Estas declarações do porta-voz do OCHA, Jens Laerke, surgem num momento em que o radical de direita e ministro das Finanças israelita, Bezalel Smootrich, veio a público, em nome do Governo, garantir que Gaza será "totalmente destruída" no decurso deste conflito.

Numa altura em que o bloqueio israelita a Gaza volta a espalhar a fome e a morte por falta de cuidados mínimos de saúde, o OCHA refere que "já não há absolutamente nada" para dar às pessoas esfomeadas do território.

Esta terra palestiniana entalada entre o Egipto, o Mar Mediterrâneo e Israel, com 365 kms2 e 2,3 milhões de habitantes, é hoje a imagem mais parecida à ideia de um inferno na terra, com mais de 50 mil mortos desde 07 de Outubro de 2023, além de centenas de milhares de feridos.

Confrontado com este cenário de terror, com Israel a procurar com afinco, como o demonstram as declarações de Bezalel Smootrich, o extermínio genocida dos palestinianos de Gaza, e a Justiça internacional confirma, o Presidente dos EUA, Donald Trump, prometeu ajudar o povo desta faixa estreita de terra mas sem condenar as atrocidades de Telavive.

Isto, quando o Hamas, o grupo que governa Gaza desde 2006, e que é o alvo das forças israelitas desde há anos, embora sem que a sua erradicação tenha sido conseguida, recusa negociar de novo com Israel bem como libertar os cerca de 50 reféns israelitas ainda na sua posse.

Neste seu esforço de eliminar o Hamas, o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyhau, que continua a enfrentar a justiça por corrupção grave, apenas tem conseguido manter-se no poder e não sucumbir ao aperto dos tribunais enquanto a guerra durar, pelo menos.

Mas o que aguarda Gaza, de acordo com as palavras de Smootrich, não o alívio na fome e na doença mas sim a continuação da pressão militar de Telavive no território.

Na segunda-feira, recorda a Lusa, o próprio Smotrich instou os israelitas a "abraçar a palavra 'ocupação'" em relação à Faixa de Gaza e garantiu que o governo "não entregará" estes territórios, mesmo em troca de reféns. "A única maneira de libertar os reféns é subjugar o Hamas. Qualquer retirada provocará o próximo 07 de outubro", afirmou.

O ministro israelita explicou ainda que esta "ocupação" prolongada é uma "etapa preliminar" necessária antes da imposição da "soberania" israelita sobre o enclave. "Primeiro, vamos derrotar o Hamas e impedir a sua existência", afirmou.

Israel decidiu intensificar a guerra contra o Hamas em Gaza, num plano que inclui conquistar mais território no enclave palestiniano sitiado e convocar dezenas de milhares de reservistas.

O plano, executado de forma gradual, marcará uma escalada significativa nos combates em Gaza, retomados em meados de março, depois de Israel e o Hamas não terem conseguido chegar a acordo sobre a possível extensão da trégua de oito semanas.

Ainda segundo lembra a Lusa, no domingo, o chefe do Estado-Maior Militar de Israel, tenente-general Eyal Zamir, referiu que o exército estava a convocar dezenas de milhares de reservistas, que Israel "operaria em áreas adicionais" em Gaza e que continuaria a atacar a infra-estruturas militares.

Israel já controla cerca de metade do território de Gaza, incluindo uma zona ao longo da fronteira com Israel, e três corredores que se estendem de leste a oeste ao longo da faixa.

Este cenário faz concentrar muitos palestinianos a faixas de terra cada vez mais pequenas no devastado território. Israel tem vindo a aumentar a pressão sobre o grupo militante Hamas, incentivando a demonstrar mais flexibilidade nas negociações.

No início de março, aponta a Lusa de novo, Israel suspendeu a entrada de ajuda em Gaza, uma proibição que continua em vigor e que mergulhou o território de 2,3 milhões de pessoas na pior crise humanitária da guerra.

A 18 de março, Israel retomou os ataques no território, e morreram mais de 2.600 pessoas nas semanas seguintes, muitas delas mulheres e crianças, de acordo com autoridades de saúde locais.

O cessar-fogo anterior tinha como objetivo levar as partes a negociar o fim da guerra, mas esse objetivo tem sido um ponto de discórdia recorrente nas negociações entre Israel e o Hamas.

A guerra em Gaza começou quando militantes liderados pelo Hamas, em outubro de 2023, atacaram o sul de Israel, matando 1.200 pessoas e fazendo cerca de 250 reféns. Israel afirma que 59 reféns permanecem em Gaza, embora se acredite que cerca de 35 estejam mortos.

A ofensiva israelita matou mais de 52.000 pessoas em Gaza, muitas delas mulheres e crianças, segundo autoridades de saúde palestinianas, que não distinguem, nas contagens, combatentes e civis.