O líder ucraniano devia "pedir desculpa por estar a desperdiçar o nosso tempo com uma reunião que terminou assim", disse o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, horas depois do confronto entre os dois Presidentes, que acabou com Zelensky a ser "convidado" a sair da Casa Branca.

"Detalhámos muito claramente qual é o nosso plano, que é levar os russos à mesa das negociações", disse Rubio, em entrevista à televisão norte-americana CNN, citada pela Lusa.

"Em todos os compromissos que tivemos com os ucranianos, houve complicações, incluindo as declarações públicas do Presidente Zelensky", acrescentou Rubio, questionando a disponibilidade do Presidente ucraniano "para atingir a paz".

"Talvez ele não queira um acordo de paz. Diz que quer um, mas talvez não queira", apontou ainda Rubio, acrescentando que "este enfraquecimento dos esforços para alcançar a paz é muito frustrante".

Numa entrevista à televisão norte-americana Fox News depois do confronto, Zelensky rejeitou dever um pedido de desculpas a Trump.

"Penso que temos de ser muito abertos e honestos, e não tenho a certeza de que tenhamos feito algo de errado", disse o Presidente ucraniano. "Respeito o Presidente [Trump] e respeito o povo americano", acrescentou, ainda citado pela Lusa.

Estas declarações surgiram horas depois de um confronto verbal na Casa Branca, durante o qual Trump, erguendo a voz, ameaçou abandonar a Ucrânia se Zelensky não fizer concessões à Rússia.

"Ele pode voltar quando estiver pronto para a paz", sublinhou Trump numa mensagem na sua rede social, Truth Social, segundo a Lusa e o jornal Público.

A assinatura de um acordo sobre os minerais, hidrocarbonetos e infra-estruturas ucranianas, para a qual o chefe de Estado da Ucrânia se tinha deslocado a Washington, não se realizou.

Trump acusou também o homólogo ucraniano de ter "faltado ao respeito aos Estados Unidos" na Sala Oval, sublinhando que Washington deu à Ucrânia muito dinheiro e que ele "devia estar mais grato".

Na sequência da altercação, os líderes da União Europeia, Canadá e numerosos países declararam publicamente apoio a Zelensky e a uma paz "justa e duradoura" com a Rússia.

Na sexta-feira, o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, garantiu a Kiev o seu "apoio inabalável", sublinhando que já falou com Trump e Zelensky.

Já hoje, o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, disse que o país "apoiará a Ucrânia" durante o tempo que for necessário.

"Desrespeito"" no Salão Oval da Casa Branca

O Presidente norte-americano, Donald Trump, e o seu 'vice', JD Vance, acusaram o líder ucraniano de ser "desrespeitoso" numa reunião no Salão Oval, enquanto Volodymyr Zelensky pedia compromissos de segurança de Washington.

Donald Trump e Volodymyr Zelensky tiveram uma conversa extremamente tensa diante da imprensa no Salão Oval da Casa Branca na sexta-feira, 28.

Trump que disse que seria "muito difícil" negociar com Zelensky, afirmou que o líder ucraniano deveria ser "grato" após ter-se colocado "numa posição muito má" e assegurou que não tinha "as cartas na mão".

"Você está a apostar com as vidas de milhões de pessoas", acusou Trump.

"Você está a apostar com a Terceira Guerra Mundial e o que você está a fazer é muito desrespeitoso com o país, este país que o apoiou muito mais do que muitas pessoas dizem que deveria ter sido feito", acrescentou o chefe de Estado norte-americano.

O vice-presidente JD Vance, também presente no Salão Oval, acusou igualmente Zelensky de "desrespeitar" os norte-americanos.

Donald Trump alertou o seu homólogo ucraniano que ele teria que fazer "compromissos", enquanto Zelensky rejeitou fazê-lo com "o assassino" Vladimir Putin.

"Não há acordo sem compromisso. Então, definitivamente haverá alguns compromissos, mas espero que não sejam tão grandes quanto algumas pessoas pensam", disse Trump aos repórteres ao receber Zelensky no Salão Oval.

O Presidente ucraniano garantiu que a Ucrânia "não faria concessões a um assassino", referindo-se ao Presidente russo.

"Acho que o Presidente Trump está do nosso lado", acrescentou.

Trump também disse que um cessar-fogo entre a Ucrânia e a Rússia estava "razoavelmente próximo" e comemorou um "acordo muito justo" sobre os recursos minerais da Ucrânia.

Entretanto, após a batalha verbal na Casa Branca, os aliados europeus de Kiev saíram a terreiro para consolidar a sua solidariedade com Zelensky, abrindo claramente uma brecha nas historicamente sólidas relações entre a Europa ocidental e os EUA.

De Portugal à Escandinávia, passando pelas lideranças da União Europeia, a posição, embora vários países tenham evitado pronunciar-se, especialmente alguns do leste europeu, como a Hungria ou a Eslováquia, a norma foi manifestar apoio a Kiev, naquilo que pode ser visto em Washington como um desafio cujas consequências ainda é cedo para perceber.

E Volodymyr Zelensky já veio afirmar em entrevista aos media norte-americanos que se os EUA não lhe derem as garantias de defesa que precisa, que estava a contar poder trocar pelo acordo de exploração de minérios estratégicos, as famosas `terras raras', pelos EUA, conta com os europeus para o fazerem.