Numa reunião extraordinária que teve lugar em Londres, organizada pelo incondicional aliado de KIev, o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, este fim-de-semana, ficou claro que é verdade que os europeus estão com Zelensky mas qualquer passo além do verbo só com apoio dos Estados Unidos.
A internet encheu-se de frases flamejantes de apoio a Zelensky escritas pelos lideres europeus, depois da humilhação na Casa Branca que sofreu após, na Sala Oval, ter tentado encostar o próprio Presidente Donald Trump e o seu vice, JD Vance, com a imposição de garantias de segurança contra a Rússia a troco de um acordo de porta aberta aos EUA para explorarem os minerais estratégicos no solo ucraniano, quando Washington já tinha descartado repetidamente essa possibilidade.
E se a reunião de Londres terminou como muitos analistas tinham previsto, com um "flop" flagrante porque a Europa ocidental não quer nem tem como fazer frente aos russos sem a retaguarda protegida pelos EUA, com o primeiro-ministro britânico a dizê-lo sem margem para dúvidas, falando da incontornabilidade de ter de contar com Washington para enviar forças para a Ucrânia.
O Reino Unido e a França, numa retórica já antes tentada, voltaram a falar em enviar forças para a Ucrânia com ou sem a concordância da Rússia, mas tal foi sempre dito no pressuposto de que a Casa Branca poderá mudar a agulha da sua diplomacia actual que é recuperar as relações diplomáticas com Moscovo e definir um plano de paz com o Kremlin, deixando os europeus e a própria Ucrânia à margem...
Após a ruidosa visita de Zelensky à Casa Branca, de onde foi literalmente expulso, a par da sua comitiva, deixando a embaixadora de Kiev nos EUA em lágrimas, em Moscovo, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov já veio sublinhar que russos e americanos estão alinhados na sua diplomacia e que Zelensky não conta, tendo mesmo este afirmado que o Presidente ucraniano "tem um aspecto muito pouco saudável".
Apesar deste contexto onde europeus e a Ucrânia parecem não ter espaço de manobra par ir além do verbo no apoio a Kiev, e voltar a aprovar pacotes de ajuda financeira que em nada vão mudar o desfecho do conflito, o Presidente francês, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, tiraram um coelho da cartola ao propor uma trégua de um mês na guerra.
Segundo a proposta, esta trégua teria de ser aplicada em terá, ar e mar, contemplando as infra-estruturas energéticas, o que parece surgir em concluiu com Kiev, visto que, mesmo durante as reuniões de Washington e de Londres, os ucranianos voltaram a atacar o oleoduto que, apesar de estar em solo russo, transporta crude do Cazaquistão para a Turquia e para o leste europeu, sendo mesmo o último do género ainda activo.
Esta proposta franco-britânica, que remete, mais uma vez, a União Europeia para um plano secundário, aparece, curiosamente quando o Kremlin tinha dito pouco antes, após a visita de Zelensky a Washington, que poderia sentar-se à mesa com os europeus no âmbito da definição de um acordo de paz.
Mas os russos não admitem qualquer cessar-fogo antes de que um acordo de paz definitivo e alargado, com base nas conversações que decorrem actualmente na Turquia com os norte-americanos, porque, já explicou com repetida insistência o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, "parar o conflito serviria apenas para os ucranianos serem rearmados pelos europeus".
Apesar de tudo estar a correr mal para Zelensky, face a um iminente corte do apio de Washington, que já está em curos no que toca a financiamentos em dinheiro e pode suceder em armamento a qualquer momento, este veio, após o "meeting de Londres, afirmar que esta a trabalhar com os seus parceiros europeus para alcançar uma "paz justa" assente nma "base consolidada"
Mas foi de novo nesta ocasião que os analistas menos alinhados com Kiev perceberam sem margem para dúvidas que o encontro de Londres não foi mais que uma forma de aconchegar Zelensky após a má experiência na Casa Branca, porque o próprio não tem dúvidas de que sem os EUA não há forma de conseguir resistir à força russa que avança no leste europeu.
"Estamos a trabalhar conjuntamente com os parceiros europeus para organizar uma base sólida de cooperação com os Estados Unidos para garantir uma paz justa e com segurança", foi dizer Zelensky para as redes sociais após o encontro da capital britânica.
Como lembra a Lusa, na mensagem nas redes sociais, Zelensky explicou que a Ucrânia está a discutir com os seus parceiros representados em Londres na cimeira, a criação de "garantias de segurança e condições para uma paz justa para a Ucrânia".
Uma das questões que irritou Trump e Vance na visita de Zelensky, recorde-se, foi a sua insistência na necessidade de - antes de ser declarado um cessar-fogo com a Rússia - serem clarificadas as garantias de segurança que a Ucrânia receberá para que qualquer acordo de paz seja respeitado.
De acordo com o primeiro-ministro britânico, o Reino Unido e a França irão trabalhar com a Ucrânia numa proposta para acabar com a guerra, incluindo as garantias de segurança exigidas por Kiev, e apresentá-la aos EUA com vista a negociar com os russos a partir de uma posição comum.
É ainda de lembrar igualmente que os EUA querem ver Zelensky a pedir desculpa em público pelo "confronto verbal" com Trump na Casa Branca, depois do degradante momento para a política global protagonizado por Volodymyr Zelensky e Donald Trump a discordarem agressivamente sobre a realidade da guerra.
O líder ucraniano devia "pedir desculpa por estar a desperdiçar o nosso tempo com uma reunião que terminou assim", disse o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, horas depois do confronto entre os dois Presidentes, que acabou com Zelensky a ser "convidado" a sair da Casa Branca.
"Detalhámos muito claramente qual é o nosso plano, que é levar os russos à mesa das negociações", disse Rubio, em entrevista à televisão norte-americana CNN, citada pela Lusa.
"Em todos os compromissos que tivemos com os ucranianos, houve complicações, incluindo as declarações públicas do Presidente Zelensky", acrescentou Rubio, questionando a disponibilidade do Presidente ucraniano "para atingir a paz".
"Talvez ele não queira um acordo de paz. Diz que quer um, mas talvez não queira", apontou ainda Rubio, acrescentando que "este enfraquecimento dos esforços para alcançar a paz é muito frustrante".
Numa entrevista à televisão norte-americana Fox News depois do confronto, Zelensky rejeitou dever um pedido de desculpas a Trump. E até esta segunda-feira, 03, ainda não o fez, pelo menos de forma a satisfazer a Administração norte-americana.
A assinatura de um acordo sobre os minerais, hidrocarbonetos e infra-estruturas ucranianas, para a qual o chefe de Estado da Ucrânia se tinha deslocado a Washington, que era a exigência dos EUA para se ressarcirem dos, segundo Trump, 350 mil milhões USD atirados para a Ucrânia sem contrapartidas, não se realizou.
Trump acusou também o homólogo ucraniano de ter "faltado ao respeito aos Estados Unidos" na Sala Oval, sublinhando que Washington deu à Ucrânia muito dinheiro e que ele "devia estar mais grato".