Isto, porque o Governo israelita, pressionado como nunca por todos os lados, incluindo pelos seus aliados mais próximos, como os países europeus - o Presidente francês já disse que é urgente reconhecer o Estado palestiniano - e os EUA, aceitou uma proposta feita pelos norte-americanos, que o Hamas já tinha acolhido positivamente.

Proposta essa que, além de outros detalhes, vai manter os ataques israelitas sobre as áreas civis de Gaza por dois meses, deixando ainda entrar ajuda humanitária a uma escala correspondente às necessidades enquanto o Hamas vai libertar os reféns que ainda mantém cativos.

Segundo o jornal Haaretz, este acordo vai permitir a libertação dos 10 reféns vivos que o movimento islâmico mantém nos subterrâneos de Gaza, além de 18 corpos de israelitas, e doutras nacionalidades, que sucumbiram durante este período.

Este acordo, que claramente privilegia os interesses israelitas, porque confere ao primeiro-ministro Benjamim Netanyhau um dos principais objectivos que mantém em coma da mesa, que é a libertação dos reféns, como milhares de pessoas têm exigido nas ruas de Israel.

Mas o outro grande objectivo, que é a destruição total do Hamas, não foi nem será ainda conseguido, apesar da gigantesca máquina de guerra montada no cerco ao território, com sucessivos bombardeamentos que já mataram mais de 54 mil civis, na maior parte crianças e mulheres.

Porém, os analistas árabes chamam a atenção para o facto de que a entrega de todos os reféns, vivos e os corpos dos que sucumbiram, vai abrir um novo período neste conflito, porque Netanyhau e os seus "falcões" deixam de ter a preocupação para não atingir reféns.

Se até aqui Gaza foi praticamente terraplanada (ver links em baixo), com ataques incessantes, que destruíram todos os 36 hospitais do território, escolas, toda a infra-estrutura de apoio humanitário da ONU... agora, sem a presença dos cativos israelitas, quando os ataques forem retomados...

O Governo de Telavive, como os ministros das Finanças, Bezalel Smotrich, e da Segurança Nacional, Itamar Bem-Gvir, preconizam publicamente e sem titubear, poderá então arrasar totalmente Gaza, expulsar a população de mais de 2,2 milhões de pessoas pela fronteira do Egipto e fazer desta faixa de 365 kms2 o novo "paraíso" dos colonatos judeus na cobiçada margem do Mediterrâneo Oriental.

Não se sabe exactamente porque é que o Hamas aceitou agora entregar todos os israelitas que mantém cativos desde 07 de Outubro de 2023, porque, como sublinham alguns analistas, e como o Presidente a Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, tem pedido há meses, se o tivesse feito antes teria salvo milhares de vidas civis.

Mas uma possibilidade é que a pressão militar dos últimos dois meses, composta por ataques ininterruptos pela aviação e artilharia israelitas, os raids por terra, e um cerco hermético que empurrou toda a população para uma subnutrição grave, mais de 500 mil pessoas em risco de morte iminente e mais de 15 mil crianças com escassas horas de vida... "convenceu" o Hamas.

É por isso que, como avança o jornal britânico The Guardian, apesar de ter sido obrigado a aceitar as condições do plano apresentado pelo enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, o Hamas já disse que este cessar-fogo não garante o fim do conflito.

Curiosamente foi o Hamas o primeiro a aceitar os termos propostos por Witkoff, e, na verdade, até meio da manhã desta sexta-feira, 30, o Governo de Telavive ainda não tinha garantido que o aceita, mas em Washington, conta a Reuters, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que Telavive já tinha dado luz verde.

Além da libertação dos 18 israelitas, entre mortos e vivos, cativos do Hamas, o acordo, segundo ainda a agência de notícias britânica, compreende a libertação de mais de cem palestinianos condenados a penas longas de cadeia em Israel e a devolução dos restos mortais de centenas.

Uma das mais valias deste acordo é que Israel deverá abrir em breve locais do seu cerco hermético a Gaza para deixar entrar milhares de camiões com ajuda humanitária que deverá salvar a vida a centenas de milhares de pessoas à beira do abismo da fome e da doença.

Uma das razões para que os analistas mais cépticos considerem que esta guerra está longe de terminar, apesar deste cessar-fogo ser um passo importante, é que o primeiro-ministro israelita pode ter conseguido libertar os reféns em posse do Hamas mas não se libertou a si mesmo da condição de refém dos seus ministros mais radicais.

Isto, porque tanto Bem-Gvir (à esquerda, na foto) como Smotrich, ministros e líderes de partidos políticos extremistas, que defendem oficialmente a destruição da Palestina, mantém Netanyuau sob ameaça de fazer cair o Governo se este acabar com a guerra cedo demais.

E cedo demais para falcões de guerra como Gvir e Smotrich é acabar com a guerra antes de expulsar os palestinianos de Gaza, garantir este território como um imenso puzzle de colonatos hebraicos e ter forças das IDF presentes em todos os seus cantos para garantir o extermínio dos combatentes do Hamas e da Jihad Islâmica.