Mas há mais que esse "follow up" a dar lastro à conversa Putin/Trump, desde logo pela desvalorização dos europeus de acordos sobre o conflito sem a sua presença e sem a participação da Ucrânia.

Mas o que mais revigorou a chama mediática deste processo negocial entre russos e norte-americanos para acabar com a guerra na Ucrânia, sendo que esse não foi assunto único da conversa, foi o facto de no "minuto" seguinte ao acordo de cessar-fogo parcial sobre o sector energético, Kiev e Moscovo virem a público usar-se mutuamente da sua violação grosseira.

Do lado ucraniano, a questão enfatizada é a falta de boa vontade dos russos, porque, logo a seguir ao anúncio do acordo, lançaram ataques com misseis e drones sobre alvos em cidades ucranianas.

Kiev diz terem sido atingidos dois hospitais e Moscovo admite apenas alvos militares, como, de resto, sempre acontece nas versões oficiais dos dois lados, que é os ucranianos só falarem em mortos civis em áreas civis e os russos apenas admitirem que apenas foram atingidos alvos de importância militar.

Mas da parte russa, a acusação incide sobre um ataque ucraniano directamente sobre uma infra-estrutura energética, que está inserida nas excepções previstas na trégua parcial acordada entre Trump e Putin e que o russo confirmou dando ordem para que as infra-estruturas energéticas ucranianas saíssem da lista de alvos das forças de Moscovo.

O Ministério da Defesa russo refere que os ucranianos atacaram uma unidade de unidade de transferência de crude na região de Kerasnodar que serve um oleoduto internacional detido por investidores norte-americanos.

Este episódio mostra que os ucranianos pretendiam com este ataque fazer desmoronar as negociações russo-americanas ou que os russos ficcionaram um ataque de forma a acusar Kiev, com semelhante objectivo, o de fazer descarrilar o processo negocial.

Segundo avançam os russos, o ataque ucraniano envolveu três drones kamikaze e incidiu sobre uma estação de transferência de petróleo bruto de comboios-cisterna para um oleoduto que pertence a um Consórcio do Oleoduto do Mar Cáspio (CPC) que é detido pelos gigantes norte-americanos Mobil e Chevron.

Esta infra-estrutura, o CPC, leva para ocidente crude do Cazaquistão através de território russo e já esteve na mira de drones de Kiev noutras ocasiões recentes, com diversos reservatórios a ficarem em chamas durante longas horas.

Apesar de dúvidas persistentes, alguns analistas notam que apenas aos ucranianos serviria como propósito fazer descarrilar o acordo e as negociações do próximo Domingo entre russos e americanos, considerando como válido em diplomacia e geoestratégia a frase conhecida que diz que "quem não está sentado à mesa, faz parte do menu"...

E Kiev e os seus aliados da União Europeia, também não estiveram sentado à mesa, apesar de tanto uns como outros terem feito forte pressão para serem convidados, para já com a recusa de Moscovo sob a justificação de que são parceiros na guerra e não na criação de condições para a faz.

Volodymyr Zelensky veio mesmo acusar Putin de não conseguir encaixar as suas palavras nas suas acções, aludindo aos ataques que se seguiram à conversa e ao acordo parcial com Trump à cidade de Sumi, no nordeste ucraniano, onde foram destruídas, diz, "equipamentos urbanos comuns", de transporte e hospitalares.

E é isso mesmo que o Presidente ucraniano deverá querer dizer a Donald Trump numa conversa telefónica que alegadamente deverá ter lugar nas próximas horas, segundo Volodymyr Zelensky.

Nesta conversa, que a Casa Branca ainda não tinha confirmado a meio da tarde desta quarta-feira, 19, o Presidente ucraniano vai "explicar a Donald Trump que os ucranianos querem acabar com a guerra o mais depressa possível", embora isso não possa ser feito sem serem ouvidos.