A informação foi avançada por Donald Trump este Domingo e a meio da manhã desta segunda-feira, 17, o Kremlin, através do seu porta-voz, Dmitri Peskov, veio confirmar que os dois Presidentes vão mesmo falar.
Até porque em Moscovo essa conversa já tinha sido admitida por Peskov, estado em falta apenas, até agora, definir dia e hora, o que foi feito pelo homem forte da Casa Branca, simbolicamente a partir do interior do Air Force 1, e pelo Kremlin.
O facto de os russos terem demorado a libertar a confirmação do "timing" anunciado por Trump para os dois homens conversarem de novo, mostra com sólida segurança que russos e norte-americanos não estavam totalmente de acordo sobre todos os temas da agenda.
Até porque Donald Trump, quando se referiu a esta conversa, apontou apenas como alínea confirmada a guerra na Ucrânia, que insiste querer ver terminada rapidamente, mas é pouco razoável pensar que esse poderá ser o tema único de uma conversa com Putin.
Até porque esta sucede cerca de um mês depois de terem, numa conversa histórica, falado durante hora e meia, pondo fim a quase três anos de relações entre EUA e Rússia reduzidas quase a zero devido à guerra na Ucrânia.
Até ao momento, e depois do encontro, há uma semana, em Jeddah, Arábia Saudita, entre as delegações dos EUA, liderada pelo secretário de Estado, Marco Rubio, e da Ucrânia, sob comando de Andrii Yermak, Chefe de Gabinete do Presidente Volodymyr Zelensky, apenas existe um compromisso entre Washingtom e Kiev para um cessar-fogo.
Isto, porque os russos, como Putin explicou pouco depois (ver links em baixo), apesar de concordarem com o princípio do cessar-fogo, estão longe de aceitar as condições conhecidas a partir do encontro entre americanos e ucranianos.
Para Kiev, o cessar-fogo deve começar o mais depressa possível, acompanhado do reforço do apoio militar ocidental à Ucrânia e o envio de uma força militar dos países da NATO para a linha da frente de forma a vigiar a sua implementação, contando já com a disponibilidade de britânicos e franceses para o envio de 30 mil soldados europeus com essa tarefa.ver
Já a Rússia, vincou Putin, quer ver garantidas algumas condições, que são as mesas de há largos meses, para parar as hostilidades, ainda por cima quando está em vantagem substancial na frente de guerra.
Desde logo que as cinco regiões anexadas em 2014 (Crimeia) e em 2022 (Kherson, Zaporizhia, Lugansk e Donetsk) sejam reconhecidas como parte da Federação Russa por Kiev, que a Ucrânia desista solidamente da pretensão de integrar a NATO, e, entre outras menos relevantes do ponto de vista internacional, que fique claro que não haverá deslocação de forças ocidentais para a Ucrânia nem o envio de mais armas para Kiev nesse período.
A esta posição, Volodymyr Zelensky reagiu com severidade acusando Putin de estar a criar dificuldades artificiais para não aceitar parar o conflito, mantendo a aposta na presença de uma força ocidental como garante do cumprimento do acordo de cessar-fogo, acrescentando que quaisquer violações, como o Kremlin também quer ver garantido, podem ser vigiadas a partir dos satélites dos Estados Unidos.
Além disso, parece cada vez mais que Putin só disse que "sim, mas..." para não fazer descarrilar o processo de normalização das relações com os americanos, porque, como aponta o analista militar português, major general Agostinho Costa, as condições saídad de Jeddah só beneficiariam os ucranianos...
Em Washington isso parece estar a ser considerado, porque o conselheiro para a Segurança Nacional de Trum, Mike Waltz, já veio dizer que a Ucrânia tem de estar preparada para tomar decisões difíceis, sendo que uma delas é aceitar que não vai regressar às suas fronteiras de 1991, aquando da independência da então União Soviética.
Disse ainda que a questão da adesão de Kiev à NATO está fora da agenda definitivamente, o que era uma das razões mais fortes para a invasão russa da Ucrânia em Fevereiro de 2022.
Mas entre os aliados europeus de Kiev, a posição é claramente em sentido oposto, como fica claro quando Kaja Kallas, a chefe da diplomacia da União Europeia, vem dizer, já esta segunda-feira, 17, que "a Rússia não quer a paz" explicando que se Putin quisesse mesmo parar a guerra não teria como condições para o cessar-fogo "todos os objectivos traçados para esta guerra" desde o início
Os blindados russos avançaram sobre as fronteiras ucranianas a 24 de Fevereiro de 2022 depois de uma guerra entre as forças leais a Kiev e os independentistas do Donbass, que emergiu do golpe de Estado apoiado pelos EUA que derrubou o Presidente pró-russo, Viktor Yanukovich, em 2014.
Com este contexto em pano de fundo, Donald Trump, a partir do Air Firce 1, afirmou, citado pelas agências, que é possível que algo de produtivo sobre o fim do conflito possa ser anunciado na terça-feira.
"Veremos se teremos algo para dizer na terça-feira, quando terei uma conversa com o Presidente Putin. Já fizemos muito trabalho neste fim-de-semana e agora va,os ver se podemos levar esta guerra para o seu fim.", disse Trump, acrescentando que a conversa será ainda sobre terra e sobre energia.
No entanto, alguns analistas apontam como pouco provável que Moscovo aceite parar as hostilidades sem ver correspondidas as suas exigências mais salientes, como a questão da NATO, dos territórios e da presença de forças ocidentais, quando tem, demonstrado pelas evidências, uma forte vantagem na linha da frente do conflito.
Além disso, estas negociações surgem quando as forças russas acabam de infligir uma pesada derrota a Kiev em Kursk, a região russa parcialmente ocupada pelos ucranianos desde Agosto do ano passado, tendo retomado totalmente aquele território, com uma gigantesca perda de equipamento militar ocidental que as forças de Kiev deixaram para trás, além de pesadas baixas.