Depois do ministro das Finanças, Bezalel Smootrch, um radical de direita, ter dito, a 06 de Maio, que Gaza será destruída e a sua população saíra do território voluntariamente por não aguentar as condições, o seu prognóstico surge agora plasmado neste documento da ONU.
Elaborado por várias agências das Nações Unidas em colaboração com organizações internacionais humanitárias, este relatório sobre a realidade vivida pela população em Gaza é o mais alarmante de todos os que já foram divulgados desde Outubro de 2023.
Uma em cada cinco pessoas vai morrer muito em breve se o bloqueio israelita a Gaza, que impede os milhares de camiões com comida e medicamentos, não for levantado, sendo que destas, uma percentagem alargada já não poderá ser salva devido ao seu debilitado estado.
Há dois meses que as forças de defesa de Israel (IDF) mantém o território de Gaza, uma área de escassos 365 kms2 onde residem 2,3 milhões de pessoas, totalmente bloqueado, como medida punitiva contra o Hamas.
O Hamas é o movimento de resistência, considerado terrorista pelos aliados ocidentais de Telavive, que a 07 de Outubro de 2023 lançou um ataque audaz ao sul de Israel onde deixou um rasto de morte, mais de mil pessoas morreram, fazendo cerca de 250 reféns (ver links em baixo).
Este ataque, recorde-se, é actualmente fonte de acesa polémica em Israel devido às suspeitas de conluio interno para permitir que tivesse lugar, porque isso era do interesse político do primeiro-ministro Benjamin Netanyhau (ver aqui).
A situação actual tem como histórico recente os mais de 52 mil pessoas mortas desde a invasão israelita iniciada a 08 de Outubro, horas depois do assalto do Hamas ao sul do país, a maioria crianças, mais de 25 mil, e mulheres e idosos, cerca de 15 mil (dados da ONU).
Num longo período de uma assimétrica guerra, onde Israel, o mais poderoso e mais moderno Exército do Médio Oriente, tem aniquilado milhares de civis para conseguir eliminar algumas centenas de militantes do Hamas, mais de 80% das infra-estruturas civis foram destruídas, incluindo todas as escolas e hospitais (dados da ONU) e, agora, pela voz do primeiro-ministro, está a ser preparada uma nova "entrada em Gaza com toda a força" militar.
Isto, quando nunca a situação foi tão dramática como agora, com todo o território, que compreende uma frente de mar de 40 kms por nove de largura, entre o Mediterrâneo, Israel e, a Sul, o Egipto, à beira da morte por penúria alimentar e na antecâmara de uma nova "invasão" pelas forças israelitas, que Benjamin Netanyhau garante serem dezenas de milhares de soldados prontos para entrar no território mais uma vez.
E tal pode acontecer quando 500 mil civis em Gaza podem morrer em dias, ou mesmo horas, encontrando-se no limite da classificação internacional criado pela Integrated Food Security Phase Classification (IPC) para se morrer de fome, avança a CNN Internacional.
Apesar dos esforços de parte da comunidade internacional, visto que os aliados europeus de Israel mantém uma postura de apoio incondicional a Telavive, independentemente da mortandade em Gaza, o objectivo verbalizado pelo ministro Bezalel Smootrich parece estar a consumar-se através do bloqueio iniciado a 02 de Março.
Bloqueio esse que Israel mantém a par dos bombardeamentos persistentes com recurso aos aviões de guerra fornecidos pelos Estados Unidos, os F-35, dos mais evoluídos em uso actualmente, e que, semanalmente geram dezenas de mortos e largas centenas de feridos.
Segundo o relatório agora divulgado, "apenas uma imediata cessão das hostilidades e a retoma acelerada da ajuda humanitária podem prevenir a chegada a um ponto da mais severa forma de fome e da subsequente catastrófica morte de milhares de pessoas".
Citado pela CNN Internacional, David Mencer, porta-voz do primeiro-ministro Benjamin Netanyhau, veio dizer já que este relatório é infundado e que a fome "nunca existiu em Gaza" devido à acção israelita e se existe "é porque o Hamas priva os cidadãos da ajuda humanitária".
A gravidade da situação é de tal monta que o próprio embaixador dos Estados Unidos, Mike Huckabee, veio defender publicamente que "existe mesmo uma crise humanitária" em Gaza, como o demonstra o facto de estar em curso um esforço internacional para lidar com esse mesma crise.
Um exemplo claro é o facto, como refere o documento, que até as 25 padarias geridas pelo Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas no território tiveram de fechar portas no início de Abril porque deixaram de ter fornecimento dos bens mais básicos para fazer pão.
Mas se dúvidas houvessem sobre a catastrófica situação em Gaza, as imagens, como a que acompanha este texto, que todos os dias inundam os media internacionais, apesar de Israel já ter matado cerca de 200 jornalistas em Gaza desde a invasão de Outubro de 2023, apagam essas dúvidas.
Recorde-se que a base histórica para a situação "apetada" de Gaza é a contínua expulsão de populações palestinianas para cantos da região desde que em 1948 foi criado o Estado hebraico, sendo a população de Gaza actual descendentes de refugiados que ainda no Século XX para ali foram empurrados a partir de zonas hoje integradas em Israel.
Essa a razão pela qual alguns países e entre grande parte da população árabe do Médio Oriente, o Hamas é um movimento de resistência à ocupação israelita e não um grupo terrorista, como o identificam os países ocidentais aliados de Telavive, embora uma boa parte da sua actividade seja igualmente contra civis israelitas, o que, de acordo com as normas internacionais, é terrorismo.
Mas o mesmo tipo de acusação é feita a Israel, como o demonstram as acusações feitas nos tribunais internacionais contra Israel por genocídio, com dezenas de países a subscreverem a acusação feita pela África do Sul, tendo o TPI e o TIJ já formalmente admitido essa prática em alguns momentos deste conflito, emitindo mesmo mandatos de captura para governantes israelitas, como Netanyhau, e dirigentes do Hamas.