Os EUA vão "anexar" Gaza, que passará a ser, provavelmente, como o é hoje Porto Rico, um seu território ultramarino, que Donald Trump promete reerguer das cinzas, ao fim de 15 meses de total destruição pelas bombas israelitas, desde que consiga livrar-se dos 2,3 milhões de habitantes.
Numa conferência de imprensa em Washington, ao lado do primeiro-ministro Benjamin Netanyhau, o Presidente norte-americano prometeu limpar gaza, demolir o que ainda ficou de pé, "porque pode esconder perigos", que proporcionará "milhares de empregos e habitação".
Para isso conta que a Jordânia e o Egipto mudem de opinião e aceitem receber nos seus desertos os 2,3 milhões de palestinianos que habitam na Faixa de Gaza, um território com 365 kms2, com uma faixa de 40 kms ao longo do Mar Mediterrâneo, com 9 kms de largura.
Na primeira abordagem à possibilidade de uma "anexação" de Gaza, embora sem que tenham sido definidos os termos da "posse" pelos EUA, Donald Trump, gerando polémica global, falou do território, no seguimento da ideia de anexação do Canadá e da Gronelândia, na perspectiva de um construtor civil: um sítio fantástico à beira mar para construir resorts.
Agora, aproveitando a presença de Netanyhau em Washington, Trump foi mais longe e disse haver apenas uma forma de resolver o problema de Gaza, que é assumir o seu controlo em nome dos EUA, prometendo fazer de um "local demolido" uma espécie de paraíso habitacional à beira mar.
Se for preciso enviar uma força militar para garantir que o trabalho é feito sem oposição, o Presidente norte-americano não afastou essa possibilidade, sublinhando que "se for preciso assim será feito", porque o mais importante é fazer de Gaza "a Riviera (uma alusão à costa do sul de França ou de Itália) do Médio Oriente".
Se essa força militar será apenas para garantir a segurança do trabalho de reconstrução em Gaza ou se terá como missão abrir o caminho para a relocalização dos milhões de cidadãos do território para os desertos do Egipto e da Jordânia, não esclareceu.
Esta ideia de Trump tem recebido forte contestação dos países da região, além da Jordânia e do Egipto, e a Amnistia Internacional já veio sublinhar que se trata de um atentado aos direitos humanos dos palestinianos de Gaza e a sua "destruição enquanto povo", que serias concluir o trabalho iniciado por Israel, tendo Netanyhau, na ocasião, brindado Trump como "o melhor amigo que Israel alguma vez na Casa Branca".
E a senadora norte-american Rashida Tlaib, expressou a ideia que é partilhada por quase todas as organizações de defesa dos direitos humanos, acusando o Presidente dos EUA de estar a "promover uma limpeza étnica" em Gaza.
A expulsão dos palestinianos de Gaza, porque só dali sairão se forem a isso obrigados por um forte contingente militar, seria o equivalente a negar a criação de um Estado palestiniano como é decisão de várias resoluções das Nações Unidas, e a Arábia Saudita apressou-se, pela voz do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Faisal bin Farhan al Saud, a sublinhar que Riade continua a defender com firmeza a criação de um Estado palestiniano, acrescentando que sem a defesa dos "legítimos direitos dos palestinianos não haverá paz" no Médio Oriente.
Na mesma linha, mas optando pela ironia, Riyad Mansour, o embaixador palestiniano nas Nações Unidas, disse que era uma boa ideia Trump querer que os palestinianos tenham à sua beira um pedaço de terra "bom, bonito e fresco", lembrando que isso se resolve "obrigando os israelitas a deixarem os palestinianos a voltarem para as suas terras dentro de Israel".
"Os palestinianos querem voltar para Gaza, reconstruir as suas casas, escolas, hospitais e infra-estruturas porque é o seu país, é onde pertencem e querem viver. Os lideres internacionais devem e têm de respeitar a vontade do povo palestiniano", apontou ainda Ryad Mansour.
Recorde-se que ao fim de mais de 15 meses de invasão israelita de Gaza, há oficialmente confirmados 46 mil mortos, suspeitando-se que dezenas de milhares venham a ser encontrados com a remoção dos escombros, mais de 150 mil feridos, não havendo, como Trump sublinhou, nenhum edifício, civil ou estatal, que não tenha sido demolido ou precise de o ser por questões de segurança.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyhau, está, a par do seu antigo ministro da Defesa, Yoav Gallant, a ser acusado pelos tribunais internacionais de Justiça de genocídio em Gaza, tendo mesmo sido emitido um mandato internacional de captura pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), bem como os líderes do Hamas.
A invasão e destruição sem paralelo de Gaza começou no dia seguinte ao assalto do Hamas e da JIhad Islâmica ao sul de Israel, a 07 de Outubro de 2023, que abriu muitas suspeitas de conluio interno em Israel (ver links em baixo), tendo resultado em mais de 1.000 mortos em Israel, centenas de feridos e cerca de 250 reféns conduzidos para Gaza.