Gilberto Veríssimo, doutorado em Ciências Sociais, na especialidade de Estudos Estratégicos, pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade de Lisboa e também brigadeiro das Forças Armadas Angolanas (FAA), falava a propósito da obra - "Geopolítica do Golfo da Guiné - A Posição Estratégica de Angola".

Segundo Gilberto Veríssimo, o livro, de 453 páginas e publicado pela editora Ler Devagar, resulta da tese de doutoramento e constitui um "grito de alerta" para problemas na região do Golfo da Guiné (GG), como a exploração de petróleo, ambiente, pirataria marítima e os vários géneros de tráfico - pessoas, armas, droga e diamantes.

Natural de Luanda, onde nasceu a 13 de Maio de 1960 (56 anos), o especialista militar indicou, em declarações à agência Lusa, que um dos grandes constrangimentos do Conselho do Golfo da Guiné (CGG) é a falta de integração dos nove Estados membros - Angola, São Tomé e Príncipe, Benim, Camarões, Costa do Marfim, Gana, Guiné Equatorial, Nigéria e Togo.

"Os problemas são de integração, de trabalho em conjunto dos Estados. Os Estados não encontram uma forma de se entenderem. Em termos de teoria geopolítica diz-se que o Golfo da Guiné é uma cintura fragmentada. Cada um luta pelo seu interesse em vez de pensar no interesse comum, embora se saiba que há estímulos de fora, que há a quem interessa que as coisas continuem assim", sublinhou o académico angolano.

Como consequência, acrescentou, há os problemas da exploração do petróleo - "cada um explora à sua maneira", da preservação do ambiente - "há uma série de questões ambientais" por resolver -, mas não há forma de os Estados se sentarem à mesa para os discutir.

"A pirataria marítima é consequência do estado da organização dos países da região, mas também da falta de entendimento entre eles, porque os «piratas» não vivem no mar, vivem em terra, em algum país. Os «piratas» fazem as suas acções no mar e depois fazem a venda, em terra, do petróleo que roubam no mar. As pessoas que raptam vão guardá-las em terra", especificou.

Para Gilberto Veríssimo, ainda não se conseguiu alcançar um nível de compreensão que permita aos Estados darem conta de que "o problema de um é o problema dos outros", situação agravada pela falta de actividade do CGG, pensado em 1999, assinado em 2001 e que só começou a funcionar em 2007, tendo-se realizado apenas três conferências de chefes de Estado.

"O objectivo central (do livro) é servir de grito de alerta, saber qual é o ambiente estratégico no Golfo da Guiné, e o que se deve fazer em função disso. Não há um caos, há um estado de coisas que podem vir a tornar-se um caos se, de facto, não se tomarem medidas", alertou, apelando a uma retoma dos trabalhos do CGG.

E concluiu: Os processos em curso da extensão das respectivas plataformas continentais, a este nível, vai criar também novos problemas - "a Nigéria conflitua na sua fronteira com o Gabão, Camarões e São Tomé e Príncipe, o Gabão com a Nigéria e Angola. Angola com o Gabão, RDCongo e Congo e por aí fora".