintomas do hospedeiro, o que dificulta de forma séria o trabalho de combate das equipas sanitárias e dos investigadores que em todo o mundo procuram a melhor forma de combate a este novo inimigo público da humanidade.
O director-Geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, já admitiu, antes desta nova reunião do seu comité de emergência, que a confirmação de que o vírus se está a replicar já fora da sua zona inicial, a cidade de Wuhan, é uma "séria preocupação" e lembrou que se este coronavírus consegue chegar "a um país com fraca capacidade de resposta" o mundo estará perante uma situação de gravidade maior.
Adhanom Ghebreyesus referia-se claramente ao países mais pobres e sobrepovoados ou com cidades com milhões de pessoas a viveram em condições precárias, onde o vírus teria uma enorme facilidade de progressão, com consequências de difícil antecipação.
África é um dos continentes de maior risco, não só por causa da fragilidade dos sistemas de saúde e precários sistemas de saneamento dos países no continente, mas também porque reúnem as duas condições mais melindrosas: grandes comunidades chinesas e cidades com excesso de população, como é o caso de Angola.
O Ministério da Saúde, como o NJOnline noticiou na quarta-feira, tem sob vigilância, na clínica Girassol, um cidadão chinês que recentemente esteve na China e que se suspeita estar contaminado com este coronavírus.
E é isto que o Comité de Emergência da OMS vai ter em cima da mesa hoje, sendo que na última reunião, a 22 e 23, segundo alguns analistas, o alerta internacional só não foi declarado por causa de pressões nesse sentido do Governo de Pequim.
Até ao momento estão confirmados 7.700 casos em 31 províncias chinesas, e o número de mortos subiu para 170, mais 30 que na quarta-feira.
No resto do mundo foram reportados 70 casos em 15 países, a maior parte de pessoas estiveram na China há pouco tempo, com destaque para a cidade de Wuhan, na província de Hubei.
Observando os gráficos fornecidos pela OMS, constata-se que em períodos de 24 horas, a subida do número de casos, incluindo as mortes, tem sido vertiginosa.
Os países europeus, os EUA, o Canadá e a Austrália estão a retirar os seus cidadãos da China através de um sistema de voos de urgência e as companhias aéreas de mais de uma dezena de países já deixou de voar para o gigante asiático.
Para já, a embaixada de Angola em Pequim não está a ponderar a evacuação dos angolanos que estão na China, nomeadamente os mais de 250 estudantes em diversas cidades, incluindo 25 em Wuhan, apesar de terem sido feitos pedidos veementes de ajuda através das redes sociais.
Wuhan, com 11 milhões de habitantes, é uma das várias cidades chinesas sob quarentena, de onde não sai nem entra ninguém, como forma de estancar a progressão deste coronavírus.
O vírus, o que é e o que fazer, sintomas
Estes vírus pertencem a uma família viral específica, a Coronaviridae, conhecida desde os anos de 1960, e afecta tanto humanos como animais, tendo sido responsável por duas pandemias de elevada gravidade, como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), transmitida de dromedários para humanos, e a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), transmitida de felinos para humanos, como início na China.
Inicialmente, esta doença era apenas transmitida de animais para humanos mas, com os vários surtos, alguns de pequena escala, este quadro evoluiu para um em que a transmissão ocorre de humano para humano, o que faz deste vírus muito mais perigoso, sendo um espirro, gotas de saliva, por mais minúsculas que sejam, ou tosse de indivíduos infectados o suficiente para uma contaminação.
Os sintomas associados a esta doença passam por febres altas, dificuldades em respirar, tosse, dores de garganta, o que faz deste quadro muito similar ao de uma gripe comum, podendo, no entanto, evoluir para formas graves de pneumonia e, nalguns casos, letais, especialmente em idosos, pessoas com o sistema imunitário fragilizado, doentes crónicos, etc.
O período de incubação máximo é de 14 dias e durante o qual o vírus, ao contrário do que sucedeu com os outros surtos, tem a capacidade de transmissão durante a incubação, quando os indivíduos não apresentam sintomas, logo de mais complexo controlo.
A melhor forma de evitar este vírus, segundo os especialistas é não frequentar áreas de risco com muitas pessoas, não ir para espaços fechados e sem ventilação, usar máscara sanitária, lavar com frequência as mãos com desinfectante adequado, cobrir a boca e o nariz quando espirrar ou tossir, evitar o contacto com pessoas suspeitas de estarem contaminadas...