A notícia é do britânico The Guardian, jornal que está muito longe de ser um "inimigo" de Israel, e expõe o conteúdo de documentos que a justiça israelita obrigou à sua divulgação, onde um plano com quase duas décadas, define o que fazer para sujeitar a população de Gaza a uma fome controlada com rigor matemático e que as evidências mostram que está a ser agora aplicado quase integralmente.

De acordo com este plano macabro, elaborado, alegadamente em 2006, era Ehud Olmert primeiro-ministro, que The Guardian, num trabalho jornalístico assinado por Emma Graham-Harrison, a correspondente-chefe do jornal de Londres no Médio Oriente, agora expõe, a desvitalização da sociedade local seria conseguida pela desnutrição calculada com rigor matemático.

Isto, porque os israelitas estudaram com rigoroso detalhe a quantidade de calorias que os palestinianos podem consumir sem morrerem à fome mas de forma a perderem a energia mínima para qualquer reacção às regras ditadas por Telavive.

E esse fluxo mínimo de calorias, que agora é evidente que foi largamente desrespeitado, pelo crescente número de pessoas, especialmente crianças, que morrem diariamente de fome, seria, e, aparentemente, assim está a ser, conseguido através do fecho total das fronteiras e, a partir daí, medir à caloria os alimentos que entram no território.

Isto, depois, acrescenta Emma Graham-Harrison, de as Forças de Segurança de Israel (IDF) destruírem toda a agricultura e toda a frota de pesca, mesmo a de subsistência, o que determina que tudo o que os 2,2 milhões de habitantes comem diariamente chega de fora, pelas fronteiras totalmente controladas por Israel.

E é através desse controlo apertado dos alimentos, que se alarga aos medicamentos e a outras necessidades básicas de uma população que sobrevive no extremo limite da capacidade humana, que Israel mantém os mais de dois milhões de habitantes numa estado quase vegetativo permitindo o mínimo para se manterem numa letargia de semi-vivos.

É neste contexto de horror extremo (ver links em baixo), que já não se via no mundo há décadas, desde, pelo menos, o genocídio da população Tutsi no Ruanda, em 1994, que os aliados mais férreos de Israel na Europa, a França e o Reino Unido, anunciaram agora que vão reconhecer o Estado da Palestina em Setembro.

Se esse passo já foi corajosamente dado pela maioria dos Estados da União Europeia, como a Espanha, a suécia, Irlanda, Polónia, Eslováquia, Bulgária, Hungria... ainda não o foi pelos membros europeus do Conselho de Segurança da ONU, França e Reino Unido, ou ainda pela Alemanha ou Portugal, por exemplo.

A importância deste passo agora anunciado por Paris e por Londres reside na mudança das regras da resposta internacional à ocupação ilegal dos territórios palestinianos por Israel, especialmente os colonatos da Cisjordânia.

Isto, porque, por exemplo, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, os EUA ficarão isolados na capacidade de direito de veto, porque, embora a Assembleia-Geral da ONU também já o tenha feito, é naquele órgão da ONU que avançam ou se travam as acções mais musculadas face aos países incumpridores da lei internacional.

E é disso exemplo mais recente, e mais exposto nos media internacionais por estes dias, a questão da Ucrânia, onde a invasão russa de mantém sem uma condenação inequívoca no Conselho de Segurança devido ao veto da Rússia, o que deixa os EUA numa situação de grande melindre ao fincarem o pé na resistência a uma condenação semelhante para a ocupação israelita na Palestina.

Há, no entanto, passos importantes dados não apenas pelos aliados mais vigorosos de Telavive na Europa ocidental, como foi o caso do Canadá, que também anunciou que deve reconhecer o Estado da Palestina em Setembro e mesmo os EUA, pela voz do seu Presidente, Donald Trump, admitiu agora, contrastando como nunca com o Governo de Telavive, que existe fome em Gaza.

Mas os EUA não mexem uma palha no essencial da sua política de defesa intransigente de Israel nos palcos internacionais, como o demonstra a posição de Washington nesta invasão que já leva quase dois anos, desde 08 de Outubro de 2023, após o assalto do Hamas ao sul de Israel, com um resultado de mais de mil mortos.

Como fica claro quando, agora, Donald Trump vem dizer que "a forma mais rápida" para acabar com a grave crise humanitária em Gaza passa pela rendição do Hamas e pelo regresso de reféns israelitas.

"Aforma mais rápida de pôr fim à crise humanitária em Gaza é o Hamas render-se e libertar os reféns", escreveu o presidente norte-americano, numa mensagem na sua plataforma Truth Social, citado pela Lusa.

Os comentários de Trump foram escritos enquanto acontece uma visita a Jerusalém do enviado especial dos Estados Unidos para o Médio Oriente, Steve Witkoff, que vai reunir-se com altos funcionários israelitas para discutir a situação na Faixa de Gaza, onde as autoridades locais relatam um aumento de mortes por desnutrição e fome, a maioria crianças.

O Presidente dos Estados Unidos já tinha manifestado a necessidade de colocar um fim ao conflito em Gaza, e Washington disponibilizou-se para mediar negociações indiretas em Doha entre o Hamas e o Governo do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.

As negociações estão estagnadas, depois de as delegações dos Estados Unidos e de Israel se terem retirado na semana passada, alegando a falta de vontade do Hamas em chegar a uma trégua.

Isto, quando o número de mortos pelos bombardeamentos israelitas chega aos 60 mil pelos dados oficiais das autoridades palestinianas no território, mas que, por exemplo, segundo a revista The Lancet, uma da smais prestigiadas revistas científicas em todo o mundo, fala em pelo menos 100 mil, e outras organizações avançam que esta cifra já ultrapassou as 400 mil, sendo que todas confluem na ideia concreta de que se trata maioritariamente de crianças e mulheres.

E estes números trágicos tendem a subir dia após dia porque o controlo férreo da entrada de ajuda humanitária em Gaza pelos israelitas determina que os mais frágeis estão a morrer num ritmo alarmante para as agências da ONU, especialmente as crianças, vítimas não apenas da penúria alimentar mas também das doenças oportunistas que atacam os mais vulneráveis, como pode ser revisitado aqui e aqui.