As tréguas que agora chegam ao fim e que permitiram, nas últimas semanas, a mais de dois milhões de palestinianos experimentarem o doce, mas esquivo, aroma da paz, não significam apenas o retomar do genocídio israelita, como assim o entendem os tribunais de justiça internacional, também regressou o bloqueio à ajuda alimentar e médica, o que pode significar uma nova catástrofe humanitária naquele território.

Entre as vítimas deste retomar dos ataques israelitas sobre Gaza, que desde 07 de Outubro de 2023 já fez mais de 45 mil mortos e centenas de milhares de feridos no território (ver links em baixo), estão quatro chefes militares do Hamas, mas a esmagadora maioria dos mortos e feridos são os mesmos de sempre: crianças, mulheres e idosos.

Por detrás deste estilhaçar das tréguas que duraram mais de um mês está o desentendimento entre o Hamas e Israel sobre o calendário e o ritmo de libertação de reféns que o movimento islâmico fez aquando do ataque ao sul de Israel, a 07 de Outubro de 2023, e dos deveres de Telavive contidos nesse mesmo acordo, com três fases, sendo que o processo é interrompido antes do início da segunda, que levaria as forças israelitas para fora de Gaza.

O número de mortos e feridos confirmados pelas autoridades de Gaza, corroborados pelas agências da ONU no terreno, deve aumentar substancialmente nas próximas horas com o continuar das operações de socorro entre os escombros e com o esperado continuar dos bombardeamentos da aviação de guerra israelita.

Além dos bombardeamentos, as forças israelitas voltaram igualmente a bloquear todos os acessos ao território impedindo a entrada da ajuda humanitária, essencial para impedir que a fome e as doenças continuem a matar mesmo após se deixar de ouvir o ribombar dos bombardeamentos.

E os Estados Unidos da América, incondicional aliado de Israel e fornecedor do armamento usado para atacar Gaza, especialmente os seus sofisticados aviões F-35 e misseis guiados, já vieram informar que apoiam totalmente este abrupto interromper do cessar-fogo.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, que tem vindo a público lamentar a perda de milhares de vidas de "belos e fantásticos jovens russos e ucranianos", na guerra da Ucrânia, pedindo que aquele conflito termine, neste caso parece que a vida das crianças palestinianas não tem o mesmo valor, como se percebe ao dizer que apoia totalmente Israel neste regresso aos ataques sobre um território quase totalmente indefeso.

Trump, que esta terça-feira, 18, volta a falar ao telefone com o Presidente russos, Vladimir Putin, para acabar com a guerra no leste europeu, acusa mesmo o Hamas pelo retomar dos ataques de Israel ao recusar, alegadamente, entregar os reféns que ainda tem na sua posse, sendo que o Hamas refuta essa acusação, apontando a responsabilidade a Israel por não cumprir a sua parte do acordo.

Entre outros aspectos, o Hamas acusa Israel de não abandonar, como combinado, a ocupação de partes do território de Gaza e do afunilamento do levantamento do bloqueio a Gaza que está a não permitir às populações ter acesso à ajuda humanitária definida no acordo.

Como se não bastasse, de Telavive, o Governo de Benjamin Netanyhau já lançou avisos para que as populações que estão em várias áreas de Gaza saiam dali porque os ataques vão continuar.

No entanto, como estão a noticiar vários media, incluindo norte-americanos, como a Associated Press, ou britânicos, como The Guardian, este retomar dos ataques sobre Gaza está, como se desconfia que tenha sido o caso desde 07 de Outubro de 2023, ligado a questões sensíveis da política interna de Israel onde o primeiro-ministro Benjamin Netanyhau surge outra vez como suspeito em ilegalidades graves no contexto dos ataques do Hamas.

Depois de ter sido acusado de corrupção e peculato, em vários processos judiciais que só a guerra impediu de terem sido concluídos, e de suspeitas de conluio interno para permitir o ataque do Hamas há cerca de ano e meio, que fez mais de mil mortos em Israel, o que terá servido para justificar a invasão, Netanyhau está agora de novo sob as atenções dos media israelitas.

Desta feita, depois de terem sido divulgadas notícias em Israel sobre o conluio interno envolvendo Netanyhau para obter ganhos materiais e políticos com o apoio financeiro do Catar ao Hamas, o chefe do Governo israelita veio publicamente anunciar que vai demitir Ronen Bar, o chefe da secreta interna, Shin Bet.

O mesmo Ronen Bar que está sob brasas desde pelo menos meados de 2024, igualmente por lhe terem sido exigidas explicações sobre como é que a sua organização, considerada como uma das mais eficazes em todo o mundo, não percebeu que o país ia ser atacado por uma força do Hamas.

Força essa que esteve a preparar essa operação durante meses, sem que sequer no dia em que milhares de combatentes entraram em Israel os sofisticados sistemas de vigilância de fronteiras tivessem dado o alerta.

E quando o cerco se volta a apetar sobre Benjamin Netanyhau, a guerra volta a ser o elemento de distracção que lhe permite escapar do chão abrasivo que estava prestes a pisar com o líder da oposição israelita, Yar Lapid, a vir a público anunciar que vai "desafiar" a decisão de demitir o chefe do Shin Bet nos tribunais e o antigo primeiro-ministro, Ehud Barak acusou-o de ter "ido longe demais" e estar claramente a "rebelar-se contra o Estado de Direito".