E quando esta terça-feira, 18, os Presidentes dos EUA e da Rússia estiverem a falar ao telefone, estas certezas também estarão na cabeça de um e de outro, o que faz da tarefa de Donald Trump mais difícil que a de Vladimir Putin.

Isto, porque ambos conhecem as condições (ver links em baixo) mesmo sem falar delas, deixando nas mãos do norte-americano a missão impossível de conduzir o russo para a condição de ter de negociar e ceder parte daquilo que Moscovo já considerou inegociável e do qual não vai abrir mão.

O que poderá então Donald Trump dizer e propor a Vladimir Putin que o leve a abrir mão de parte dos territórios que são hoje, depois da anexação formal das regiões de Zaporizhia, Kherson, Lugansk e Donetsk, em 2022, já para não falar da Crimeia, em 2022?

O que terá o Presidente norte-americano na manga como trunfo para "obrigar" o chefe do Kremlin a deixar cair parte das condições sobre a presença de tropas ocidentais na Ucrânia para vigiar o eventual cessar-fogo ou da adesão de Kiev à NATO?

A resposta parece complexa mas não é: se a adesão de Kiev à NATO não é sequer tema de discussão, a questão da presença de tropas europeias na Ucrânia também não chegará sequer à mesa das negociações.

Mas o mesmo não acontece com o que está dentro dos territórios anexados pela Rússia, o que pode ser a porta de saída, o "cisne negro" encontrado por Donald Trump e a sua equipa de estrategas numa ninhada de vulgares cisnes brancos.

E parece que é mesmo essa a saída para pelo menos iniciar conversações, até porque já existe um precedente e ainda por cima criado pela Ucrânia a contento da Federação Russa, sobre o qual o próprio Donald Trump já falou.

"Vamos falar de territórios e de centrais de produção de energia", disse Trump na antevisão da conversa com o seu homólogo russo.

Tal como, depois da independência da Ucrânia da então União Soviética, em 1991, Kiev permitiu aos russos manterem a base naval de Sebastopol, na Crimeia, para albergar a sua Frota do Mar Negro, elemento estratégico da Marinha de Guerra da Rússia, também, agora, por proposta de Washington, os russos podem ceder a parte do território onde está a Central Nuclear de Zaporizhia, na região de Zaporizhia, anexada pelos russos em 2022.

Ou seja, nesta conversa, pressupondo que o Presidente ucraniano já terá concordado com isso, para desanuviar o "clima", Trump vai propor a Putin abrir mão de parte da região de Zaporizhia, voltando a Central Nuclear, a maior da Europa, com seis gigantescos reactores, a produzir energia para os ucranianos, num momento em que se perspectiva a reconstrução di país no pós-guerra e a energia que dali sairá será de vital importância.

E se este trunfo que Trump tem na manga resultar, a mesma fórmula poderá resultar para as outras regiões anexadas pelos russos, em Donetsk e Lugansk, onde existe igualmente um elemento de troca poderoso, que são os minérios estratégicos, como as já famosas "terras raras", que tanto fazem falta aos EUA para as suas indústrias tecnológicas 2.0.

Ou seja, o que Donald Trump vai propor a Vladimir Putin é que, com base nestas moedas de troca, o Kremlin aceite desanexar parte das regiões que são, agora, mesmo que a comunidade internacional não o reconheça, parte integral da Rússia, aceitando Kiev que o restante destas regiões e a Crimeia são reconhecidamente parte da Rússia, além de que a questão da NATO e da presença de tropas europeias para vigiar as tréguas são cartas fora do baralho.

Para o resto do processo negocial, que será, seguramente longo, difícil e complexo, ficará assim, do lado russo, a questão da dimensão do Exército ucraniano, eventualmente acesso privilegiado a portos ucranianos, a questão do respeito pela cultura, língua e religião russas e o desmantelamento das forças neonazis organizadas no que restar da Ucrânia do pós-guerra.

E do lado ucraniano, a questão do pagamento pelos russos de parte substantiva da reconstrução do país, do restabelecimento do fornecimento de energia, eventualmente a custo zero durante décadas, e, entre outros, da modernização da sua infra-estrutura energética, rodoviária e ferroviária destruída pelos misseis russos nestes mais de três anos de guerra.

Este cozinhado negocial, se alguns analistas ouvidos pelo Novo Jornal, tiverem acertado nos seus condimentos, poderá, no entanto, ser estragado se os países da Europa ocidental, com destaque para britânicos e franceses, mantiverem acesa a chama da criação de uma força multinacional para enviar para a Ucrânia, que terá, como adverte o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, que ser aceite pelo Presidente russo "quer ele queira quer não".

É que, como já chegaram avisos de Moscovo, especialmente do antigo Presidente e actual vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, e homem de confiança de Putin, Dmitri Medvedev, no dia em que essas forças europeias entrarem na Ucrânia, se isso vir a acontecer, serão "esmagadas" pelas armas russas.

A esperança é que o "corajoso" primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e o Presidente francês, Emmanuel Macron, que segue a mesma linha, admitem, sempre que fazem estas ameaças, que elas só são materializáveis se contarem com garantias de segurança dos Estados Unidos da América.

E, para já, Washington, sob liderança da Administração Trump, está mais virada para virar as costas à Europa ocidental que entrar neste jogo perigoso, que seria, definitivamente, o início de uma catastrófica III Guerra Mundial, proposto por Starmer, Macron e as lideranças da União Europeia, com a alemã Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, à frente.